quarta-feira, 25 de março de 2020

5 carros que uma adaptação de motor de moto até 250cc poderia dar certo

Um tipo de adaptação que tem ganhado bastante visibilidade nos últimos anos, principalmente devido à exposição no YouTube, a adaptação de motores de moto em automóveis pode ser uma alternativa de custo/benefício razoável em algumas situações. Seja no caso de modelos antigos que apesar de terem uma mecânica com a qual há uma grande familiaridade por parte da assistência técnica independente sofrem com o estigma de "carro velho" e o preconceito como se fossem sempre inerentemente mais "poluidores" do que um 0km, seja no de alguns importados que atualmente permanecem em operação com toda sorte de adaptações devido à escassez de peças originais ou custo excessivo das mesmas, não faltam eventuais pretextos para considerar um motor de motocicleta até 250cc uma solução ao menos suficientemente prática. Dentre tantos modelos que poderiam ser beneficiados com tal recurso, ao menos 5 são dignos de uma menção especial.

1 - Towner: a microvan sul-coreana da extinta Asia Motors, que teve a importação oficial entre '93 e '99 quando a fabricante faliu, chegou a ter a produção continuada por mais uns anos pela Kia mas sem retornar ao mercado brasileiro. A princípio o baixo peso e o desempenho já bastante modesto do motor de 0.8L e 3 cilindros em linha fazem com que, considerando as curvas de potência e torque e como podem ser aproveitadas com uma relação de marcha adequada, algum motor de 250cc da Honda ou da Yamaha por exemplo sejam uma boa opção também pela disponibilidade de peças de reposição. Pode até ser usado um reversor daqueles que se usam em transformações de motos em triciclos utilitários, no caso do câmbio original não ter mais serventia nem para proporcionar mais redução de marcha. Salvar um utilitário tão compacto seria especialmente oportuno devido ao menor gasto de energia e matérias-primas comparado à fabricação de um modelo moderno com capacidades semelhantes mas que ocupe um footprint maior sobre o leito carroçável;

2 - Suzuki Samurai: o jipe compacto japonês chegou a ter versões equipadas até com motor de 1.0L por alguns anos, embora o motor de 1.3L seja mais comum de se encontrar no Brasil. Por ser 4X4 há de se levar em consideração a maior complexidade do sistema de transmissão, e eventualmente ainda que não se descarte a possibilidade de acoplar um reversor diretamente no motor de moto permanece necessário acoplá-lo à caixa de transferência. A não ser que fosse modificado um exemplar que tenha o conjunto motriz original em muito mau estado a ponto de não justificar manter o câmbio e a caixa de transferência originais do modelo, e o motor menor e mais leve de uma moto fosse útil para deixar a distribuição de peso entre os eixos mais equilibrada de modo que houvesse uma maior concentração próxima ao eixo traseiro nas diferentes condições de carga, melhorando a capacidade de transposição de trechos severos mesmo sem recorrer à tração 4X4 assim como ocorre no Fusca. Uma eventual redução não só de peso mas também de atritos internos que se pudesse obter com um layout de transmissão mais simples se refletiria num menor consumo e emissões, o que parece razoável caso não se necessitasse de uma capacidade de incursão off-road tão extrema. E como o Suzuki Samurai chegou a ser originalmente equipado no Japão com motores ainda mais modestos para atender aos requisitos da classe dos kei-jidosha, a bem da verdade um motor de moto pequena moderna não seria tão impraticável para adaptação;

3 - Gordini: um modelo que não fez tanto sucesso comercial no Brasil, a ponto de não ter sido muito comum vê-lo na fase de "carro velho" em mau estado de conservação e a maioria dos remanescentes estar nas mãos de colecionadores que os tratam a pão-de-ló. Mas se fosse o caso de aparecer a chance de salvar um exemplar desse simpático modelo que estivesse destinado a apodrecer num ferro-velho, um motor de moto até 250cc também não ficaria tão subdimensionado tendo em vista as curvas de potência e torque numa comparação ao motor Renault Ventoux de 845cc que originalmente usava;

4 - Peugeot 106: modelo que já foi relativamente comum antes do 206 ter produção local, o 106 era importado só com o motor TU9 de 954cc em função do benefício fiscal para carros "populares", mas estava longe de ser barato quando 0km em contraste com a desvalorização observada na atualidade. Um motor menor até poderia parecer mais de acordo ao uso estritamente urbano, de modo que um desempenho ainda mais modesto soe como um empecilho para um uso geral com eventuais percursos rodoviários caso fosse o único veículo à disposição do usuário. E por mais pouco provável que pareça manter a aptidão para atender a todas as efetivas necessidades operacionais em comparação ao motor original, a chance de levar uma multa por excesso de velocidade ficaria menor;

5 - Fusca: por mais que as substituições de motor nesse clássico costumem priorizar o desempenho, e a familiaridade da maioria dos mecânicos brasileiros leve a crer que seja estúpido cogitar adaptações, não seria algo de se descartar imediatamente. Alguns críticos ressaltam como erro que o Fusca Itamar da década de '90 não tenha sido oferecido com injeção eletrônica, que em outros modelos viabilizou o não-uso do catalisador na mesma época, e hoje mesmo que esse dispositivo de controle de emissões seja indispensável a injeção eletrônica já é amplamente difundida até entre motocicletas de pequena cilindrada. Considerando que a Volkswagen ainda chegou a produzir no México versões do Fusca com motor 1200 para exportação à Alemanha enquanto naquele mercado se já usava o mesmo 1600 do Itamar brasileiro, e que teoricamente um motor de moto de 250cc moderna consegue manter um desempenho nem tão insatisfatório comparado ao de um motor 1200 de Fusca, para alguns usuários a adaptação pode parecer melhor do que sofrer com aumentos desmedidos no preço de peças devido ao crescimento do chamado "antigoportunismo". E mesmo que a posição do motor traseiro se mantenha relevante para a distribuição de peso entre os eixos, a adaptação de um motor mais leve poderia ser oportuna para realocar a bateria originalmente montada sob o banco traseiro e transferi-la para o compartimento do motor, reduzindo a chance de curto-circuito e eventual incêndio ao encostar nas ferragens do assento e o eventual vazamento de vapores no interior caso ainda se use uma bateria não-selada.

quarta-feira, 18 de março de 2020

Fusca e Jeep Willys: comparação improvável sob uma perspectiva "bicho do mato"

Não é novidade que o Fusca e o Jeep Willys estão entre os modelos que podem ser creditados entre os mais importantes para que se estabelecessem condições que levaram aos atuais estágios do progresso tecnológico e científico, embora algumas características tidas como obsoletas façam com que possam não ter o devido reconhecimento por parte do público generalista. No entanto, ainda há quem aprecie a rusticidade de ambos, especialmente considerando a aptidão off-road que ainda se destaca diante de modelos mais modernos nos respectivos segmentos. Naturalmente, como os projetos tinham distintas prioridades visando atender à proposta de um "carro popular" no caso do Fusca enquanto o Jeep tinha a missão de ser uma viatura de transporte não-especializado (VTNE) para uso militar, fica improvável à primeira vista fazer uma comparação direta.
Lembrando sempre que o Brasil não é para principiantes é importante destacar que, durante o ciclo de produção do Jeep CJ-5, o modelo chegou a custar menos que um Fusca no mercado de veículos 0km durante alguns anos. Nesse contexto, é essencial considerar algumas diferenças técnicas abrangendo a concepção dos motores, sendo que o BF-161 Hurricane de 2.6L que foi o primeiro a equipar a versão brasileira do CJ-5 apesar de ter 6 cilindros e refrigeração líquida que o tornam ao menos teoricamente mais sofisticado que o boxer de 1.2L a 1.6L com 4 cilindros de refrigeração a ar usado no Fusca, mas o fato do Hurricane ter bloco e cabeçote de ferro enquanto o Fusca fazia uso de uma liga de alumínio-magnésio acabava exercendo uma influência no custo do processo de fundição que além do custo tem uma maior periculosidade no manejo do magnésio. Uma menor incidência de impostos beneficiando modelos utilitários certamente também beneficiava o Jeep no tocante ao preço final.

Quem ainda considere um Jeep Willys ou um Fusca como veículo para uso generalista, não apenas na cidade ou em condições de rodagem pesadas de zonas rurais ou periferias, atualmente encontra muita objeção devido ao ceticismo quanto à capacidade de atenderem a eventuais percursos rodoviários que podem se fazer necessários tanto de forma esporádica quanto com alguma regularidade devido tanto à idade dos modelos quanto por um eventual desgaste mecânico ao longo do tempo, mas esse não seria um impedimento tão justificável considerando uma manutenção criteriosa ou até algumas eventuais melhorias que possam ser adaptadas visando garantir maior conforto e segurança. Uma modificação até comum em ambos é a troca dos respectivos motores pelo Volkswagen EA-827 "AP", visando não só um bom desempenho mas também em alguns casos sendo possível obter uma maior economia de combustível. Vale lembrar ainda que para o Jeep ainda é possível adaptar algum motor Diesel, o que para o Fusca infelizmente esbarra em restrições burocráticas. E para os ecofascistas de plantão, ainda é importante destacar que é comum um motor mais moderno proporcionar menores emissões, além do menor consumo de matérias-primas comparando peças que se façam necessárias durante a reforma de um veículo antigo e o processo de fabricação de um novo que pudesse vir a substituí-lo.

Outro aspecto mais subjetivo, que no entanto ganha uma relevância maior para uso geral incluindo o tráfego urbano no dia-a-dia, é o fato do Fusca já vir com a carroceria totalmente fechada enquanto no Jeep Willys o mais comum sempre foi a capota de lona. Por mais que não seja sensato garantir que a capota rígida vá inibir completamente desde atos de vandalismo a tentativas de roubo ou furto, ainda pode ser considerada uma tranquilidade a mais por não aparentar ser tão vulnerável quanto a capota de lona. Ainda assim, apesar do Fusca ser mais estreito e a tração simples possibilitar um ângulo de esterçamento maior, o Jeep CJ-5 tendo comprimento e distância entre-eixos menores ainda facilita a manobrabilidade em espaços restritos como vagas de estacionamento cada vez mais difíceis de achar nas regiões centrais, fazendo com que ainda seja tentador para usuários com perfil mais urbano.

As mesmas observações podem ser estendidas entre o Jeep CJ-6 "Bernardão" e a Rural-Willys numa comparação com a Kombi, embora a posição do motor acabe exercendo uma maior influência sobre a capacidade volumétrica de carga. O compartimento externo do motor no CJ-6 e na Rural faz com que a acomodação de alguns volumes por cima do capô possa comprometer a visibilidade frontal, mas na Kombi a decisão de posicionar a cabine mais à frente e manter a tradicional mecânica Volkswagen na mesma posição traseira observada no Fusca favorece o melhor aproveitamento da extensão da área de carga em comprimento. Definir qual seria melhor pode ser tão difícil quanto escolher entre um CJ-5 ou um Fusca, apesar das posições do condutor e do conjunto motriz fazerem com que a Kombi possa manter uma capacidade de incursão off-road moderada em diferentes condições de carga devido à concentração de peso se mantendo constantemente mais próxima ao eixo traseiro, enquanto no Jeep e na Rural o motor concentra muito peso sobre o eixo dianteiro com o veículo menos carregado.

segunda-feira, 16 de março de 2020

5 motivos pelos quais a 2ª geração do Chevrolet Onix poderia ser melhor aproveitado numa eventual reestruturação mundial das operações da GM


Desenvolvida com uma grande participação da SAIC, com a qual a GM opera uma joint-venture na China, a atual geração do Chevrolet Onix tem uma aparência mais sofisticada que a do antecessor de projeto brasileiro. E embora o hatch seja produzido exclusivamente no Brasil, o sedan Onix Plus teve o lançamento mundial na China antes que passasse a ter fabricação brasileira e também mexicana, o que leva a crer numa aposta forte nesse novo modelo num segmento que permanece extremamente competitivo nos mercados emergentes. E apesar de ao menos num primeiro momento não haver um interesse declarado da GM em oferecer o Onix em mercados mais desenvolvidos, bem como a saída de alguns países de mão inglesa que abrangeu até mercados outrora tradicionais como a Austrália e a África do Sul e outros que haviam se tornado importantes hubs de exportação como Índia e Tailândia, ao menos 5 motivos podem levar a crer que essa linha estaria adequada a uma reestruturação mundial das operações da General Motors, e mais especificamente auxiliar no reestabelecimento da Chevrolet como uma marca global.

1 - tamanho conveniente para uso geral: apesar do Onix hatch ser um pouco mais comprido e largo do que um Opel/Chevrolet Astra de 20 anos atrás, refletindo a tendência que pode ser observada num modo geral também entre outros fabricantes cujos modelos compactos alcançam as faixas de tamanho antes observadas em médios, tal fator possibilita uma acomodação suficientemente confortável para condutor e passageiros mesmo em mercados mais desenvolvidos, onde a polivalência que se exige de compactos enquadrados na definição de "carro popular" em países emergentes pareça ter uma menor relevância;

2 - opções de motorização competitivas em diferentes regiões: embora no momento a opção pelo câmbio automático permaneça restrita aos motores turbo, enquanto os aspirados contam somente com o câmbio manual, não há impedimento para essa possível inconveniência ser corrigida ao menos com o motor aspirado de 1.2L atualmente destinado à exportação para a Argentina onde na faixa de 1.0L só seja oferecido na configuração turbo. A supressão da injeção direta em versões turbo fabricadas no Brasil, no entanto, tornou-se problemática no tocante à maior vulnerabilidade ao uso de combustíveis com uma menor qualidade, embora o próprio custo dessa motorização seja menos competitivo numa comparação ao 1.2 aspirado em mercados onde não se restrinja a cilindrada até 1.0L para fins de homologação de um carro como "popular". E embora no México e na China atualmente os motores 1.0 e 1.2 sejam disponíveis somente com turbo, mesmo em alguns mercados mais exigentes como os Estados Unidos permaneceria viável oferecer ao menos uma opção de motor aspirado tanto em função do menor custo quanto da aptidão ao uso de insumos como combustíveis e óleo lubrificante de especificações mais modestas;

3 - visual bem-resolvido: embora não deixe de ser um projeto destinado à missão de ser um pé-duro para uso geral, e o hatch ser lançado posteriormente ao sedan eventualmente fomente críticas quanto à proporcionalidade que foram feitas com relação a modelos de proposta semelhante da concorrência, o Onix tem uma aparência bastante agradável;

4 - possibilidade de enquadrar-se em diferentes normas de segurança: o fato de por exemplo nos Estados Unidos a NHTSA (National Highway and Traffic Safety Authority) aplicar normas que não são harmonizadas com outras regiões pode até desencorajar uma eventual oferta de hatches devido à maior facilidade para implementar zonas de absorção de impacto traseiro num sedan, e a plataforma usada no Onix ser especificamente destinada a países periféricos levar a crer que atualizações visando o enquadramento em normas de segurança mais rigorosas fique demasiado oneroso além de aumentar o peso e eventualmente comprometer a eficiência e o desempenho, está longe de ser tecnicamente impossível como já foi comprovado por outros fabricantes nas respectivas incursões pelo mercado americano;

5 - a resistência de alguns consumidores ao modismo dos SUVs: pode parecer improvável, mas até nos Estados Unidos uma parcela do público anteriormente fiel à GM ou à Ford se distanciou desses grupos devido à proposta de concentrar esforços no mercado americano para os SUVs e pick-ups. Se por um lado pode parecer conveniente tentar empurrar um crossover baseado na plataforma de algum segmento imediatamente inferior para quem anteriormente compraria um hatch, um sedan ou station-wagon, tanto em função da maior margem de lucro quanto na classificação como "caminhão leve" ser mais cômoda para se enquadrar em metas de redução de consumo e emissões menos rigorosas, por outro se mostra ineficiente para manter fidelizados aqueles consumidores que ainda preferem um carro normal seja pela percepção de um melhor custo/benefício e maior economia quanto por uma simples preferência subjetiva.