Os motores a diesel são famosos pela robustez e economia de combustível, mas ainda enfrentam alguns preconceitos. A fumaça considerada característica, mais opaca devido a material particulado em suspensão e de odor forte, por exemplo, é provocada mais pela baixa qualidade do diesel brasileiro e de falta de manutenção preventiva que por qualquer outro motivo - com o sistema de injeção mantido bem regulado já alivia tal efeito indesejado. E o funcionamento um pouco áspero, acentuado pelo som do motor, ainda hoje sofre uma grande oposição por parte de alguns consumidores, mesmo que outros tantos estejam ávidos por um fim das restrições jurídicas ao uso de diesel em carros para valer-se da maior eficiência - e cada vez mais compradores de caminhonetes e sport-utilities se rendam cada vez mais à redução proporcionada nos gastos com combustível, alguns até saindo de sedãs de luxo para aderir aos utilitários...
Ainda que a imagem de tais motores esteja associada a alguns modelos anteriores à proibição do uso de diesel em veículos leves (com capacidade de carga inferior a uma tonelada, exceto os 4X4 com reduzida ou veículos com capacidade de transportar o motorista e 9 ou mais passageiros), caminhonetes como a Saveiro e alguns Mercedes-Benz da década de 80 até o começo dos anos 90 que mesmo com esse tipo de motorização chegaram a ser oferecidos no mercado brasileiro, uma verdadeira revolução tecnológica fez com que se aproximassem da suavidade e potência específica mais associadas aos motores do ciclo Otto. Passando pelo uso mais freqüente do turbo e resfriador de ar da admissão (intercooler) até a injeção eletrônica do tipo common-rail, hoje em outros mercados é possível encontrar motores a diesel mais compactos e leves fazendo os mesmos trabalhos com mais economia e até melhorando o desempenho - um caso notável é o motor Fiat Multijet 1.3 de 90hp, o dobro do antigo 1.3 aspirado de injeção indireta e 45hp, igualando o 1.9 turbo oferecido no Marea, superando até o 1.7 turbo de 70hp ainda usado em algumas versões de modelos como o Fiorino destinadas à exportação. Isso para não falar do torque que chega a superar o de veículos a gasolina, álcool e/ou gás de cilindrada igual ou até mais elevada.
Um outro bom exemplo claro da evolução é visto ao tomar como referência o motor V6 a gasolina de 3.1L usado na antiga Chevrolet Lumina APV, que foi igualado em potência e superado em torque por ligeira margem pelo Multijet 1.6 de 120hp da Fiat. Houve uma época em que, visando agradar a mercados europeus, a minivan foi oferecida com o clássico motor Oldsmobile Quad-4 de 4 cilindros, 2.3L e 137hp a gasolina, tendo como alternativa um 1.9L turbodiesel que, apesar da potência (92hp) sensivelmente menor (mesmo não comprometendo a segurança e conforto ao dirigir), tinha um torque apenas um pouco mais favorável e que já é superado pelo Multijet 1.3 de 90hp atualmente oferecido pela Fiat em versões do Punto destinadas ao mercado argentino (e fabricadas no Brasil). Se o pequeno propulsor é capaz de mover com desenvoltura uma soccer-mom van certamente dá conta de uma grande variedade de modelos oferecidos no mercado brasileiro, de hatches compactos a sedãs executivos passando por pequenos utilitários como o Fiat Doblò, bastante usado como ambulância em cidades do interior do Rio Grande do Sul. Vale destacar que, apesar dos modernos sistemas de injeção eletrônica, continuam emitindo menos radiação eletromagnética que um similar do ciclo Otto devido à ausência de um sistema de ignição por faísca, reduzindo o risco de interferência em equipamentos eletrônicos como os usados em ambulâncias e hospitais.
Ainda há outra vantagem: motores a diesel não demandam alterações tão radicais para usar alguns combustíveis alternativos como o biodiesel ou mesmo óleo de fritura velho - e até o etanol pode ser usado, apesar de demandar algumas modificações um tanto extensas. Talvez uma presença maior de modelos leves a diesel no mercado brasileiro tivesse fomentado um programa sério de produção de biodiesel, como aconteceu com o ProÁlcool...
Como se pode ver, o mercado brasileiro tem espaço de sobra para veículos leves movidos a (bio)diesel, só falta interesse político para liberá-los para vendas localmente, visto que alguns já tem até fabricação brasileira...