sábado, 15 de dezembro de 2018

Híbridos virando mainstream: parecia improvável acontecer tão cedo

É muito comum no Brasil crer que tecnologias já em vias de se tornar comuns no dia a dia não tenham a mesma celeridade para chegar aqui. O caso dos veículos híbridos é um desses, e portanto não deixa de ser surpreendente que o primeiro exemplar da atual geração do Volvo S90 que eu vi ao vivo seja precisamente um híbrido. O que 10 anos atrás efetivamente soava impossível e me arrancaria umas risadas se me fosse dada uma previsão, hoje já não é tão chocante...
A recente alteração nas alíquotas de IPI para automóveis híbridos e elétricos, de 25% para uma faixa de 7 a 18% nos elétricos e de 9 a 20% nos híbridos, faz com que a diferença entre os preços de versões não-híbridas e híbridas de um mesmo modelo fique mais estreita, o que se evidencia mais em segmentos com valor agregado mais alto. O custo das baterias, que ainda é um dos maiores empecilho tanto para híbridos quanto elétricos puros, acaba não só amortizado pela vantagem fiscal mas também se reflete em alguns aspectos que norteiam a expectativa por uma maior economia de combustível. O sistema usado pela Volvo, que não é tão semelhante ao que foi popularizado pela Toyota, vale-se de um motor elétrico plano (ou "pancake") entre o volante do motor a gasolina e o câmbio automático no lugar de um conversor de torque hidráulico e de outro motor elétrico acoplado diretamente ao diferencial traseiro, o que pode soar eficiente ao eliminar o deslizamento inerente a um conversor de torque hidráulico e o arrasto inerente a um sistema mais convencional de tração permanente nas 4 rodas com diferencial central e eixo cardan.

A possibilidade de acoplar acessórios como um compressor de ar condicionado ao motor elétrico não deixa de ser um atrativo, tendo em vista que o interior do veículo fica com uma temperatura agradável mesmo com o motor a gasolina desligado ao se aguardar num semáforo por exemplo. O motor elétrico já faz as vezes de um motor de arranque e de um alternador, o que serviria de pretexto para dispensar correias de acessórios se não fosse pelo uso de um supercharger (o blower) no motor a gasolina como auxílio para mitigar o turbo-lag. Não me causaria tanta surpresa se, ao invés do supercharger, viesse a ser usado o sistema MGU-H (um turbo acoplado a um starter-generator) oriundo da Fórmula 1 em futuros modelos híbridos, de modo a não só mitigar o turbo-lag de uma forma tida como mais eficiente mas também aumentar a recuperação de energia em desacelerações e até proporcionar um efeito de freio-motor mais intenso, reduzindo o esforço que os freios de serviço teriam que suportar e assim aumentando a vida útil dos mesmos.

Ainda que obviamente o custo de incorporação seja mais facilmente amortizado numa barca de luxo, a presença cada vez maior do câmbio automático na frota brasileira é convidativa à popularização de sistemas híbridos, tanto pela facilidade de se promover a familiarização de usuários quanto pela transição mais suave entre os modos de funcionamento com apenas um motor. Benefícios fiscais tendem a fazer com que a adoção desse recurso ganhe força a exemplo do que ocorreu com o etanol na época do ProÁlcool, guardadas as devidas proporções. Enfim, se antes parecia muito improvável que os híbridos se tornassem mainstream, a presença de mercado mais visível num primeiro momento em segmentos prestigiosos já os põe a meio caminho andado de alcançar o público generalista.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Ford Modelo A 1929 RHD

Automóveis com o cockpit do lado direito não são muito comuns no Brasil, então naturalmente essa característica saltou aos olhos quando eu vi esse Ford Modelo A 1929. Ao que tudo indica, era já originalmente uma pick-up, e aparenta estar ainda em plenas condições de uso, embora estivesse sendo usado como quiosque para vender pipoca. A fabricação desse exemplar deve ter sido feita no Canadá, onde por muito tempo concentrou-se a produção das versões RHD de automóveis dos principais fabricantes americanos, visando atender tanto a países da Comunidade Britânica onde ainda se usasse a mão inglesa quanto mercados de exportação diversos que ainda preservassem esse hábito, como foi o caso da Argentina e do Uruguai ao menos até a década de '40. Diga-se de passagem, o mais provável é que esse Modelo A tenha sido trazido já usado justamente do Uruguai.