quinta-feira, 30 de abril de 2020

Momento nostalgia: Ford Escort Hobby 1.0

Um daqueles exemplos do início da consolidação do segmento de carros "populares" o Escort Hobby 1.0 foi uma exigência da Associação Brasileira de Distribuidores Ford (Abradif) que de certa forma é um daqueles exemplos de quando a Ford falhou em atender às demandas do mercado brasileiro e teve a sorte de contar com uma rede de concessionários até mais proativa do que a própria fábrica. Com a chegada de uma nova geração do Escort em '93, a anterior permaneceu como modelo de entrada com a nomenclatura Hobby, e inicialmente o motor CHT 1.6 continuou em uso nessa versão. No entanto, a consolidação do programa de carros populares durante o governo Itamar Franco motivou a Abradif a pleitear uma opção de veículo com motor 1.0 para comercializar, e precisou recorrer à consultoria da antiga Varig Engenharia e Manutenção (VEM) para o desenvolvimento dessa versão do motor que foi apresentada à AutoLatina como uma demanda dos revendedores para o fabricante.
De '94 até ser descontinuado em '96 com a chegada do Fiesta para representar a Ford no segmento de "populares", o Escort Hobby usou o motor CHT 1.0 e portanto beneficiou-se da alíquota de IPI menor para essa faixa de cilindrada. Um modelo antes relativamente comum de se ver nas ruas, atualmente é difícil se deparar com um exemplar em bom estado de conservação como esse '95. Em que pesem uns danos nos parachoques, característica bastante normal em se tratando de veículos Ford dessa época que tinham esse componente muito suscetível à degradação, apresentava um aspecto geral bastante íntegro, ainda mais surpreendente por se tratar de um veículo originalmente comercializado no Rio de Janeiro onde a maresia é implacável...

segunda-feira, 20 de abril de 2020

5 situações que reforçam o atual fracasso do carro "popular"

Que a intenção de alguns dos conceitos de carro popular era válida, não se pode negar. No entanto, em meio às distorções que ocorrem em mercados como o brasileiro, a idéia de considerar a cilindrada como principal parâmetro tornou-se claramente obsoleta à medida que tanto os níveis de exigência do público quanto algumas regulamentações de consumo e emissões levaram a uma maior sofisticação que naturalmente se reflete nos preços iniciais. Há uma infinidade de motivos que podem ser listados entre os que levam o conceito de carro "popular" inicialmente lançado durante o governo Collor e que viria a se consolidar durante a presidência de Itamar Franco a tornar-se ineficaz na atualidade, sendo possível destacar ao menos 5.

1 - negligenciar as necessidades do público rural: tomando por referência o caso do Fusca, que foi relançado entre '93 e '96 beneficiado por uma provisão burocrática que foi essencial para a Volkswagen retomar a produção do modelo ao equiparar para fins da alíquota reduzida de IPI o motor de 1.6L refrigerado a ar com os de 1.0L refrigerados a água usados em outros modelos, é relevante destacar a maior aptidão a condições de terreno mais severas para as quais a configuração de motor e tração traseiros se mantinha mais apropriada em diferentes condições de carga. A prevalência da tração dianteira em compactos de gerações posteriores, por mais que atenda bem ao público urbano, está mais sujeita ao efeito das alterações na distribuição de peso entre os eixos de acordo com a carga, e portanto pode não oferecer a mesma desenvoltura em trechos não-pavimentados. O mais próximo de conciliar uma adequação às necessidades do público urbano sem deixar de atender às necessidades do público rural foi o projeto dos Gurgel BR-800 e Supermini, que mesmo com motor dianteiro e tração traseira contavam com uma distribuição de peso de 50% entre os eixos que se aproximava mais do eixo motriz de acordo com a carga, proporcionando uma capacidade de incursão por terrenos irregulares mais próxima do Fusca que de meras versões depauperadas de modelos generalistas;

2 - inadequação entre um motor eventualmente subdimensionado para um veículo mais pesado: por mais que um motor de 1.0L possa atender bem a um hatch subcompacto como o Renault Kwid, é natural que vá sofrer mais diante do esforço maior para atender por exemplo a um sedan que apesar de ser classificado como compacto é sensivelmente mais pesado mesmo sem estar com carga máxima tomando por exemplo o Renault Logan. Por mais que até na Europa o Logan já seja oferecido com o motor 1.0 de aspiração natural, e em alguns países já é o único motor somente a gasolina oferecido na atual geração, compromete-se em demasia o desempenho e o consumo quando um motor maior pode operar com mais folga valendo-se de faixas de rotação mais modestas e relações de marcha mais longas, beneficiando economia e durabilidade;

3 - downsizing: para beneficiar-se da alíquota de IPI reduzida que beneficia os motores 1.0 diante de similares com cilindrada mais alta, tem ganhado espaço o uso do turbo. Tomando como referência a linha do Hyundai HB20, que na 2ª geração conta com motores 1.0 de aspiração natural com injeção nos pórticos de válvula ou turbo com injeção direta e o 1.6 sempre com aspiração natural e injeção nos pórticos de válvula, chama a atenção o caso do HB20X que vai na onda dos soft-roaders e busca se distanciar das versões mais generalistas ao oferecer além do 1.6 aspirado o 1.0 somente na versão turbo, que a bem da verdade só faz sentido por conta da tributação diferenciada. Ironicamente o sedan HB20S conta com a opção pelo 1.0 aspirado, mesmo sendo mais pesado e portanto sendo desejável um motor mais vigoroso;

4 - não-inclusão de utilitários na regulamentação: pode parecer incoerente diante da glamurização que se criou em torno de certas categorias de veículo como jipes, mas ignorar o eventual uso de um modelo como o Suzuki Jimny tanto como veículo particular ou até mesmo familiar simultaneamente a eventuais aplicações a trabalho não deixa de ser algo estúpido. Atualmente a alíquota de IPI para os utilitários não faz qualquer distinção por faixas de cilindrada, de modo que só compensa trazer para o Brasil o Jimny Sierra com motor de 1.5L ao invés de vir também alguma versão kei com motor de 0.66L turbo que é oferecida no mercado japonês onde modelos nessa faixa de cilindrada que também estão sujeitos a restrições quanto às dimensões externas e potência máxima de 64cv contam com alguns benefícios específicos;

5 - a presepada dos "compactos premium": por mais que em mercados como o sudeste asiático um modelo como o Toyota Yaris XP150 seja reconhecido como o pé-duro que de fato é, chegou ao Brasil com uma imagem de prestígio que não faz jus. A bem da verdade, a imagem da Toyota em qualquer mercado desenvolvido é a de um "Fusca japonês" que não decepciona mas também não empolga, e o fato do Yaris brasileiro ser na verdade um modelo simplificado derivado do Vios desenvolvido em função da China e da Tailândia onde o Yaris comercializado no Japão e na Europa seria demasiado caro apenas reitera o quão abusivo é a Toyota do Brasil fazer o consumidor de trouxa ao vender uma mula de cigano a peso de ouro.

terça-feira, 14 de abril de 2020

5 carros "velhos" ainda subestimados mas que me agradam

1 - Monza: antigo sonho de consumo da classe média, e que durante alguns anos na década de '80 foi o carro mais vendido do Brasil, o sedan médio da Chevrolet foi mais um que sofreu pela concorrência dos importados no início da década de '90. Naturalmente, por se tratar de um projeto antigo não seria tão fácil atender a exigências de segurança mais modernas, mas a plataforma ainda é compatível pelo menos com os freios ABS embora seja um item bastante raro na linha;

2 - Fiat 147: um modelo que ainda tem poucos apreciadores que reconhecem o valor histórico, o 147 tem um tamanho ainda bastante conveniente para uso urbano normal. O fato da plataforma do 147 ter sido reaproveitada no Fiat Uno brasileiro ao invés de recorrer à mesma do modelo europeu também já abre a possibilidade para adaptação não apenas de freios ABS mas até mesmo de airbag se alguém se dispuser a tentar adaptar painel de Palio para acomodar o airbag do passageiro, embora no caso dum projeto tão antigo vá ser como enxugar gelo;

3 - Fiat Elba: a wagon derivada do Uno se destaca pelo conforto e pela capacidade volumétrica, e não deixa a desejar no tocante ao espaço interno mesmo comparada a modelos mais prestigiosos. Ainda seria apropriada para um uso mais geral, tanto a trabalho quanto particular/familiar;

4 - Polo Classic argentino: primeiro modelo da linha Polo a ser comercializado regularmente no Brasil, onde não repetiu o sucesso obtido em mercados vizinhos como a Argentina onde era feito, o Polo Classic sofre uma rejeição consideravelmente maior em comparação a outros carros compactos da Volkswagen que eram feitos no Brasil;

5 - Passat LSE "Iraque": uma versão especial para exportação, mas que a Volkswagen ofereceu no Brasil alguns excedentes de produção que deixaram de ser enviados ao Iraque em função da queda no valor do petróleo recebido em pagamento e repassado à Petrobras, destacava-se pelo acabamento tido como de qualidade superior ao das versões nacionais, além do ar condicionado redimensionado para suportar as temperaturas extremas de regiões desérticas. Na parte mecânica, o motor MD-270 de 1.6L e o câmbio com 4 marchas poderiam parecer obsoletos, mas foram escolhidos exatamente por causa da robustez para suportar as condições das vias e dos motoristas iraquianos, contando também com radiador de cobre ao invés de alumínio para proporcionar uma melhor dissipação de calor. Mesmo que um ou outro exemplar sem maiores descaracterizações já caia nas graças de colecionadores e apreciadores do Passat, muitos acabaram sofrendo descaracterizações como a troca do motor pelo AP 1.8 e do câmbio por um de 5 marchas.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

5 motivos para ainda gostar do Toyota Bandeirante


Em meio à era dos soft-roaders que ficam mais à vontade no estacionamento de um shopping, um jipão raiz como o Toyota Bandeirante ainda se destaca como símbolo de épocas mais gloriosas no tocante a utilitários aptos a enfrentar as condições de rodagem mais pesadas. E mesmo que hoje não seja tão apreciado pelo público generalista influenciado por modismos e ignorante quanto à valiosa contribuição desse modelo para o desenvolvimento brasileiro nas mais diversas frentes econômicas e de segurança e defesa, ainda há uma série de motivos para apreciá-lo, dentre os quais pode-se destacar ao menos 5.

1 - durabilidade: a boa fama hoje carregada pelos automóveis da Toyota, que até a década de '90 tinha o Bandeirante como único produto no mercado brasileiro, persiste exatamente graças ao Bandeirante;

2 - porte razoável até para trafegar em ambiente urbano: embora seja até um desperdício deixar de explorar as aptidões off-road do Toyota Bandeirante, a carroceria jipe com capota de aço consegue ser melhor do que muito hatch compacto moderno no tráfego urbano. Apesar da altura que amplia o campo de visão, o modelo é mais curto e estreito que a maioria dos hatches 0km hoje à venda no Brasil, além de ter uma distância entre-eixos mais curta que reduz o diâmetro de giro e assim facilita manobras em espaços mais apertados que é útil tanto para desvencilhar-se de algum obstáculo no meio do mato quanto para estacionar numa vaga pequena;

3 - imponência: essa característica é particularmente útil tendo em vista que muitos ignorantes só entendem a linguagem da violência e do medo, e nesse aspecto a robustez e brutalidade exaladas pelo Bandeirante parecem dissuadir alguns encrenqueiros quanto à possibilidade de criar confusão com o condutor. Apesar disso, infelizmente ainda é importante atentar para o risco de furtos ou roubos à mão armada que acometem praticamente qualquer modelo equipado com motor Diesel, e no caso de antigos em geral ou de utilitários chega a ser mais crítico. Na pior das hipóteses, o fato de ter chassi separado da carroceria facilita blindar e remanufaturar a blindagem quando se fizer necessário;

4 - resiliência diante da precariedade da malha viária: por mais que não pareça muito adequado às condições do tráfego rodoviário, mais exigentes no tocante à velocidade e que exigem uma atenção especial ao se conduzir um utilitário devido ao centro de gravidade mais alto, a má conservação do pavimento que se alastrou por ruas e estradas é um bom motivo para que a robustez do Toyota Bandeirante seja apreciada;

5 - beleza: naturalmente vai haver quem não sabe apreciar a sobreposição da funcionalidade sobre a forma, típica de utilitários tradicionais de uma época em que não haviam se convertido em objeto de desejo de um público urbano emergente que vê uma caminhonete 4X4 como símbolo de status, mas o Toyota Bandeirante é muito mais elegante do que algumas invencionices modernas que parecem ter saído de algum filme de ficção científica.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

5 veículos improváveis que em algum momento me pareceu tentadora a idéia de adaptar motor de Fusca

Não é nenhuma novidade que o Fusca foi uma verdadeira escola para muitos mecânicos brasileiros, não só devido à simplicidade que facilitava a familiarização de iniciantes como pelo grande sucesso comercial no país. Como seria de se esperar, além de ter servido de base para alguns modelos feitos por fabricantes independentes nos mais diversos segmentos abrangendo de esportivos a pequenos utilitários, também teve o conjunto mecânico muito usado para adaptações num período em que as importações extremamente restritas limitavam não apenas a variedade de veículos estrangeiros no país mas também a obtenção de peças de reposição para alguns modelos antigos principalmente de origem inglesa ou francesa. Mas mesmo passada essa fase, e com as importações restabelecidas, não é de todo impossível que em alguns momentos pareça tentador recorrer a adaptações com motor de Fusca em veículos de outros fabricantes pelas mais diversas razões. Podem ser destacados ao menos 5 exemplos.

1 - Asia Motors Towner: verdadeiro fenômeno de popularidade entre os importados na década de '90, a microvan coreana hoje é acometida pela falta de peças originais e também pela má-vontade de alguns mecânicos que não fazem questão nem de tentar averiguar intercambialidade de componentes com modelos mais comuns ou algumas pequenas adaptações. Devido à largura bastante diminuta, não seria tão fácil adaptar um motor de Fusca na posição do tricilíndrico de 0.8L original sob os assentos dianteiros, mas o fato de já haver em circulação no interior de Pernambuco ao menos um exemplar que foi repotenciado com motor e transeixo traseiro do Fusca na parte traseira adaptados ao chassi original da Towner já faz com que a idéia pareça plausível. O fato de tanto o Fusca quanto a Towner terem o chassi separado da carroceria também fomenta a especulação em torno da adaptabilidade da carroceria da Towner sobre um chassi encurtado de Fusca, com as correspondentes alterações que o sistema de direção exigiria em função do cockpit avançado. Guardadas as devidas proporções, o fato da própria Volkswagen ter oferecido na Kombi um cockpit avançado mesmo usando uma plataforma própria ao invés de ter reaproveitado o chassi do Fusca não deixa de oferecer uma perspectiva mais favorável à adaptação na Towner;

2 - Daihatsu Terios: o SUV compacto japonês, que foi um dos primeiros expoentes dessa categoria no Brasil, sofre com a falta de assistência técnica mesmo que a fabricante pertença à Toyota, e a bem da verdade os sistemas de tração 4X4 da Daihatsu costumam ser reputados um tanto difíceis de fazer algum serviço. É impossível negar que às vezes parece tentadora a idéia de adaptar toda a mecânica do Fusca num Terios, ainda que seja uma alteração muito drástica tendo em vista as posições dos motores em ambos os modelos, apesar de que um motor de Fusca atrás dispensaria a tração 4X4 que se faz necessária ao Terios em algumas circunstâncias. E naturalmente, para quem tenha um apreço maior pelo cumprimento de normas de emissões ao menos equivalentes às do ano de fabricação, vale lembrar da continuidade do motor Volkswagen boxer já com injeção eletrônica na Kombi entre '97 e 2006;

3 - Mazda MX-5/Miata de 1ª geração: o icônico roadster japonês, apesar de ter plataforma própria, me lembra de certa forma o Karmann-Ghia na proposta de ser um esportivo de concepção mecânica relativamente descomplicada. Uma possível vantagem para o Miata estaria na posição dianteira do motor, e o fato de alguns já terem sido adaptados com motores V8 no exterior leva a crer que manter essa característica não seria tão difícil, o que até favorece mais a captação de ar para refrigeração em comparação ao Karmann-Ghia. Apesar de que a idéia de montar uma mecânica Volkswagen completa atrás e deixar os puristas enlouquecidos também faria parte da diversão. E como seria de se esperar, em se tratando de um esportivo, a oferta de componentes para preparação do motor boxer tornaria mais improvável que se viesse a sentir saudade do motor original;

4 - Nissan Juke: com proporções que lembram vagamente um buggy, a configuração original com o motor em posição dianteira transversal tornaria ainda mais desafiadora a adaptação de um motor de Fusca, mas não o suficiente para que a idéia de trazer uma carroceria via Paraguai ou Uruguai e fazer a montagem sobre um buggy já legalizado deixe de ser tentadora, evidentemente com a instalação de um quadro corta-fogo com acessos para manutenção na parte traseira;

5 - Subaru Impreza de 1ª geração: o fato de ter originalmente um motor boxer, ainda que muito mais sofisticado ao já incorporar comando de válvulas nos cabeçotes com sincronização por correia dentada e 5 mancais de virabrequim, credenciaria o Impreza entre os modelos mais tecnicamente viáveis para se adaptar o motor Volkswagen. E para não deixar os fanáticos quase religiosos que consideram perfeita qualquer coisa que a Subaru disponibilize, não seria necessário abrir mão nem da tração permanente nas 4 rodas se fosse o caso, acoplando o motor diretamente ao câmbio original tal qual se faz em alguns Fuscas repotenciados justamente com motor Subaru. A tentação de se adaptar um motor de Fusca num Impreza seria ainda maior para reacender debates sobre o culto exagerado à modernidade que relegou à obsolescência o comando de válvulas no bloco e a refrigeração a ar...