quinta-feira, 9 de junho de 2022

5 motivos para a Ranger ser o mais próximo de um (improvável) sucessor moderno do Ford Modelo T

Ao longo do tempo, a indústria automobilística tem passado por inúmeras transformações, refletidas em eventuais alterações na estratégia de fabricantes como a Ford que recentemente concentrou esforços nos segmentos de utilitários e descontinuar os automóveis generalistas em algumas regiões, movimentação que também se fez presente no Brasil desde o ano passado após o fechar de todas as fábricas no país. E a aposta exclusivamente em modelos importados com maior foco em caminhonetes gerou, assim como em alguns outros países tanto na América Latina quanto em outras regiões, uma dependência exagerada pela Ranger para alcançar um volume de vendas satisfatório. Também dá margem a observações quanto à eventual função da Ranger como uma espécie de sucessor moderno para o Ford Modelo T, ainda que num primeiro momento possa soar improvável, mas ao menos 5 motivos levam a crer que a Ranger seja hoje o mais próximo do que foi o Modelo T na época áurea dos calhambeques...

1 - layout básico de chassi separado da carroceria: naturalmente haverá quem discorde e diga que eu estou louco, tendo em vista a inegável evolução em sistemas de freio, direção e suspensão por exemplo, ou como os processos produtivos modernos com um grau de automação e sofisticação inimaginável nos primeiros anos da linha de montagem também causariam um distanciamento técnico entre os produtos de diferentes períodos históricos. Mas ao observarmos como uma "receita" básica de chassi tipo escada separado da carroceria com motor longitudinal e tração traseira por eixo rígido se mantém inalterada no segmento das pick-ups médias, em que pese algumas versões oferecerem tração 4X4 como opcional, já é possível constatar um vínculo mais espiritual;

2 - simbolismo junto à classe média urbana: assim como o Ford Modelo T tornou-se um ícone do que viria a ser consolidado como o American Way of Life, posteriormente os "caminhões leves" passariam a ser favorecidos pelo público generalista dos Estados Unidos à medida que incorporavam amenidades e acessórios. E até no Brasil, onde apesar de motivações econômicas favorecerem os motores turbodiesel no segmento de pick-ups médias em contraste com a preferência pela gasolina nos Estados Unidos, vale destacar como utilitários deixaram a austeridade de lado para ganhar a simpatia do público urbano, e até versões como a Ranger Black somente com tração traseira e câmbio automático surgiram para atender a esse segmento;

3 - presença global: hoje são poucos os mercados atendidos pela Ford sem oferecer a Ranger, e o mais curioso é que em alguns países asiáticos onde teoricamente carros compactos seriam favorecidos hoje o modelo mais importante da Ford é justamente a Ranger, principalmente de mão inglesa onde fica difícil desovar outras caminhonetes por serem oferecidas somente em configuração para mão continental. Até nos Estados Unidos onde a atual geração da Ranger chegou tardiamente, tendo em vista que predomina naquele mercado a preferência por caminhonetes full-size mais caras que a Ranger;

4 - versatilidade: apesar do tamanho das caminhonetes médias modernas passar longe de ser prático no uso urbano, é inegável que a capacidade de uma versão com cabine dupla permitir que faça as vezes de carro particular preservando alguma aptidão para funções estritamente utilitárias/profissionais remete às premissas do "carro universal" defendidas por Henry Ford para o Modelo T. E em casos mais extremos, a configuração tradicional de chassi tipo escada até favorece a implementação de algumas modificações um tanto extensas na carroceria para atender funções específicas;

5 - pé-duro nos Estados Unidos, prestigiosa no Brasil: assim como qualquer carro na época do Ford Modelo T, que motorizou os Estados Unidos mas continuou sendo coisa de rico no Brasil, as pick-ups médias de um modo geral terem sido alçadas à condição de sonho de consumo da classe média remetem a essa mesma situação.

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