quarta-feira, 14 de março de 2018

6 aspectos práticos que dificultam a aceitação do side-car por um público mais generalista

Já não é nenhuma novidade que o brasileiro médio tem algum grau de resistência a soluções técnicas que até fazem algum sucesso em outros países com condições econômicas tão ruins quanto ou mesmo piores que as do nosso país. Uma das opções que acabam sendo subestimadas é o uso de motocicletas com side-car como alternativa a um carro, causando impacto tanto no espaço ocupado sobre o leito carroçável das ruas quanto no desgaste da pavimentação, no consumo de combustível e, principalmente quando consideramos a presença de alguns carros mais antigos e em precário estado de decomposição conservação, até mesmo a poluição do ar.
Pensa num Fusca caído...


No entanto, por mais que uma certa dose de teimosia e o orgulho besta inerente ao brasileiro sejam parte do problema, é injusto ignorar que há ao menos 6 fatores de ordem prática tornando o side-car menos atrativo a um público mais generalista.
Falta de proteção contra as intempéries e outros elementos: embora tal característica seja parte integrante da experiência motociclística, e alguns ainda a vejam como "diversão", não são todos que compartilham dessa perspectiva. E embora alguns side-cars estrangeiros antigos tenham sido feitos com capotas para maior conforto dos passageiros, tendo servido até mesmo como ambulâncias improvisadas até a I Guerra Mundial (e ainda sirvam para o mesmo propósito em algumas partes da África), no Brasil só se vê side-car para passageiros com a "gôndola" ou "banheira" aberta, enquanto side-cars fechados são menos incomuns em aplicações cargueiras.


Impedimento ao uso com outro implemento: enquanto carros e até motocicletas sem side-car podem tracionar pequenos reboques, o mesmo não se aplica às motos que estejam com o side-car. Naturalmente, não seria de se esperar que uma moto entre 125 e 150cc possa manter um desempenho satisfatório numa condição de carga mais extrema, mas por outro lado e tendo em vista as atuais regulamentações que classificam o side-car como uma carroceria (e portanto parte integrante do veículo) ao invés de equipará-lo ao reboque como se fazia anteriormente, ainda teria fundamento uma crítica a essa proibição.


Valor mais alto do seguro DPVAT: aí já é um problema que atinge as motos em geral, mesmo que se possa alegar que a presença do side-car venha a tornar menos provável a ocorrência de quedas em comparação a uma moto sem o equipamento e eventualmente servir de pretexto para se pleitear uma tarifa semelhante à que é cobrada durante o licenciamento dos carros.


Idade mínima para se transportar crianças em motos: para quem pense em usar o veículo para transporte familiar, a idade mínima de 7 anos para que uma criança possa ser conduzida numa moto já seria problemática. E por mais que o side-car ofereça uma maior retenção mediante o uso do cinto de segurança e eliminando dificuldades para alcançar os suportes para os pés, a restrição de idade é mantida. Ora, mas se nos carros conversíveis não há qualquer medida análoga, não deixa de ser incoerente que se imponha uma norma tão mal-fundamentada com relação às motos quando dotadas de side-car.

Refrigeração do motor: esse aspecto talvez passe despercebido numa primeira olhada, enquanto pode também suscitar polêmicas... Como a maioria das motos utilitárias básicas permanece recorrendo à refrigeração a ar, mas sem recorrer a uma ventoinha para forçá-lo durante tráfego lento, depende mais de um fluxo contínuo de ar de impacto a velocidades constantes para uma boa refrigeração, tanto que em motos sem side-car essa é uma justificativa essencialmente técnica para a tão questionada prática de motociclistas usarem o "corredor" entre os carros. Tomando por referência o Fusca só para não perder o costume, a ventoinha sempre acabou se fazendo presente em aplicações automotivas da refrigeração a ar por esse exato motivo.

E por último, mas nem por isso menos importante...

Velocidade máxima e autonomia limitadas dificultando o tráfego rodoviário: não se pode negar que as motos sofrem com um maior arrasto aerodinâmico quando equipadas com o side-car, e portanto torna-se mais difícil tanto alcançar velocidades mais elevadas quanto mantê-las, principalmente as menores, mas sempre vai haver algum prejuízo sobre a economia de combustível. Por mais que as motos de baixa cilindrada quando equipadas com side-car ainda se mantenham mais econômicas que um carro pequeno movido a gasolina, álcool ou um "flex", é natural que o tamanho menor do tanque de combustível possa desencorajar eventuais percursos rodoviários devido à menor autonomia em comparação às mesmas motos quando originais. E por mais que não venha a ser efetivamente proibido lançar-se às rodovias a bordo de uma CG com side-car que se mantenha dentro do limite mínimo de velocidade (50% da máxima na via), é previsível que a maioria prefira ao menos uma sensação de segurança proporcionada pela carroceria fechada mesmo em um Fusca que na maioria das vezes ainda use até mesmo vidro comum ao invés do laminado no parabrisa...

terça-feira, 6 de março de 2018

5 motivos que dificultam uma maior aceitação do side-car para transporte de passageiros no Brasil

Side-cars tiveram alguma importância mundo afora em diferentes contextos históricos, motivados por fatores tão diversos quanto o custo do conjunto moto + side-car em comparação aos automóveis ou a menor complexidade técnica em função do predomínio da refrigeração a ar nas motos utilitárias em contraponto à refrigeração líquida mais habitual em automóveis. No entanto, a nível de Brasil, apesar de uma vez ou outra aparecer uma moto com side-car com acomodação de um passageiro a mais, ainda prevalece o uso no transporte de cargas leves. Vamos analisar 5 eventuais empecilhos a uma maior aceitação do side-car...
Classificação como carroceria ao invés de equiparação aos reboques: apesar de ser um entrave mais burocrático que efetivamente técnico, o side-car sendo atualmente considerado uma carroceria e portanto parte integrante da própria motocicleta se torna inconveniente em alguns momentos. Se por um lado o side-car ao ter placa e documento próprios e independentes da moto ao qual esteja atrelado represente um pequeno custo anual a mais em função da taxa de licenciamento (embora não pague IPVA por não ser considerado veículo), por outro facilita uma intercambialidade com motos diferentes no momento que o proprietário desejar trocar de moto, ou ainda poder desacoplar o side-car quando for possível (ou necessário) dispensar o uso do dispositivo.
Necessidade de habilitação para motocicletas: outro fator que pode inibir a aceitação do side-car como uma opção por alguns usuários de automóveis insatisfeitos com o custo cada vez mais alto dos combustíveis, mas que acaba tendo um pouco de fundamento técnico. Obviamente, apesar de uma moto com side-car passar a ocupar um espaço semelhante ao de um carro sobre o leito carroçável das vias (ao menos na largura), o comportamento dinâmico é diferenciado, e uma experiência prévia com motocicletas sem o acessório ainda poderia ter alguma serventia. No entanto, acrescentar categoria A na carteira de habilitação acabaria sendo considerado uma despesa indesejável por alguns potenciais usuários, tendo em vista que apesar dos custos de operação e manutenção em comparação a um carro serem diminuídos numa proporção menos acentuada do que seria alcançado com uma moto sem side-car. Caso fosse implementada no Brasil alguma provisão para a condução de motos até 125cc com a habilitação para carro, a exemplo do que já ocorre em países como a Espanha (embora lá seja vetado o uso do side-car nessa situação), não seria de se duvidar que alguns motoristas pudessem sentir uma atração pelo side-car pela motivação econômica.
Estereótipo de gambiarra: isso chega a ser o mais irônico em se tratando do Chimpanzil. Sempre tem algum "mano" para cortar as molas de um carro velho em estado avançado de decomposição para encalhar nas lombadas e valetas alegando que isso seria "estilo de vida", ou quem recorra a pneus "remold" que nem sempre foram vulcanizados adequadamente e perfil baixo numa roda de aro 15 ou maior apenas por custarem praticamente o mesmo que pneus de qualidade com perfil mais alto para uso com rodas de aro menor, enquanto uma estrutura dimensionada adequadamente para suportar um passageiro ou cargas mantendo um vão livre suficiente para transpor decentemente os obstáculos nas ruas é tratada com desdém e eventual desconfiança quanto à efetiva utilidade.
Percepção de uma falta de prestígio: em um país onde tantos gostam de viver de aparência, e assim preferem ignorar opções economicamente viáveis para atender com eficiência à própria necessidade de transporte leve, a presença dos side-cars ter conquistado uma maior aceitação nas aplicações de carga em motos de 125cc leva adeptos da "ostentação" a subestimá-los. Nada que impeça, no entanto, o uso de side-cars para fins particulares/familiares/recreacionais em motos de cilindrada maior como a Harley-Davidson Sportster 1200 que de vez em quando eu via nas imediações do Shopping Total.
Junção do que teria de "pior" nas motos e nos carros: um dos argumentos mais frequentes entre quem não vê vantagem no side-car, mas impossível de ser ignorado ao considerar aspectos práticos. De fato, a exposição do condutor e passageiro(s) aos elementos típica das motos pode ser vista como um sacrifício por parte de alguns potenciais usuários que não se disponham a abrir mão do percebido conforto do habitáculo fechado em um carro. E a maior largura ocupada sobre a via se reflete numa menor agilidade para trafegar pelos "corredores" que normalmente beneficia as motos em meio ao tráfego urbano.