sábado, 18 de junho de 2022

5 carros de fabricação nacional que me pareceriam interessantes para fazer algo análogo aos hot-rods mas sem aquela estética tradicional de calhambeque

Um aspecto bastante destacado junto a alas mais conservadoras dos entusiastas de hot-rods, a aparência remetendo aos calhambeques permanece marcante, tendo em vista uma consolidação da preferência por motores V8 nos Estados Unidos pelas mãos da Ford 90 anos atrás, e modelos bastante austeros como o Ford Modelo T ainda sendo tratados como um "carro velho" no imediato pós-guerra ao invés de serem cultuados como relíquias de colecionador despertando o interesse da juventude daquela época em fazer a junção daqueles motores que eram um ícone da prosperidade americana e a carroceria de algum carro mais despretensioso no tocante ao desempenho original. Muitas mudanças ocorreram tanto nos Estados Unidos quanto em outros países onde a cultura do hot-rod tem fãs fervorosos, mas referências estéticas à época dos calhambeques são praticamente indissociáveis das origens desse fenômeno. E mesmo que a idéia de um motor longitudinal e tração traseira por eixo rígido seja praticamente impossível de se abrir mão, tanto após a consolidação dos V8 na preferência de preparadores e pilotos quanto entre os que se mantinham mais receptivos a preparar motores mais modestos como do Ford Modelo T cujo motor com 4 cilindros era mais parecido aos de alguns tratores, adaptar essa filosofia a alguns modelos fabricados no Brasil e proporcionalmente mais modernos que um calhambeque acabariam sendo interessantes para fazer algo análogo, destacando-se 5 modelos sem uma ordem particular:


1 Corcel: o modelo originou-se de um projeto original da Renault, quando a Ford adquiriu a operação brasileira da Willys-Overland, e a carroceria de duas portas foi uma exclusividade brasileira. Apesar da tração dianteira ser uma característica original do Corcel, a existência de versões 4X4 de derivados do mesmo projeto e até algumas caminhonetes feitas na Romênia com tração somente traseira derivadas do mesmo projeto de origem Renault pressupõe que a "receita" tradicional de um hot-rod com tração traseira esteja longe de ser impossível replicar. E para os que alegam faltar "sangue" da Ford no Corcel, certamente iria soar tentador usar um motor V8 Y-Block ou Windsor se levar adiante a idéia de montar um hot-rod modernizado com a aparência desse modelo;

2 - Ford Ka de 1ª geração: o tamanho faria pressupor ser ainda mais difícil adaptar uma "receita" de hor-rod típica, e exigiria modificações muito profundas na parte estrutural a ponto de praticamente ficar só a aparência do modelo original, mas certamente ficaria um foguetinho bem interessante. O tamanho do compartimento do motor seria especialmente crítico, mas talvez até mais tentador se fosse o caso de fazer alguma experiência com um motor de válvulas laterais, como o próprio Ford Flathead V8 que teve uma versão de 2.2L mais voltada ao mercado europeu onde também deu origem ao motor Aquillon de 2.4L que a Simca chegou a usar no Brasil. Por mais que motores de válvulas laterais sejam vistos hoje como obsoletos, e o próprio motor Endura-E com válvulas no cabeçote que equipou as versões iniciais dessa geração do Ka tenha um suporte interessante para preparações na Inglaterra, a própria aparência pouco ortodoxa desse modelo praticamente implora por algumas adaptações bastante improváveis;

3 - Opel Kadett E: o modelo foi vendido no Brasil como Chevrolet, e teve desde versões austeras até o esportivo GSI, sempre usando motores com 4 cilindros em linha que no Brasil se limitaram a opções de 1.8L ou 2.0L enquanto outros mercados chegaram a receber motores menores. O fato de já ter havido a adaptação do motor Chevrolet small-block V8 e tração traseira em alguns exemplares no exterior serve como pretexto para quem quisesse radicalizar além do conservadorismo que se fez presente na versão GSI brasileira, em contraste com similares europeus e sul-africanos que ao menos usavam motores de 16 válvulas mesmo mantendo a configuração de 2.0L e 4 cilindros enquanto o Kadett nacional sempre teve motores de somente 8 válvulas;

4 - Vectra de 1ª geração: embora tivesse uma proposta mais sofisticada à época, e portanto longe de ter uma grande popularidade no Brasil, é outro modelo marcante de quanto a linha Chevrolet brasileira era mais alinhada à Opel. O fato de ter sido oferecido com opção de tração nas 4 rodas em algumas versões esportivas na Europa eventualmente facilitasse radicalizar se alguém tentasse seguir à risca a "receita" de tração traseira associada aos hot-rods clássicos, mas com a elegância de um sedan médio europeu de projeto do fim da década de '80 que só chegou ao Brasil na década de '90 concorrendo com importados que se firmavam como sonho de consumo da classe média-alta a partir da reabertura do mercado. Pode ser que ficasse até mais adequado à proposta de um street-rod modernizado que de um hot-rod por ser de uma categoria que acabava tendo um posicionamento menos austero em comparação a modelos de porte menor;

5 - Corsa: outro Opel que se destacou nas duas gerações que chegaram a ser comercializadas no Brasil como Chevrolet, destacou-se a nível de América Latina e até África com uma proposta generalista e até certo ponto sendo possível traçar um paralelo com as intenções "populares" que nortearam o projeto do Ford Modelo T. Naturalmente, por ser um modelo de pretensões muito mais modernas e um foco no uso essencialmente urbano e rodoviário, sem a mesma ênfase do Ford Modelo T para um público mais rural dando os primeiros passos na motorização há mais de 100 anos atrás, pode parecer "heresia" comparar o Corsa a um calhambeque no tocante à significância cultural, mas o fato da 2ª geração européia e que foi a primeira a chegar ao Brasil ter sido uma pedra no sapato da Volkswagen no México ao acabar com a liderança de vendas do Fusca a partir da 2ª metade da década de '90 é digno de nota. Vale lembrar que na Argentina até chegou a ser preparado um Corsa "Kinder Ovo" análogo a uma reinterpretação do que seria um hot-rod, embora a geração posterior que foi lançada no Brasil em 2002 talvez por ter sido um tanto ofuscada pelo continuado sucesso comercial do antecessor no segmento de entrada despertou pouco interesse para preparações...

quinta-feira, 9 de junho de 2022

5 motivos para a Ranger ser o mais próximo de um (improvável) sucessor moderno do Ford Modelo T

Ao longo do tempo, a indústria automobilística tem passado por inúmeras transformações, refletidas em eventuais alterações na estratégia de fabricantes como a Ford que recentemente concentrou esforços nos segmentos de utilitários e descontinuar os automóveis generalistas em algumas regiões, movimentação que também se fez presente no Brasil desde o ano passado após o fechar de todas as fábricas no país. E a aposta exclusivamente em modelos importados com maior foco em caminhonetes gerou, assim como em alguns outros países tanto na América Latina quanto em outras regiões, uma dependência exagerada pela Ranger para alcançar um volume de vendas satisfatório. Também dá margem a observações quanto à eventual função da Ranger como uma espécie de sucessor moderno para o Ford Modelo T, ainda que num primeiro momento possa soar improvável, mas ao menos 5 motivos levam a crer que a Ranger seja hoje o mais próximo do que foi o Modelo T na época áurea dos calhambeques...

1 - layout básico de chassi separado da carroceria: naturalmente haverá quem discorde e diga que eu estou louco, tendo em vista a inegável evolução em sistemas de freio, direção e suspensão por exemplo, ou como os processos produtivos modernos com um grau de automação e sofisticação inimaginável nos primeiros anos da linha de montagem também causariam um distanciamento técnico entre os produtos de diferentes períodos históricos. Mas ao observarmos como uma "receita" básica de chassi tipo escada separado da carroceria com motor longitudinal e tração traseira por eixo rígido se mantém inalterada no segmento das pick-ups médias, em que pese algumas versões oferecerem tração 4X4 como opcional, já é possível constatar um vínculo mais espiritual;

2 - simbolismo junto à classe média urbana: assim como o Ford Modelo T tornou-se um ícone do que viria a ser consolidado como o American Way of Life, posteriormente os "caminhões leves" passariam a ser favorecidos pelo público generalista dos Estados Unidos à medida que incorporavam amenidades e acessórios. E até no Brasil, onde apesar de motivações econômicas favorecerem os motores turbodiesel no segmento de pick-ups médias em contraste com a preferência pela gasolina nos Estados Unidos, vale destacar como utilitários deixaram a austeridade de lado para ganhar a simpatia do público urbano, e até versões como a Ranger Black somente com tração traseira e câmbio automático surgiram para atender a esse segmento;

3 - presença global: hoje são poucos os mercados atendidos pela Ford sem oferecer a Ranger, e o mais curioso é que em alguns países asiáticos onde teoricamente carros compactos seriam favorecidos hoje o modelo mais importante da Ford é justamente a Ranger, principalmente de mão inglesa onde fica difícil desovar outras caminhonetes por serem oferecidas somente em configuração para mão continental. Até nos Estados Unidos onde a atual geração da Ranger chegou tardiamente, tendo em vista que predomina naquele mercado a preferência por caminhonetes full-size mais caras que a Ranger;

4 - versatilidade: apesar do tamanho das caminhonetes médias modernas passar longe de ser prático no uso urbano, é inegável que a capacidade de uma versão com cabine dupla permitir que faça as vezes de carro particular preservando alguma aptidão para funções estritamente utilitárias/profissionais remete às premissas do "carro universal" defendidas por Henry Ford para o Modelo T. E em casos mais extremos, a configuração tradicional de chassi tipo escada até favorece a implementação de algumas modificações um tanto extensas na carroceria para atender funções específicas;

5 - pé-duro nos Estados Unidos, prestigiosa no Brasil: assim como qualquer carro na época do Ford Modelo T, que motorizou os Estados Unidos mas continuou sendo coisa de rico no Brasil, as pick-ups médias de um modo geral terem sido alçadas à condição de sonho de consumo da classe média remetem a essa mesma situação.