Embora o carro ainda seja visto como um símbolo de status, ainda que seja um "sucatão" em estado deplorável de manutenção, os custos tanto de aquisição quanto de manutenção elevado acaba levando alguns consumidores a abdicarem dessa falsa sensação de superioridade no trânsito para recorrer a motocicletas como opção para atender às necessidades de transporte sem depender tanto da ineficiência e desconforto dos serviços públicos. Consequentemente, não é raro ver motociclistas inexperientes sofrerem acidentes devido ao excesso de confiança ou por desconhecimento sobre as vulnerabilidades de tais veículos. Fora isso, grande parte das vias não estão adequadas à circulação segura de motocicletas, tanto por detalhes como a altura de guard-rails até a sinalização no asfalto: não é difícil encontrar faixas de sinalização simplesmente cobertas com tinta preta quando há alguma mudança no fluxo, quando o correto seria remover tais faixas com uso de um maçarico para manter o correto nível de aderência da pavimentação aos pneus. Acaba aumentando o risco de acidentes principalmente em períodos chuvosos, quando a tinta molhada fica lisa como sabão, e uma derrapagem de moto tem consequências mais sérias devido ao equilíbrio precário mantido na condução de tal tipo de veículo, que é um verdadeiro desafio às leis da gravidade.
Fora isso, ainda há a grande quantidade de motocicletas adaptadas para o transporte de cargas, eventualmente não tão leves quanto uma pizza ou um punhado de cartas. Há casos em que as adaptações beiram o absurdo como caixas do tamanho de um pequeno armário doméstico usadas por algumas lavanderias e tinturarias, ou os precários racks usados para carregar garrafões de água ou botijões de gás de cozinha (positivamente já proibidos em algumas localidades), aumentando ainda mais o centro de gravidade e ainda potencializando os efeitos de ventos laterais "empurrando" a moto ao chão e promovendo o desgaste irregular dos pneus.
Recentemente o mercado brasileiro acabou despertando para vantagens de triciclos conciliando a capacidade de carga de carros convencionais com custo operacional próximo ao de motocicletas e uma estabilidade direcional superior a estas últimas. Entretanto, tais veículos tem sido apresentados apenas como alternativa ao transporte de cargas, e as utilidade no transporte de passageiros vem sendo ignorada tanto por consumidores quanto por fabricantes e distribuidores dos triciclos. Em alguns mercados emergentes ainda há um espaço significativo para esse segmento, sobretudo em locais como Índia e China.
Mas até países atualmente considerados desenvolvidos como Itália e Japão recorreram ao baixo custo proporcionado pelo uso de triciclos no transporte de passageiros em períodos de recessão como os primeiros anos posteriores à II Guerra Mundial. Não era incomum achar algumas carrocerias especiais montadas sobre o Piaggio Ape para servir a tal função, embora versões para transporte de passageiros fossem regularmente oferecidas (mas não com um nível de conforto tão próximo ao de um automóvel por ainda serem abertas).
Embora o uso como táxi acabe sendo atualmente deixado de lado (excetuando alguns locais turísticos), apesar do enquadramento de triciclos como motocicletas os possibilitar menos restrições à circulação em alguns locais por serem considerados mais ecológicos e a manobrabilidade em espaços reduzidos tão comuns em grandes centros europeus (tais espaços chegam a ser comparáveis aos becos e vielas tão comuns em periferias brasileiras, onde as condições geográficas levaram até ao desenvolvimento do serviço de mototáxis, que embora ainda seja considerado irregular chegou a ser usado até por forças policiais durante uma operação numa favela carioca, numa situação que pode ser considerada análoga à Batalha de La Marne na I Guerra Mundial quando soldados franceses chegaram numa frota de táxis ao front), o sistema de habilitação escalonado adotado pelos países desse continente (até já houve um sistema semelhante para os motociclistas brasileiros, que eu acredito ter sido abolido apenas com o Código Nacional de Trânsito de '98) é favorável à aplicação de triciclos no transporte particular, sobretudo por jovens que queiram algo com mais conforto e segurança que os ciclomotores de 50cc (embora sejam enquadrados como tal) mas a idade não permita a condução de carros convencionais, e não se interessem pelos até bastante caros microcarros (conhecidos em Portugal como "quadriciclos qualificados" e com as mesmas restrições à velocidade máxima nas quais são enquadrados os ciclomotores). Talvez um motivo que desperte o interesse de alguns dos usuários desses triciclos seja o fato de vários "venenos" que permitiriam aos ciclomotores atingirem velocidades menos restritas serem igualmente aplicáveis aos triciclos em função das similaridades mecânicas (ainda que acabem se tornando ilegais quando os veículos continuam a ser conduzidos por usuários que se enquadrem na classe de habilitação às quais originalmente eram destinados), enquanto os microcarros geralmente são equipados com austeros motores estacionários/industriais com pouca oferta de recursos para "fuçar".
É praticamente impossível que as leis brasileiras voltem a cogitar o uso de ciclomotores por menores sem habilitação a partir dos 14 anos como em países europeus, apesar da Convenção de Viena prever tal benefício aos jovens, mas certamente poderia tornar o mercado local mais receptivo ao uso de triciclos no transporte privado de passageiros. Entretanto, devido às características da economia local ainda haveria bastante espaço para modelos maiores, e mesmo assim as vantagens não ficariam restritas apenas a uma redução do subaproveitamento de veículos maiores que ocupariam mais espaço nas vias, incluiriam a redução nos níveis de poluição do ar (mesmo um triciclo de aproximadamente 250cc consome menos combustível e emite menos gases poluentes que um carro popular de até 1000cc ou então os "sucatões") e o descarte inadequado de pneus (a ser reduzido entre 20 e 25% em alguns casos específicos).
A existência de modelos com cabine fechada, mais confortável em dias chuvosos ou épocas de frio e mais segura no ambiente urbano com linhas de pipa com cerol que ainda representam uma ameaça aos motociclistas e alguns objetos que possam ser arremessados em direção ao condutor de forma intencional ou não, pode acabar facilitando a atração de usuários de motocicletas para os triciclos, assim como usuários de carros convencionais que acabam aderindo aos mesmos apenas por falta de uma opção mais econômica mas não apreciam motocicletas (ou são impedidos de conduzir uma por conta de alguma deficiência física - eu até conheci alguns deficientes físicos que se tornaram usuários de motocicletas transformadas em triciclo no litoral sul catarinense).De fato, as condições econômicas e geográficas brasileiras são bastante favoráveis aos triciclos, embora ainda não sejam vistos com tanta seriedade apesar das vantagens em algumas aplicações terem sido comprovadas na prática.








