terça-feira, 22 de novembro de 2011

Considerações sobre a hipocrisia e o "caso Black Bull"

Num país de economia prejudicada por um aparelho estatal ineficiente, parasitário e partidarista, onde se pensa mais na foto para a campanha eleitoral do que em desenvolvimento econômico e social, e até mesmo um carro dito "popular" acaba trazendo algum status ao proprietário junto a alguns grupos da população, o recente circo midiático armado em torno da apreensão de alguns automóveis envolvidos em rachas na região de João Pessoa, capital da Paraíba, acabou por mostrar o quanto a hipocrisia acaba mais uma vez prevalecendo sobre o bom senso perante a opinião pública...
Com tanto drogado vagando pelas ruas tal qual um bando de zumbis praticando atos de vandalismo e expondo a população a toda ordem de violência física e psicológica, me parece inconcebível que exista quem considere uma pessoa que teve envolvimento com corridas clandestinas em via pública como sendo alguém pior que um estuprador ou um assaltante que se aproveite das brechas da legislação para atacar velhinhas na rua e que, mesmo com as autoridades "competentes" sabendo das intenções, dificilmente vão agir preventivamente por receio de se incomodar com essa farsa dos "direitos humanos"...

Muitos dos que se entusiasmaram com o resultado da recente operação "Velocidade Limitada" em que a Polícia Rodoviária Federal teve posição de destaque junto à Polícia Militar da Paraíba se impressionaram mais com a apreensão de um Chevrolet Camaro e 3 Honda Civic, modelos que no mercado brasileiro são considerados "de luxo" (ainda que em outros países estejam nivelados em segmentos mais básicos, como acontece com os hatches 1.0 nacionais), do que com a ação policial. Exatamente a jogada de marketing desejada por alguns membros das corporações policiais envolvidas para terem motivo de mostrar as fuças na Rede Globo como se fossem heróis da pátria apesar de serem motivo de chacota por terem conseguido "caçar" os veículos apenas quando estes estavam em uma oficina ou uma garagem, vexame que poderia ser evitado com o uso de motocicletas como veículo de perseguição, além de políticos interessados em tirar o foco de escândalos de corrupção que vem se tornando freqüentes e tentar iludir o povão alienado vendendo a idéia de que os ditos "ricos" também sofrem com os rigores da lei na mesma intensidade...

Alguns populares já manifestam opiniões preconceituosas com relação à condição sócio-econômica dos envolvidos, ao referir-se a eles como "playboys" apenas por terem um respaldo financeiro que permita se darem ao luxo de ter um objeto que pode-se considerar cobiçado, o que acaba desencadeando manifestações de inveja por parte de alguns que ao invés de sentirem uma frustração por não ter algo que gostariam sentem-se mal ao ver que outros possam tê-lo, o que infelizmente é uma mentalidade bastante comum. Enquanto isso, todos os dias acontecem acidentes com mortes, mas como envolvem veículos mais comuns e baratos não ganham mais do que uma nota e uma foto em preto e branco na última página do jornal impresso e aparecem por míseros 30 segundos na televisão...

Com a falta de profissionalismo na imprensa, associada à ignorância de alguns "jornalistas" mais preocupados em enfeitar a matéria, ganha destaque a questão dos veículos terem capacidade de atingir velocidades consideravelmente superiores ao limite das estradas brasileiras, mas parecem esquecer que até a Kombi consegue superar os 120km/h, velocidade máxima permitida hoje em algumas rodovias, e muitos dos carros populares apesar dos limitados motores 1.0 já chegam perto dos 170km/h com conjuntos de freios e suspensão tecnicamente inferiores (o povão muitas vezes prefere mostrar ao vizinho uma "central multimídia" ou "rodas esportivas" ao invés de priorizar itens de segurança como airbag e freios com ABS) cujas limitações muitas vezes são ignoradas por motoristas afetados por um excesso de confiança ou mesmo por exibicionismo, o que não é tão incomum num país onde "quanto custa" é visto como o aspecto mais importante. Diga-se de passagem, houve um grande desrespeito com a oficina Rev It Up, citada por alguns "jornalistas" como se fosse uma "oficina clandestina". Se realmente houvesse um interesse dos "profissionais" de imprensa envolvidos nesse jornalismo circense com relação a problemas de oficinas clandestinas, abordariam o tema do roubo de veículos que acabam tendo peças reaproveitadas por oficinas "boca-de-porco" na periferia eventualmente à custa da vida de cidadãos torturados por assassinos que atiram apenas para ver o sangue jorrar pelo buraco da bala...

Não é difícil encontrar algum idiota fazendo palhaçadas ao volante de um carro 1.0, nem sempre com o motor preparado devido às limitações financeiras que levam tal tipo de motorização a ser tão comum (convenhamos, ninguém acorda de manhã desejando um carro 1.0), e às vezes quando algum veículo muito mais caro e com desempenho consideravelmente superior para ao lado no semáforo o motorista do carro popular sai acelerando como se estivesse num "racha imaginário" (coisa de Forever Alone) enquanto o motorista do modelo mais caro não demonstra pretensões de bancar o piloto. Também não é difícil encontrar malucos se arriscando ao praticar racha com motos de baixa cilindrada, em que apesar dos investimentos no motor (ainda que proporcionalmente menores ao que seria necessário num automóvel para ter desempenho comparável) geralmente a parte de pneus, freios e suspensão é negligenciada e não recebe aperfeiçoamentos necessários para manter um nível de segurança mais adequado aos esforços de uma velocidade mais alta...

Além do interesse em mostrar o automobilismo amador como um todo (não só os rachas de rua, que realmente são proibidos por lei) como sendo coisa de marginal, há uma perseguição injusta a quem aprecia modificações em veículos, tanto aquelas funcionais visando a melhoria de desempenho, segurança e conforto quanto o infame "xuning". Vale destacar que mesmo um carro turbinado, quando equipado com pneus de boa qualidade, uma suspensão bem ajustada e freios eficientes e corretamente dimensionados para o novo nível de exigência, mesmo em velocidades superiores é mais seguro que muita tranqueira com motor original cheia de enfeites de gosto duvidoso e com molas cortadas ou removidas apenas para parecer "socado", ou então com molas esticadas à força para manter a altura original mesmo quando os amortecedores são suprimidos devido ao custo para repor tais peças (eu já vi esse tipo de gambiarra numa favela de Porto Alegre)...
 

Ainda, muitos falsos moralistas aproveitam para posar como se nunca tivessem ultrapassado um limite de velocidade mesmo ao volante de um carro totalmente original e insistindo que os rachadores estariam sendo uma "ameaça à segurança" nas rodovias, mas parecem se esquecer que é uma prática bastante comum o excesso de velocidade tanto em vias urbanas quanto em estradas sem que isso signifique a prática do racha, não sendo portanto exclusividade dos rachadores "ameaçar a segurança", e a quase totalidade dos acidentes com vítimas fatais nas rodovias não envolve rachas ou veículos "fuçados". Também deve ser levado em conta que as falcatruas promovidas por políticos ao negociarem a aquisição de ambulâncias de transporte eletivo a preço de UTI-móvel, por exemplo, matam mais do que os rachas mas não recebem a mesma "vigilância" por parte da imprensa (e do eleitorado, que deveria ser o maior preocupado com isso)...

Antes que insistam em dizer que eu estou fazendo apologia ao racha, volto a reiterar que tal prática está proibida pela legislação brasileira em vigor.

domingo, 20 de novembro de 2011

Motocicletas: a relação entre desempenho e preço as torna favoráveis ao uso em perseguições policiais

Sinceramente, eu não sinto o menor prazer em ter que criticar a Polícia Rodoviária Federal, um dos motivos é que uma das pessoas mais íntegras que eu conheço faz parte dessa instituição e a meu ver não merece ser vista com o mesmo repúdio que alguns colegas estão merecendo e o outro é que eu como cidadão brasileiro e tendo alguns militares na família tanto pelo lado paterno quanto pelo materno ainda tenho esperança de ver o lema positivista que ornamenta a bandeira (Ordem e Progresso) sendo honrado...

Não é novidade para ninguém a incompetência da administração pública brasileira, levando a casos tão absurdos que parecem uma piada de mau gosto. Legisladores tripudiam sobre a ordem e o progresso estampados na bandeira implementando leis absurdas, promovendo um espetáculo do absurdo. Vale destacar o recente caso da apreensão de veículos que participaram de rachas na Paraíba, incluindo o famoso Honda Civic "Black Bull", em que as próprias forças policiais envolvidas agiram de forma equivocada, contrariando a lei (por mais absurda que seja) que prevê a autuação em FLAGRANTE, o que não foi o caso, apenas para aparecerem na Globo e tentar disfarçar a própria incompetência e fingir que nessa república das bananas os rigores da lei valem para todos independentemente de estarem sobre uma Honda CG 150 ou a bordo de um Chevrolet Camaro. Beleza, a lei é para todos, então quem é que vai ter culhões para passar o grampo naquele ex-deputado que encheu o rabo de vinho e, ao volante de um Passat alemão (que nem fuçado era) matou um estudante e um trabalhador que estavam em um Honda Fit contra o qual o "nobre" parlamentar colidiu a 180km/h numa rua de Curitiba??? Vale lembrar que depois dele haver renunciado para não correr o risco de um impeachment perdeu a imunidade parlamentar e o foro privilegiado.


Infelizmente parece que o brasileiro tem uma "síndrome de cachorro vira-lata", e um desejo de negar que apesar da intensa colonização européia o Brasil "moderno" tem mais a ver com a periferia da Ásia quando se fala em desenvolvimento econômico e social. O eterno "país do futuro", futuro que nunca chega devido ao comodismo. Há quem diga que pior do que está não fica, mas é difícil encontrar quem realmente esteja comprometido a fazer algo para melhorar. E uma característica de país empobrecido (apesar da riqueza em recursos naturais) pode ser observada no mercado motociclístico local...

Eu já havia mencionado antes que eu sou favorável ao emprego tático de motocicletas em ações policiais, e cabem novamente algumas considerações sobre tal aplicação.
Ainda que modelos como a Honda Hornet (na foto um exemplar pertencente à Guarda Municipal de Florianópolis), considerada nos principais mercados da Europa ocidental uma motocicleta utilitária urbana com aptidão para o tráfego rodoviário expresso, marquem presença no Brasil até com produção local, o que mais se vê nas ruas são modelos mais simples com motores de até 150cc, inclusive para uso policial. Ainda assim, outros modelos de maior porte marcam presença nas frotas de corporações como a Polícia Rodoviária Federal, que usa modelos como a Harley-Davidson Road King Police (na foto abaixo uma utilizada por um pelotão de escolta da Polícia do Exército). Alguns dirão que é uma motocicleta adequada ao patrulhamento rodoviário, mas para perseguições a alta velocidade (como para pegar rachadores) são ineficazes. Pesadonas, mais difíceis de manobrar, e com velocidade final mais restrita devido à péssima penetração aerodinâmica, são mais adequadas a um passeio descompromissado...

Não é de hoje que os departamentos policiais sofrem com limitação do repasse de verbas, fazendo com que entre outros equipamentos as viaturas sejam um tanto inadequadas e escolhidas sem observar tantos critérios técnicos, enquanto alguns cargos burocráticos garantem privilégios como o direito ao uso de viaturas melhores do que as de polícia. Por exemplo, enquanto os carros de polícia atualmente classificados como os "melhores" do Rio Grande do Sul são Ford Focus com motor 2.0L, há muitos Ford Fusion com motores entre 2.3L e 2.5L atendendo à função de "veículo de representação", numa verdadeira inversão de valores. Vale destacar que a própria Ford recentemente apresentou em algumas exposições uma versão do Focus com o motor 2.5L e alguns reforços estruturais visando a aplicação como viatura de polícia...

Devido à relação entre preço e desempenho, as motocicletas acabam apresentando uma vantagem em relação a um automóvel. Em alguns segmentos, um modelo como a Yamaha YZF-R1 consegue desempenho comparável a carros com um preço até mais de 15 vezes superior, como a Ferrari 458 Italia.

Considerando os resultados do uso de um veículo mais apto a uma perseguição do que um carro popular sobrecarregado com o peso de equipamentos de comunicação (muitas vezes redundantes ao se considerar os equipamentos portáteis usualmente carregados pelos agentes) e aquelas barras de sinalização luminosa que ainda acabam alterando o centro de gravidade (eu sempre achei uma estupidez não se usar uma sinalização luminosa de emergência embutida na base do parabrisa ou dentro das carcaças dos faróis, já que a mesma dificuldade que um xunileiro tem para abrir a carcaça de um farol para instalar angel-eyes e LEDs coloridos é a mesma que uma empresa especializada na adaptação de viaturas tem para instalar as luminárias estroboscópicas) ou um utilitário com suspensão molenga e alto centro de gravidade (no qual eventualmente a barra estabilizadora traseira ainda é suprimida) com um motor subdimensionado, seria possível até reduzir os riscos de acidentes com os policiais envolvidos na operação. Ainda que estar exposto numa motocicleta seja bastante arriscado, também pela condução desse tipo de veículo ser um desafio às leis da física, não é difícil encontrar relatos de policiais que tenham morrido ou ficado com alguma deficiência física como conseqüência de um acidente envolvendo veículos inadequados à operação em altas velocidades em pistas mais sinuosas...

Antes que algum falso moralista diga que eu faço apologia ao racha de rua, prática em desacordo com a legislação em vigor, eu reitero que não estou incentivando que ninguém o faça, por mais que eu considere uma grande inversão de valores a exposição de alguns rachadores ao circo midiático e execração pública enquanto a IMPUNIDADE PARLAMENTAR rola solta e leva milhares de cidadãos à morte nos necrotérios com placa de hospital...

sábado, 19 de novembro de 2011

Minha opinião sobre a recente apreensão de carros usados em rachas na Paraíba

Foi deflagrada ontem (18/11/2011) pela Polícia Rodoviária Federal uma operação que culminou com a apreensão de 3 Honda Civic Si (entre os quais um conhecido como "Black Bull" e que já apareceu em revistas de tuning), 1 VW Gol quadrado e 1 Chevrolet Camaro parecido com o da foto acima, que vinham sendo usados em corridas clandestinas em João Pessoa, capital da Paraíba. Basicamente um circo midiático para iludir o povão vendendo a idéia de que alguns "ricos" também acabam sofrendo os rigores da lei na República das Bananas. Entretanto, a própria legislação nesse país de 3º mundo é uma aberração, além de existirem criminosos de alta periculosidade que nunca levam um baculejo devido a absurdos como a "imunidade parlamentar" (ou IMPUNIDADE parlamentar) e desviam verbas que deveriam ser aplicadas na saúde pública, ensino básico e até em equipamentos e treinamentos para que a própria PRF tivesse condições de caçar os rachadores e fazer as autuações em flagrante como está previsto em lei, além de juízes que vendem sentenças para traficantes e outros destruidores de famílias, que desfilam de Ford Fusion V6 enquanto policiais tem que cagar sangue com uma merda de uma carroça com motor de enceradeira e suspensão mais mole que amortecedor de imitação paraguaia do Nike Shox. Isso sem falar em outros "doutores" que recorrem ao expediente da infame "carteirada", prática deplorável de um buraco onde ainda se acredita que respeito se IMPÕE ao invés de se conquistar.

No caso dos veículos apreendidos, o correto seria fazer a apreensão em flagrante, mas eu não vou entrar em detalhes da parte tática que isso é obrigação da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar da Paraíba. Não precisa nem fazer perseguições como aquelas dos Estados Unidos, pois nesse país de 3º mundo seriam mais para fazer algum policial despreparado que não pega nem ladrão de galinha aparecer no Plantão da Globo do que para fazer com que a lei seja cumprida, afinal do lado de cá do Equador mal existem viaturas capazes de agüentar o tranco como as barcas americanas com "police package" corretamente dimensionado para a função...

Eu sempre gostei de automóveis, e não vou ser hipócrita a ponto de dizer que os rachas de rua nunca me chamaram a atenção. Toda aquela fascinação que a molecada tem por velocidade, associada à idéia de proibição e o desejo de contestação que fica bastante exacerbado durante a adolescência são uma combinação explosiva. Eu, especificamente, sempre fui até mais interessado na parte técnica (preparação de motores, acerto de suspensão, freios, etc.) do que nos rachas, mas não sou hipócrita a ponto de negar que o fascínio pela velocidade existe, bem como por desafiar a imposição do limite da mesma...

No país inteiro faltam locais apropriados para a prática do automobilismo amador, que no interior acaba mais restrito às tediosas competições de arrancada em pistas geralmente limitadas a 402 metros sem nenhuma curva, o que acaba fomentando o submundo das corridas clandestinas em vias públicas. Pistas adequadas com estrutura de apoio para equipes de emergência são mais raras do que alguns locais fechados ao tráfego mas de fácil acesso que acabam sendo usados para manobras e "fritões" (e como não tem trânsito nem tanta ênfase em normas de segurança não é incomum presenciar o consumo de bebidas alcoólicas em alguns desses locais), enquanto não faltam campos de futebol (e às vezes até moleques jogando futebol em plena pista em ruas de periferia). E convenhamos que, com a quantidade absurda de impostos que se paga pela propriedade de um veículo automotor e por insumos como combustíveis, lubrificantes e peças de reposição, acaba sendo uma vergonha que as estradas brasileiras tenham que ser pedagiadas para ter uma manutenção decente. Se não houvesse tanta corrupção, seria possível ter até umas estradas sem limite de velocidade como as autobahnen alemãs, onde seria possível apreciar a velocidade dentro da lei, o que poderia até colaborar para uma diminuição da prática dos rachas quando se pode desfrutar apenas do prazer da velocidade sem ser considerado um bandido. Tecnologia para implantar uma estrada dessas em terras brasileiras já é dominada por empresas locais. E ao contrário do que alguns alegam, os acidentes numa autobahn não costumam acontecer numa freqüência tão alarmante não só por serem construídas com uma boa margem de segurança, como também devido à maior concentração por parte dos aspirantes a piloto ao trafegarem em velocidades mais elevadas...

Eu tenho consciência de que, pelas mesmas leis brasileiras que eu critico por outros motivos, racha é considerado crime, mas enquanto um automobilista amador for considerado um criminoso tão perigoso quanto um assaltante ou um estuprador e os corruptos continuarem soltos eu não vou negar que considero uma verdadeira inversão de prioridades esse espetáculo sensacionalista e oportunista. Também não vou negar que acontecem acidentes em rachas e eventuais mortes de inocentes, mas a corrupção que transforma hospitais públicos em verdadeiros necrotérios mata bem mais. Aproveito para repudiar um "jornalista" que citou a preparação feita no motor do Gol como sendo uma "adulteração", bem como ao "profissional" de imprensa que citou a oficina Rev It Up, uma das mais reconhecidas pelo trabalho de preparação de motores Honda, como sendo uma "oficina clandestina". Se o sujeito tivesse o mínimo de profissionalismo, não compararia uma empresa séria com essas "bocas de porco" que usam peças de procedência duvidosa...

Imagem meramente ilustrativa

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Chevrolet: 100 anos de tradição

Em 3 de novembro de 1911, o empresário William Durant, fundador da General Motors, da qual permaneceu afastado entre 1910 e 1915, uniu-se ao engenheiro e piloto suíço Louis-Joseph Chevrolet, famoso pelos bons resultados usando veículos Buick em competições, para fundar uma nova fabricante de automóveis, que acabou batizada como Chevrolet, em Flint, Michigan. O primeiro modelo da nova empresa, o Series C Classic Six, já incorporava um motor de 6 cilindros em linha que o fazia se destacar em desempenho, além de trazer um motor de arranque (inicialmente pneumático), considerado um artigo de luxo à época. Louis Chevrolet vendeu a participação acionária a Billy Durant em 1915, por conta de divergências quanto ao projeto de alguns modelos, e em 1916 os lucros já viabilizaram um retorno de Durant ao comando da GM, que passava a incorporar a Chevrolet.


O famoso logotipo, conhecido como "bow-tie" (gravata-borboleta), surgiu apenas em 1913, após Durant ter se inspirado na estampa do papel de parede do quarto de um hotel francês. Ainda há uma versão extra-oficial alegando que é uma estilização da cruz suíça, em referência à origem do piloto Louis Chevrolet.

Hoje uma empresa moderna, com modelos como o Chevy Volt seguindo a moda dos híbridos, permanece vinculada a uma identidade tradicional fortemente baseada na nobreza e distinção de clássicos como o Impala, na força e resistência de utilitários que auxiliaram na construção de alguns países, e no desempenho do Corvette que até hoje com uma técnica mais rústica faz concorrentes europeus e japoneses sofrerem...

Passou a consolidar uma posição de destaque na produção brasileira de automóveis a partir de 1968, com o Opala, conhecido na África do Sul como Ranger, basicamente a adaptação de um modelo da Opel (o Rekord C) a um conjunto mecânico de projeto americano e compartilhado com os utilitários que já marcavam presença no mercado nacional, além de modelos importados que desde 1925 eram montados a partir de kits CKD em São Caetano do Sul.
Modelos como o Monza (versão local do Opel Ascona C europeu) e o compacto Chevette também ocuparam lugar de destaque no mercado brasileiro, assim como o Opel Kadett E e o Opel Corsa, entre outros modelos de projeto europeu que usaram a marca Chevrolet, como o Vectra, que por muitos anos permaneceu como referência entre os sedãs de porte médio, apesar de ter sido estigmatizado por conta da idade do projeto do motor que usava e da técnica menos arrojada que a de rivais de origem japonesa, ainda que o desempenho e consumo de combustível não fossem tão desfavoráveis...

Hoje, com mais de 40 anos dedicados à fabricação local de automóveis, a operação brasileira da Chevrolet é de tanta importância a nível mundial que concentra a pesquisa e desenvolvimento no projeto de caminhonetes de porte médio, além de sediar uma das fábricas de motores de 4 cilindros com maior volume de produção, atendendo a diversas divisões da GM no mundo.

Por mais que hoje tenham força estereótipos associando a marca Chevrolet à imagem de "carro de velho", táxi, viatura de polícia e outras aplicações com menos glamour, como a grande quantidade de wagons adaptadas para ser usadas como ambulância ou rabecão ainda hoje facilmente encontradas em operação apesar da antigüidade, isso acaba só reforçando a imagem de qualidade e confiança que todo fabricante de automóveis deseja e poucos conseguem estabelecer de uma forma tão natural.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pedal de embreagem: "prazer" com os dias contados?

Ainda que por uma questão de custo e facilidade de efetuar reparos a transmissão manual ainda tenha adeptos, sobretudo para o uso em condições extremas como a prática recreativa de off-road, opções mais confortáveis para o usuário comum vem conquistando adeptos nos últimos anos.

Se antes da reabertura das importações a transmissão automática era vista por alguns como "coisa de playboy" ou estigmatizada como "acessório para deficiente físico", modelos como o Toyota Corolla conquistaram um público que antes a via com maus olhos. Hoje, já com produção nacionalizada, chega a ser difícil achar algum Corolla com transmissão manual rodando por ruas e estradas brasileiras. Ainda que no mercado nacional ainda se usem transmissões automáticas mais primitivas e que acabam causando algum prejuízo ao consumo de combustível não só devido à inércia do conversor de torque, visto que algumas insistem em apresentar apenas 4 marchas como no próprio Corolla, enquanto outras mais modernas como as CVT que a Honda usava no Fit e a Nissan usa no Sentra chegam a apresentar consumo próximo ou eventualmente melhor que as versões manuais.

Um caso que merece destaque é o Subaru Impreza, que na atual geração ainda oferece uma caixa de 4 marchas nas versões automáticas mais simples, mas o próximo modelo virá com uma CVT já em uso no Subaru Legacy. A grande vantagem do sistema CVT é ter infinitas variações entre duas relações predeterminadas, possibilitando manter a mais adequada de acordo com a rotação do motor, topografia, qualidade da pavimentação e fluxo do tráfego, favorecendo a economia de combustível...

Conciliando o conforto do modo de trocar marchas totalmente automático com a possibilidade de proporcionar uma condução mais "esportiva" quando desejado, surgiu na segunda metade da década de 90 o sistema difundido pela Porsche e conhecido como Tiptronic. Permanecia o acoplamento viscoso do conversor de torque e a troca das marchas por pressão controlada por um "corpo de válvulas" hidráulico, mas o condutor passava a ter o controle tão apreciado pelos "weekend racers" de plantão que não abriam mão de apreciar o carrão esportivo durante a semana apesar do trânsito caótico nos centros urbanos com ruas e avenidas congestionadas por ação de uma "engenharia" de tráfego ineficiente...

Em alguns modelos, ainda, devido ao uso de motores mais compactos, havia alguma preocupação com a lentidão nas respostas com o uso de um sistema "hidramático" convencional, daí surgiram os chamados "automatizados" ou "robotizados", que nada mais são do que caixas manuais com opção de troca de marchas automatizada por atuadores eletromecânicos, e acionamento automático da embreagem. O peso mais contido e a maior facilidade em efetuar reparos tem feito com que ganhe espaço no mercado, não só entre modelos de nicho como o FIAT 500 como também em veículos mais simples como o Palio. Por trocar as marchas sempre "no tempo" quando operando em modo automático, prolongam a vida útil da embreagem e em várias situações diminuem o consumo de combustível. Ainda, por não ter conjuntos sincronizadores entre as engrenagens, a durabilidade é maior em comparação com as transmissões manuais sincronizadas que hoje são o padrão dos segmentos mais básicos do mercado automobilístico...

Há ainda quem considere "monótono" conduzir um veículo sem a necessidade de trocar marchas mas não se opõe a um pouco de conforto e segurança, e para atender a tal público ainda há entre as opções o chamado "semi-automático", a exemplo do "Cambiocorsa" usado em modelos da Ferrari e Maserati, no qual a abolição do pedal de embreagem já traz algum conforto sem privar o entusiasta de trocar as marchas, no caso por meio de paddle-shifters embutidos no volante como num Fórmula 1. Apesar da apresentação com mais glamour, não é tão diferente do que era oferecido no pós-guerra com o sistema Saxomat, embreagem automática produzida pela Fitchel & Sachs (atual ZF-Sachs) que foi bastante popular no mercado europeu, e chegou a equipar alguns DKW-Vemag brasileiros. Acaba não tendo a possibilidade de trocar marchas automaticamente, mas não dependia de atuadores e controladores eletrônicos muito complexos e sensíveis...
Por um breve período entre '99 e 2001 o FIAT Palio chegou a oferecer regularmente um dispositivo semelhante, mas ao invés do acionamento a vácuo (usando uma "cuíca" conectada ao coletor de admissão, que fornecia o vácuo liberado por uma válvula acionada por um contato elétrico simples montado na base da alavanca de câmbio, fazendo com que um pequeno "braço" mecânico pressionasse o garfo da embreagem, com um platô centrífugo para manter o acionamento da embreagem durante a marcha-lenta) como no DKW-Vemag tinha um sistema eletro-hidráulico mais complexo...
Atualmente não é tão incomum encontrar kits para automatização de embreagem oferecidos por fornecedores independentes e amplamente usados em adaptações veiculares para deficientes físicos, mas o uso de tais equipamentos por motoristas sem deficiência é visto como tabu.

Apesar do custo de aquisição ainda ser mais baixo para um veículo com transmissão manual, a evolução nas transmissões automáticas faz com que a desvantagem em consumo e desempenho seja cada vez menos sensível, e vem atraindo consumidores com um maior conforto no pesado tráfego urbano...

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Tração traseira: vale a pena voltar?

Uma característica que foi se perdendo na maioria dos automóveis, a tração traseira, ainda hoje tem quem a defenda com significativo entusiasmo. Mesmo que hoje constantemente seja citada como "arcaica", tem características bastante apreciadas por entusiastas de uma direção mais "esportiva" ou por facilitar um melhor acerto da direção, pois a ausência de semi-eixos de tração ocupando espaço no eixo dianteiro fica mais fácil liberar espaço para as rodas esterçarem, reduzindo o raio de giro e favorecendo a manobrabilidade em espaços confinados. Fora isso, nesses tempos de preocupação com o consumo e as emissões ao se levar em conta a transferência de peso para a traseira durante a aceleração faz com que modelos de tração traseira sejam favorecidos nas arrancadas devido a um aumento na aderência das rodas motrizes. Vale destacar que o momento em que o veículo mais demanda energia é enquanto sai da imobilidade...
Tal característica foi por bastante tempo adotada como padrão pela Volkswagen, que a associava à montagem do motor na traseira, favorecendo a concentração de peso sobre o eixo motriz e deixando a direção mais leve, facilitando ainda mais as manobras. E poderia até ser aproveitado para favorecer a aerodinâmica, devido à maior liberdade em se elaborar uma dianteira com linhas mais fluidas. Não é à toa que ainda há uma grande quantidade de modelos superesportivos com motor traseiro...

Enquanto isso, alguns segmentos que particularmente seriam beneficiados pela tração traseira acabam não tendo tal característica aplicada. Um bom exemplo está nos carros populares, com motores de cortador de grama baixa cilindrada às vezes subdimensionados para o tamanho e peso da carroceria. E apesar da "receita de bolo" que se tornou padrão na indústria automobilística, com motor e tração dianteiros, alguns dos motores acabam tendo um volume tão reduzido que viabiliza retomar o uso de motor e tração traseira sem sacrificar o espaço de passageiros na cabine. Um bom exemplo é a já classica Volkswagen Brasília, que apesar te ter sido classificada como uma station-wagon pode ser considerada um hatchback...
Apesar de sacrificar o espaço para bagagens junto à cabine, ainda mais por usar um ventilador alto para refrigerar o motor ao invés do sistema axial usado na Variant e no TL, compensava com um pequeno bagageiro frontal, que poderia ficar mais amplo caso a suspensão McPherson da Variant II também fosse usada na Brasília, melhor até do que o bagageiro interno caso o hatch tivesse motor dianteiro. Vale destacar que com o motor traseiro se utiliza uma tubulação de escapamento menor e, por conseguinte, mais barata. Não é de se estranhar que modelos como o Tata Nano venham retomando essa tradiçao...

Outro caso curioso é o do FIAT 500, que numa versão antiga usava motor e tração traseiros mas na releitura moderna adotou motor e tração dianteiros. Considerando o atual empenho da FIAT no downsizing, não seria difícil encaixar um motorzinho de dentista "deitado" atrás do parachoque traseiro sem ocupar tanto espaço do diminuto bagageiro nem sacrificar mais a pequena cabine, apesar do acréscimo na capacidade volumétrica de carga com a conseqüente possibilidade de se montar mais um bagageiro à frente...
Ao se levar em conta que o atual 500 é inspirado num modelo direcionado às estreitas ruas das antigas cidades italianas, um melhor acerto de direção seria ainda mais apreciado...

Outro segmento que seria particularmente beneficiado é o dos híbridos e elétricos puros, nos quais as grandes bancadas de baterias acabam sacrificando significativamente a cabine e a capacidade de carga, e devido à ênfase dada ao uso urbano de tais modelos faria com que os benefícios à manobrabilidade em espaços confinados tivessem ainda mais sentido...

Ainda há o espaço ocupado pelo motor e por um diferencial: no caso específico do Nissan LEAF, se ao invés do motor de máquina de lavar roupas e de um diferencial montados na frente fossem usados hub-motors diretamente conectados às rodas traseiras, além de reduzir as perdas por atrito de um sistema de tração convencional não sacrificaria tanto volume que poderia ser usado para criar um compartimento de bagagens adicional e, eventualmente, trazer um pneu sobressalente - apesar do útil kit de reparo rápido de furos, a pavimentação nas ruas das principais cidades da República das Bananas brasileiras sofre com a péssima manutenção e acaba tendo irregularidades que podem eventualmente provocar rasgos e até inviabilizar uma recauchutagem no pneu danificado, e para poder se deslocar com o mínimo de segurança até um ponto de assistência o estepe acaba sendo de extrema importância...
Considerando os hub-motors, a montagem dos mesmos no eixo traseiro, apesar de aumentar a massa-não suspensa em comparação com um único motor ligado a um diferencial traseiro, geraria uma demanda menor sobre o sistema de direção assistida, que não gastaria tanta energia como se os hub-motors fossem montados nas rodas dianteiras, ou mesmo com um sistema de transmissão tradicional...

Na prática, apesar de não estar recebendo a devida atenção, a tração traseira ainda tem vantagens que poderiam ser melhor aproveitadas pela indústria...

sábado, 8 de outubro de 2011

Adesivos de contato: muito além dos reparos emergenciais...

Não é difícil ver gambiarras feitas com adesivos de contato em carros velhos caindo aos pedaços, mas até dentro das fábricas esses materiais demonstram alguma utilidade. Com a procura por uma redução dos custos, os rebites e soldas vem perdendo espaço em algumas aplicações nas quais eram tidos como indispensáveis.
O uso mais intenso de plásticos e materiais compostos facilitou a aceitação dos adesivos de contato na montagem de componentes não-metálicos e a união dos mesmos à estrutura dos veículos, mas hoje até partes de metal recebem cola antes de serem encaixadas, reduzindo o custo de processos de soldagem e até tratamentos para prevenir a corrosão galvânica. Uma fábrica que constantemente tem recorrido a esse expediente é a Audi, famosa pelo uso intenso do alumínio em componentes estruturais.
Um dos casos mais conhecidos acaba sendo o do Audi TT, em que aços de diferentes especificações são unidos a ligas de alumínio por adesivos à base de epóxi, para conciliar leveza, rigidez torcional e absorção de impactos para manter a segurança no cockpit.
Outro modelo que recorre intensamente ao epóxi é o Audi R8, que usa resinas da marca Araldite, mais conhecida no mercado brasileiro pelos adesivos bicomponente de uso geral, para unir painéis de carroceria e fazer a saturação de peças elaboradas em fibra de carbono.
Ainda que o material acabe sendo constantemente associado ao uso em gambiarras, a própria indústria passou a considerá-lo extremamente vantajoso nessa época em que redução de custos é obsessão. Por não emitir tantos vapores tóxicos como algumas ligas usadas na solda demanda menos ventilação forçada no ambiente de trabalho, e ainda permite que uma quantidade menor do adesivo seja usada, o que além de reduzir o custo e o tempo de secagem aumenta a precisão no encaixe das peças. Não é à toa que o Tata Nano, concebido para ser o automóvel mais barato do mundo e concorrer com motocicletas e triciclos, acabou tendo eliminados diversos pontos de solda em favor de adesivos...

Hoje, é possível encontrar até mesmo restauradores de automóveis antigos que acabam recorrendo a adesivos para agilizar o serviço...

Entretanto, nem sempre o adesivo usado atende às especificações necessárias no que se refere à resistência a altas temperaturas, e acabam provocando incêndios. Um caso bastante comentado foi o da Ferrari 458 Italia, na qual o adesivo usado nos primeiros modelos para fixar o painel corta-fogo não suportava o intenso calor. Para contornar o vexame, a marca do cavallino rampante, tão idolatrada pelos fanáticos tifosi que a reputam uma imagem de excelência e supremacia, teve de fazer um recall e ainda recorrer ao uso de rebites metálicos em exemplares posteriores do modelo.

Outros segmentos já mostram uma maior experiência com os adesivos, sobretudo no setor de ônibus, em que os materiais compostos ganharam bastante espaço nas últimas décadas. Uma das vantagens de adesivos é a redução da transferência das vibrações à carroceria e até o nível de ruído interno, além de alguns adesivos modernos proporcionarem algum isolamento térmico (sobrecarregando menos o sistema de ventilação forçada, ou o ar condicionado quando disponível), melhorando o conforto para os passageiros e o operador.

Também se destaca o uso de adesivos de contato em carrocerias modulares de ambulâncias (as populares "ambulâncias tipo americano"), nas quais ainda se beneficia a higiene, pois com encaixes mais precisos entre os componentes sobra menos espaço para acumular detritos e favorecer a proliferação de microorganismos.

Na prática, apesar de serem mais lembrados na hora das emergências, os adesivos de contato acabam tendo uma participação mais importante no setor automotivo...