Um dos modelos mais incompreendidos da história automobilística recente, o Chrysler Crossfire foi apresentado inicialmente em 2001 numa versão roadster, e produzido entre os anos de 2003 e 2007 abrangendo os anos-modelo de 2004 a 2008 incluindo também uma versão cupê como a que se vê nas fotos. Para um esportivo "americanizado", apesar da produção concentrada na fábrica da Karmann em Osnabrück (Alemanha) e de usar a plataforma da primeira geração do Mercedes-Benz SLK (R170) produzida entre 1996 e 2004, possivelmente a falta da opção por um motor V8 há de ter pesado contra, além do desinteresse do consumidor americano em pagar preço de importado premium por um modelo de um fabricante local. Outro fator polêmico era o uso de uma caixa de direção por setor e rosca sem-fim com esferas recirculantes que, apesar da consagrada durabilidade, era apontada por alguns críticos como uma opção menos adequada às pretensões esportivas do modelo em comparação com o sistema por pinhão e cremalheira que atualmente predomina nos veículos leves. Contou apenas com o motor Mercedes-Benz M112, um V6 de 3.2L com comandos de válvulas simples nos cabeçotes (SOHC) e 3 válvulas por cilindro, em versões de aspiração natural com 215hp e 310Nm, ou com supercharger e intercooler na versão SRT-6 de 354hp e 450Nm, e a velocidade era sempre limitada eletronicamente a 250km/h, embora ao desabilitar o limitador como podia ser feito no Mercedes-Benz SLK32 AMG seja possível quebrar a barreira dos 300km/h. As opções de câmbio eram um manual de 6 marchas ou um automático de 5, que por incrível que pareça obtinha médias de consumo de combustível mais satisfatórias devido às relações de marcha melhor escalonadas.
sábado, 29 de março de 2014
sexta-feira, 28 de março de 2014
Uma reflexão sobre desafios da "renovação de frota"
Não é de hoje que a tão comentada "renovação de frota" gera reações um tanto extremas quando é posta na pauta de discussões. De um lado aqueles que demonizam alguns veículos apenas em função da idade, esquecendo a importância que podem ter apresentado para o desenvolvimento brasileiro em algum determinado momento, ou mesmo a nostalgia que possam despertar, enquanto outros levantam objeções embasadas por diversos motivos, desde a inviabilidade em substituir um modelo específico por outro com capacidades e aptidões semelhantes sem um grande impacto financeiro para o proprietário/operador ou mesmo por considerar outros tópicos como mais prioritários. De quê adiantaria, por exemplo, o governo tentar forçar o sucateamento de um Fiat Fiorino da primeira geração apenas pela idade e negligenciar a manutenção de ruas e estradas? É justo visar apenas uma maior arrecadação de impostos sobre a propriedade e circulação de veículos automotores e não reverter isso em infra-estrutura e engenharia de tráfego decentes que por conseguinte levariam até mesmo a uma redução nas estatísticas de acidentes?
Um aspecto discutido à exaustão é a emissão de poluentes: de fato, modelos de concepção mais antiga tem limitações nesse sentido, mas ainda assim seria injusto deixar de reconhecer alguns aspectos positivos no tocante à adaptabilidade a combustíveis alternativos. Por exemplo, até um Mercedes-Benz 200D da segunda metade da década de 70, facilmente adaptável não só ao biodiesel mas até ao uso de óleos vegetais brutos como combustível, já pode ser considerado mais limpo que um Toyota Prius que, além de ficar mais restrito à gasolina e eventuais gambiarras para usar etanol ou gás natural, tem na maior complexidade técnica um agravante na hora de descartar e reprocessar alguns componentes ao final da vida útil, desde elementos mais triviais como velas de ignição até a bateria tracionária e o motor elétrico...
De um modo geral, é perfeitamente compreensível que automóveis de segmento superior, mesmo aqueles menos prestigiados pelo consumidor brasileiro como o Daewoo Ace/Super Salon, continuem despertando algum interesse depois de "velhos", tanto pela percepção de uma melhor qualidade quanto pela presença de equipamentos de conforto e segurança que não faz feio diante do que se fabrica hoje no Brasil. O preço de um usado mais equipado em comparação com um "popular" depenado faz toda a diferença nesse caso...
Considerando muitos aspectos que vão desde os altos custos de licenciamento até as restrições ao uso de motores a diesel baseados arbitrariamente em capacidade de carga, passageiros ou tração, um único veículo mais antigo que seja adequado a diferentes necessidades que vão desde o uso familiar, particular ou recreacional até o uso em serviços (pedreiros, serralheiros, encanadores, entre outros) como uma Ford F-1000 com cabine dupla artesanal acaba sendo mais atraente para alguns usuários do que qualquer hatch "popular" 0km que, além das capacidades mais modestas, chega a custar mais caro. O preço muito alto para qualquer utilitário 0km com capacidades semelhantes também faz com que o consumidor fique entre a cruz e a espada quando está diante de um orçamento limitado, e acabe pendendo mais para um antigo.
A isenção de IPVA para veículos com mais de 15 anos de fabricação também pesa favoravelmente, bem como o fato do referido imposto ser atrelado ao valor de mercado atribuído pela Secretaria da Fazenda, normalmente com base na tabela da FIPE. É exatamente aí que tem se originado uma das polêmicas mais recentes: sabendo de intenções do governo em alterar a tributação sobre a frota circulante a partir de 2017, quando está prevista a implementação da próxima etapa do programa Inovar-Auto, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) apresentou uma proposta para que os antigos passassem a ser sobretaxados em relação aos novos, com a expectativa de incrementar artificialmente o mercado. No entanto, tal medida pode ser vista como um tiro no pé, ao abrir precedentes para um "apartheid automotivo". Logo um governo que se vangloria, entre outros pontos, de "democratizar" o acesso ao crédito (estimulando o endividamento da população mais pobre sob um falso pretexto de ascensão social), estaria se contradizendo ao tentar varrer para baixo do tapete um bem que acaba sendo adquirido às custas de muito esforço e criando dificuldades para o cidadão que deseje escolher o veículo que mais se enquadre nas suas preferências pessoais e estilo de vida, além daqueles que não se desfazem do "velhinho" por atender melhor a alguma necessidade mais específica...
Para a indústria, o desafio também é bastante complexo: diversos modelos antigos, tanto nacionais como o Gurgel Supermini BR-SL quanto importados como o Daihatsu Cuore, podem ser considerados tecnicamente superiores aos "populares" atualmente oferecidos no mercado brasileiro em alguns aspectos. Mesmo que alguns dispositivos de segurança como airbags e freios com ABS não fossem tão comuns na época que esses modelos eram disponíveis como 0km, o Gurgel apresenta uma estrutura bastante sólida e melhor dimensionada às condições de rodagem terceiro-mundistas do que versões simplificadas de projetos europeus atualmente predominantes, e no caso do Daihatsu cabe destaque à qualidade construtiva e às médias de consumo que podem rondar facilmente a faixa dos 20 a 25km/l que nenhum "popular" mais recente com motor "flex" consegue alcançar sem maiores sacrifícios, e em ambos apesar das dimensões mais modestas até mesmo que as de um Ford Ka o aproveitamento do espaço interno é exemplar. Tentar convencer o proprietário de um modelo desses a substituí-lo por um 0km disponível regularmente no mercado brasileiro não parece uma tarefa tão fácil...
Caso a prioridade fosse mesmo o interesse em restringir a circulação de "sucatões" em estado inadequado de conservação e manutenção que realmente colocam em xeque a segurança viária, ao invés da gana arrecadatória que vem norteando a administração pública brasileira, bastaria uma política de inspeção veícular clara e objetiva. Cabe recordar, no entanto, que esse cenário não seria tão favorável quanto a ANFAVEA possa supor, pois a migração de usuários dos automóveis para as motocicletas tenderia a se intensificar, devido aos menores custos de aquisição, operacionais e de manutenção. Tal fenômeno já pode ser observado na maior popularização da motocicleta como alternativa aos precários serviços de transporte público oferecidos nas principais regiões metropolitanas, e também no interior onde chega a ser quase inexistente. Embora um carro ainda seja considerado mais desejável que a moto pela maior parte do público brasileiro, no caso de uma renovação de frota "por decreto" seria até previsível que o cidadão forçado a se desfazer de um Fiat 147 tivesse menos dificuldade para absorver o impacto financeiro da aquisição de uma motocicleta de baixa cilindrada e um side-car que o de um carro "popular" 0km...
Na prática, para que a "renovação de frota" seja mesmo implementada de forma condizente à realidade econômica e social brasileira, muitos outros fatores além do financiamento a perder de vista e do parasitismo fiscal devem ser levados em conta, para que possa haver de fato uma boa adequação às necessidades e condições operacionais.
De um modo geral, é perfeitamente compreensível que automóveis de segmento superior, mesmo aqueles menos prestigiados pelo consumidor brasileiro como o Daewoo Ace/Super Salon, continuem despertando algum interesse depois de "velhos", tanto pela percepção de uma melhor qualidade quanto pela presença de equipamentos de conforto e segurança que não faz feio diante do que se fabrica hoje no Brasil. O preço de um usado mais equipado em comparação com um "popular" depenado faz toda a diferença nesse caso...
Considerando muitos aspectos que vão desde os altos custos de licenciamento até as restrições ao uso de motores a diesel baseados arbitrariamente em capacidade de carga, passageiros ou tração, um único veículo mais antigo que seja adequado a diferentes necessidades que vão desde o uso familiar, particular ou recreacional até o uso em serviços (pedreiros, serralheiros, encanadores, entre outros) como uma Ford F-1000 com cabine dupla artesanal acaba sendo mais atraente para alguns usuários do que qualquer hatch "popular" 0km que, além das capacidades mais modestas, chega a custar mais caro. O preço muito alto para qualquer utilitário 0km com capacidades semelhantes também faz com que o consumidor fique entre a cruz e a espada quando está diante de um orçamento limitado, e acabe pendendo mais para um antigo.
A isenção de IPVA para veículos com mais de 15 anos de fabricação também pesa favoravelmente, bem como o fato do referido imposto ser atrelado ao valor de mercado atribuído pela Secretaria da Fazenda, normalmente com base na tabela da FIPE. É exatamente aí que tem se originado uma das polêmicas mais recentes: sabendo de intenções do governo em alterar a tributação sobre a frota circulante a partir de 2017, quando está prevista a implementação da próxima etapa do programa Inovar-Auto, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) apresentou uma proposta para que os antigos passassem a ser sobretaxados em relação aos novos, com a expectativa de incrementar artificialmente o mercado. No entanto, tal medida pode ser vista como um tiro no pé, ao abrir precedentes para um "apartheid automotivo". Logo um governo que se vangloria, entre outros pontos, de "democratizar" o acesso ao crédito (estimulando o endividamento da população mais pobre sob um falso pretexto de ascensão social), estaria se contradizendo ao tentar varrer para baixo do tapete um bem que acaba sendo adquirido às custas de muito esforço e criando dificuldades para o cidadão que deseje escolher o veículo que mais se enquadre nas suas preferências pessoais e estilo de vida, além daqueles que não se desfazem do "velhinho" por atender melhor a alguma necessidade mais específica...
Para a indústria, o desafio também é bastante complexo: diversos modelos antigos, tanto nacionais como o Gurgel Supermini BR-SL quanto importados como o Daihatsu Cuore, podem ser considerados tecnicamente superiores aos "populares" atualmente oferecidos no mercado brasileiro em alguns aspectos. Mesmo que alguns dispositivos de segurança como airbags e freios com ABS não fossem tão comuns na época que esses modelos eram disponíveis como 0km, o Gurgel apresenta uma estrutura bastante sólida e melhor dimensionada às condições de rodagem terceiro-mundistas do que versões simplificadas de projetos europeus atualmente predominantes, e no caso do Daihatsu cabe destaque à qualidade construtiva e às médias de consumo que podem rondar facilmente a faixa dos 20 a 25km/l que nenhum "popular" mais recente com motor "flex" consegue alcançar sem maiores sacrifícios, e em ambos apesar das dimensões mais modestas até mesmo que as de um Ford Ka o aproveitamento do espaço interno é exemplar. Tentar convencer o proprietário de um modelo desses a substituí-lo por um 0km disponível regularmente no mercado brasileiro não parece uma tarefa tão fácil...
Na prática, para que a "renovação de frota" seja mesmo implementada de forma condizente à realidade econômica e social brasileira, muitos outros fatores além do financiamento a perder de vista e do parasitismo fiscal devem ser levados em conta, para que possa haver de fato uma boa adequação às necessidades e condições operacionais.
terça-feira, 25 de março de 2014
Momento nostalgia: Daewoo Prince/Ace/Super Salon
Durante a década de '90, automóveis importados das mais diversas origens voltavam a aparecer no mercado brasileiro. Um dos modelos dessa época que, apesar de não ser tão exaltado, eu ainda gosto bastante, é o Daewoo Prince. Fabricado entre '91 e '97 na Coréia do Sul pela extinta divisão automotiva da Daewoo (atualmente incorporada à General Motors), tinha um design moderno à época e bastante agradável até hoje. O layout mecânico de motor dianteiro longitudinal e tração traseira por eixo rígido (associado a ) já não era tão popular em sedãs mid-size naquele período, mas não se mostrava de todo inadequado, pois o conjunto geral ainda era capaz de proporcionar conforto compatível com o que havia de mais moderno no segmento e se adapta bem às irregularidades na pavimentação brasileira. A plataforma era derivada do Opel Rekord E fabricado entre '77 e '86 mas nunca oferecido no mercado brasileiro (que ainda dispunha do Opala, baseado no Rekord C), e o motor de 2.0L com versões de 8 ou 16 válvulas era o mesmo usado nos Opel "tropicalizados" e vendidos como Chevrolet Kadett, Chevrolet Monza (Opel Ascona), Chevrolet Vectra, Chevrolet Astra e Chevrolet Omega (sucessor do Rekord E no mercado europeu, e concorrente direto do Prince), dispondo de câmbio manual de 5 marchas ou automático de 4 marchas como opcional (privilégio que no Omega era reservado às versões de 6 cilindros). Em outros mercados havia ainda uma versão de 1.8L só com câmbio manual. Apesar de todo o conteúdo mecânico da GM, me lembra bastante o Ford Crown Victoria da mesma época...
Houve ainda o Daewoo Super Salon, também conhecido como Daewoo Ace, que usava elementos de estilo mais formais e acabamento interno com pretensões mais luxuosas, apesar da mecânica ser a mesma. O design, outra vez, acaba me remetendo a um modelo da Ford, o LTD australiano...
Houve ainda o Daewoo Super Salon, também conhecido como Daewoo Ace, que usava elementos de estilo mais formais e acabamento interno com pretensões mais luxuosas, apesar da mecânica ser a mesma. O design, outra vez, acaba me remetendo a um modelo da Ford, o LTD australiano...
segunda-feira, 17 de março de 2014
Uma breve reflexão sobre o side-car no mercado brasileiro
Um país empobrecido pela administração pública extremamente parasitária, com alto custo de combustíveis e outros insumos, parece oferecer condições operacionais bastante propícias ao uso das motos com side-car para transporte de passageiros, embora no Brasil isso acabe não ocorrendo, e seja mais utilizado para cargas, principalmente garrafões de água mineral e botijões de gás. Além de alguns fatores "culturais" que provocam uma rejeição ao side-car, como o uso pelos nazistas durante a II Guerra Mundial (tanto que ainda há quem se refira a motos com side-car como "a moto do nazista"), a burocracia brasileira também leva a um declínio no interesse por essa eficiente solução para o transporte leve que, embora tenha se consolidado no mercado europeu desde a primeira década do século passado só começou a ganhar força na República das Bananas em '97.
A exigência de emplacamento para o side-car, mesmo sendo atualmente considerado pelo DENATRAN uma carroceria ao invés de ser equiparado aos reboques, sempre foi um ponto polêmico: se antes ao ter placa específica para o implemento era mais fácil uma intercambialidade entre diferentes motos, agora é registrado como parte integrante da moto à qual estiver atrelado, devendo ter uma placa idêntica, o que acaba por requerer mais burocracia ao transferir o equipamento para outra moto. Como o side-car não impede a correta visualização da placa do veículo, já me parece um contra-senso exigir que seja emplacado. E mesmo assim, a manobrabilidade e facilidade em encontrar vagas para estacionamento mesmo em áreas com fluxo intenso de veículos tem proporcionado um crescimento na aceitação do side-car no uso comercial e de serviços.
Cabe também salientar a racionalização da extensão da plataforma de carga, considerando que uma Honda CG 125 tem pouco mais da metade do comprimento de um Ford Ka mesmo atrelada ao side-car, e ainda leva vantagem pela proporção de carga e passageiros distribuídos pela área ocupada no leito carroçável da via...
Os side-cars destinados ao transporte de passageiros, além de serem associados pelo brasileiro mediano à imagem de gambiarra devido à simplicidade construtiva, o uso no Brasil ficar mais restrito a motos "populares" entre 125cc e 150cc fazer com que acabe não sendo considerado tão "nobre" e, pela falta de uma cultura motociclística realmente desenvolvida apesar da participação das motocicletas no mercado nacional ter crescido muito tanto nos modelos básicos como a Honda CG quanto em segmentos de maior prestígio, o side-car acaba não tendo o merecido reconhecimento. A possibilidade de obter médias de consumo na faixa de 25km/l e a menor quantidade de peças de reposição já trazem vantagens tanto sob o ponto de vista financeiro quanto o ecológico em comparação a qualquer automóvel 0km atualmente à venda no Brasil, desde um "popular" que mal consiga superar os 12km/l e cujo custo esteja beirando os R$30.000,00 até os poucos híbridos oferecidos oficialmente. Além do custo de aquisição do conjunto formado por uma moto de baixa cilindrada e um side-car ficar numa faixa em torno de R$13.000,00 há de se incluir na conta a menor quantidade de matérias-primas e energia a serem gastas na produção tanto da moto quanto do side-car e respectivas peças de reposição que venham a ser usadas durante a vida útil operacional.
A imposição da idade mínima de 7 anos para que uma criança possa ser transportada no side-car, mesmo com capacete e cinto de segurança tal como na moto, também desincentiva o uso familiar. Nesse aspecto, me parece que há um interesse deliberado em criar tantos entraves burocráticos ao side-car apenas para impedir um possível impacto do incremento na eficiência energética da frota nacional sobre o caixa da Petrobras, enquanto não há impedimento ao transporte de crianças em veículos de 4 rodas e carroceria aberta, como alguns jipes.
A exigência de emplacamento para o side-car, mesmo sendo atualmente considerado pelo DENATRAN uma carroceria ao invés de ser equiparado aos reboques, sempre foi um ponto polêmico: se antes ao ter placa específica para o implemento era mais fácil uma intercambialidade entre diferentes motos, agora é registrado como parte integrante da moto à qual estiver atrelado, devendo ter uma placa idêntica, o que acaba por requerer mais burocracia ao transferir o equipamento para outra moto. Como o side-car não impede a correta visualização da placa do veículo, já me parece um contra-senso exigir que seja emplacado. E mesmo assim, a manobrabilidade e facilidade em encontrar vagas para estacionamento mesmo em áreas com fluxo intenso de veículos tem proporcionado um crescimento na aceitação do side-car no uso comercial e de serviços.
Cabe também salientar a racionalização da extensão da plataforma de carga, considerando que uma Honda CG 125 tem pouco mais da metade do comprimento de um Ford Ka mesmo atrelada ao side-car, e ainda leva vantagem pela proporção de carga e passageiros distribuídos pela área ocupada no leito carroçável da via...
Os side-cars destinados ao transporte de passageiros, além de serem associados pelo brasileiro mediano à imagem de gambiarra devido à simplicidade construtiva, o uso no Brasil ficar mais restrito a motos "populares" entre 125cc e 150cc fazer com que acabe não sendo considerado tão "nobre" e, pela falta de uma cultura motociclística realmente desenvolvida apesar da participação das motocicletas no mercado nacional ter crescido muito tanto nos modelos básicos como a Honda CG quanto em segmentos de maior prestígio, o side-car acaba não tendo o merecido reconhecimento. A possibilidade de obter médias de consumo na faixa de 25km/l e a menor quantidade de peças de reposição já trazem vantagens tanto sob o ponto de vista financeiro quanto o ecológico em comparação a qualquer automóvel 0km atualmente à venda no Brasil, desde um "popular" que mal consiga superar os 12km/l e cujo custo esteja beirando os R$30.000,00 até os poucos híbridos oferecidos oficialmente. Além do custo de aquisição do conjunto formado por uma moto de baixa cilindrada e um side-car ficar numa faixa em torno de R$13.000,00 há de se incluir na conta a menor quantidade de matérias-primas e energia a serem gastas na produção tanto da moto quanto do side-car e respectivas peças de reposição que venham a ser usadas durante a vida útil operacional.
A imposição da idade mínima de 7 anos para que uma criança possa ser transportada no side-car, mesmo com capacete e cinto de segurança tal como na moto, também desincentiva o uso familiar. Nesse aspecto, me parece que há um interesse deliberado em criar tantos entraves burocráticos ao side-car apenas para impedir um possível impacto do incremento na eficiência energética da frota nacional sobre o caixa da Petrobras, enquanto não há impedimento ao transporte de crianças em veículos de 4 rodas e carroceria aberta, como alguns jipes.
sexta-feira, 14 de março de 2014
Clássico brasileiro: Puma GTB S1
Entre 1976 e 1990 o mercado brasileiro estava muito fechado às importações de veículos automotores, então fabricantes mais especializados preenchiam nichos que eram um tanto ignorados pelas "4 grandes" da época que eram Volkswagen, Chevrolet, Ford e Fiat. Uma das que mereciam destaque entre os fora-de-série era a Puma, não apenas pelos modelos de mecânica Volkswagen já amplamente conhecidos a nível mundial mas também pelo GTB, que além da mecânica Chevrolet chega a lembrar o Camaro da época em algumas proporções.
O motor de 6 cilindros em linha e 250 polegadas cúbicas (cerca de 4.1L) com baixa compressão (mais adequado à gasolina de 78 octanas) usado pela Chevrolet brasileira no Opala também servia no exterior a versões mais básicas do Camaro, como a que foi montada entre 1967 e 1969 pela Yutivo nas Filipinas, e no GTB era suficiente para chegar a 190km/h sem alterações de motor e relação de marchas. No caso do GTB, a carroceria de fibra de vidro acabava tendo vantagens em função do peso ligeiramente mais contido, e da maior resistência à corrosão. O chassi era tubular, específico para o modelo, e a suspensão tinha algumas alterações em relação à original do Opala.
Lançado em 1973, teve comercialização iniciada em 1974, e a Série 1 durou até 1979 (ano do exemplar das fotos).
O motor de 6 cilindros em linha e 250 polegadas cúbicas (cerca de 4.1L) com baixa compressão (mais adequado à gasolina de 78 octanas) usado pela Chevrolet brasileira no Opala também servia no exterior a versões mais básicas do Camaro, como a que foi montada entre 1967 e 1969 pela Yutivo nas Filipinas, e no GTB era suficiente para chegar a 190km/h sem alterações de motor e relação de marchas. No caso do GTB, a carroceria de fibra de vidro acabava tendo vantagens em função do peso ligeiramente mais contido, e da maior resistência à corrosão. O chassi era tubular, específico para o modelo, e a suspensão tinha algumas alterações em relação à original do Opala.
Lançado em 1973, teve comercialização iniciada em 1974, e a Série 1 durou até 1979 (ano do exemplar das fotos).
quinta-feira, 13 de março de 2014
Climatização evaporativa em veículos de transporte de passageiros
Embora o uso predominante dos climatizadores evaporativos seja na cabine de caminhões, ou nos blindados para transporte de valores, também são uma opção adequada ao uso em veículos de transporte de passageiros, como ônibus e vans. Já cheguei a ver em Porto Alegre alguns microônibus e vans equipados com climatizadores evaporativos, que em função do clima um tanto seco acabam tendo eficiência em proporcionar um conforto térmico adequado com um impacto menor no consumo de combustível do veículo. Vale destacar que, no caso de ônibus e vans, a instalação dos dutos de ar condicionado por todo o salão de passageiros acaba se fazendo necessária, agregando mais peso e sacrificando volume interno, enquanto climatizadores montados em pontos estratégicos para otimizar a renovação do ar já tem a vantagem do layout mais compacto. Outro ponto a ser ressaltado nos climatizadores evaporativos, em função do uso da água, é referente à ausência de gases refrigerantes sintéticos, que embora sejam constantemente negligenciados e descartados de forma incorreta em qualquer oficina boca-de-porco, acabam por consumir uma certa quantidade de recursos energéticos nos processos de produção e respectivas aplicações.
Outro ponto a se destacar é a manutenção: embora um climatizador evaporativo acabe por exigir reposição da água mais constantemente do que um ar condicionado exige recargas do gás refrigerante, bem como uma substituição mais frequente dos filtros (muito mais propensos a um acúmulo de partículas mais pesadas em dispersão no ar que entra no climatizador com uma quantidade maior de poeira e outros elementos em suspensão, enquanto que com o ar condicionado para se ter uma refrigeração mais eficiente é mais usual manter a entrada de ar externo fechada e seguir recirculando o mesmo ar viciado, e ainda devido ao princípio da climatização evaporativa depender da umidade que por outro lado pode favorecer a proliferação de ácaros e fungos num filtro "velho" que tenha permanecido em uso por um tempo além da vida útil regular), o layout predominante nos climatizadores evaporativos concentra todos os componentes num ponto único e mais facilmente acessíveis para manutenção e eventuais substituições. Vale lembrar que muitos ônibus urbanos de Porto Alegre equipados com ar condicionado sofrem com a manutenção precária, e muitas vezes até pecinhas mais simples como os difusores de ar (foto abaixo) não são devidamente substituídas em caso de quebra (provocada tanto por desgaste natural quanto por vandalismo, um problema frequente na frota portoalegrense de ônibus urbanos), o que acaba até comprometendo o conforto dos passageiros. Difusores também são usados nos climatizadores evaporativos, mas em quantidade menor, além de estarem numa posição menos propensa a manuseio inadequado.
Outro ponto a se destacar é a manutenção: embora um climatizador evaporativo acabe por exigir reposição da água mais constantemente do que um ar condicionado exige recargas do gás refrigerante, bem como uma substituição mais frequente dos filtros (muito mais propensos a um acúmulo de partículas mais pesadas em dispersão no ar que entra no climatizador com uma quantidade maior de poeira e outros elementos em suspensão, enquanto que com o ar condicionado para se ter uma refrigeração mais eficiente é mais usual manter a entrada de ar externo fechada e seguir recirculando o mesmo ar viciado, e ainda devido ao princípio da climatização evaporativa depender da umidade que por outro lado pode favorecer a proliferação de ácaros e fungos num filtro "velho" que tenha permanecido em uso por um tempo além da vida útil regular), o layout predominante nos climatizadores evaporativos concentra todos os componentes num ponto único e mais facilmente acessíveis para manutenção e eventuais substituições. Vale lembrar que muitos ônibus urbanos de Porto Alegre equipados com ar condicionado sofrem com a manutenção precária, e muitas vezes até pecinhas mais simples como os difusores de ar (foto abaixo) não são devidamente substituídas em caso de quebra (provocada tanto por desgaste natural quanto por vandalismo, um problema frequente na frota portoalegrense de ônibus urbanos), o que acaba até comprometendo o conforto dos passageiros. Difusores também são usados nos climatizadores evaporativos, mas em quantidade menor, além de estarem numa posição menos propensa a manuseio inadequado.
quinta-feira, 6 de março de 2014
Side-car: uma opção adequada à renovação de frota?
Considerando a patética realidade econômica, política e social do Brazil, a republiqueta bananeira chafurdada em escândalos de corrupção e inebriada pela mais profunda degradação moral, todo o jogo de empurra que se faz quando a pauta da "renovação de frota" é posta à mesa de discussão é suficiente para evidenciar que não há um real interesse em promovê-la de uma forma que a transição de um "sucatão" todo fodido para algum veículo novo se dê da forma mais adequada às necessidades operacionais do cidadão que estivesse a fazer a troca.
A meu ver, não é tão realista imaginar que o Zé-da-esquina que mal conseguiria amarrar uns arames numa Belina caindo aos pedaços daria conta de manter qualquer milzinho 0km em condições aceitáveis de conservação e segurança, enquanto opções adequadas à realidade brazileira são sistematicamente marginalizadas de modo a perpetuar algumas discrepâncias que asseguram muitas tetas para os corruptos de plantão seguirem mamando...
Devo reconhecer que, em outros momentos, de fato emiti opiniões desfavoráveis ao uso de side-cars, mas após algumas reflexões passei a considerá-los até bastante adequados às condições operacionais que tem prevalecido no trânsito das principais cidades brazileiras, além de conciliar capacidade de carga próxima à de alguns carros subcompactos ao menor custo de aquisição e manutenção inerente às motocicletas utilitárias de baixa cilindrada.
Não apenas para o transporte de cargas, aplicação na qual os side-cars tem uma aceitação mais ampla no mercado local, há muito o que se salientar acerca da utilidade no transporte de passageiros, tanto em uso privado/familiar quanto remunerado (moto-táxi), vencendo ainda a percepção incutida no imaginário popular de que o side-car seria uma gambiarra. É importante frisar que, nos mercados europeu e americano, com uma cultura motociclísticas mais desenvolvida, o side-car ainda encontra entusiastas fervorosos, e tem no transporte de passageiros basicamente a única aplicação atual.
Já no Brazil, apesar de um incremento na participação das motocicletas de média e alta cilindrada no mercado, ainda acaba-se por manter estigmas que levam o side-car a ser visto ainda como não sendo tão "nobre" para o uso recreacional, enquanto na Zooropa o principal interesse por side-cars tem raízes "nostálgicas" exatamente vinculadas à contribuição que deram ao desenvolvimento europeu numa época em que, além do custo de aquisição e manutenção mais baixo, a maior simplicidade mecânica acabava por proporcionar uma aptidão até mais elevada a condições meteorológicas severas, enquanto muitos carros antigos precisavam ficar em garagens com aquecimento interno para evitar que a água do radiador congelasse e a expansão do gelo causasse estragos no sistema de refrigeração ou até mesmo arrebentar o bloco do motor...
Na verdade, chega a ser um tanto irônico que um dos povos mais adeptos a improvisos cuja confiabilidade se mostra muitas vezes discutível, acabe por apresentar uma intrigante mescla de desconfiança e desprezo por uma alternativa que já demonstrou utilidade até mesmo em campo de batalha durante as duas grandes guerras mundiais do século passado...
A título de curiosidade, durante o período entre-guerras o "carro do povo" na Alemanha na verdade não era o Fusca, que acabou por se firmar no mercado local já no pós-guerra devido principalmente ao trabalho do interventor britânico que havia assumido a direção da fábrica logo após o fim do conflito, o major Ivan Hirst. Nesse meio-tempo, a função que seria do Fusca acabava delegada às motocicletas com side-car.
É conveniente salientar que o contexto político e o intervencionismo estatal na economia do Terceiro Reich não eram tão diferentes do que tem acontecido no Brazil nos últimos anos, com a gritante diferença que nessa terra infestada de parasitas politiqueiros não foi necessário que nenhuma potência estrangeira impusesse um processo de desmilitarização que acaba por propiciar a consolidação de um regime totalitário, por impedir que inimigos internos sejam devidamente expurgados.
Não é tão adequado esquecer que paga-se no Brazil um preço dinamarquês por gasolina de qualidade africana, então uma motocicleta com side-car obtendo médias de consumo de combustível significativamente mais contidas que as de qualquer hatchback "popular" atualmente comercializado no país já leva uma boa vantagem, mas aí já se começaria a desafiar os interesses de alguns burocratas que já estão criando raízes dentro da combalida Petrobras, cujo caixa vem sendo saqueado para cobrir outros rombos estatais e ainda para patrocínios a "artistas" de talento discutível que só garantem uma boquinha por estarem ideologicamente alinhados aos atuais detentores do poder central.
Mas esse não é o único exemplo de incoerências político-burocráticas contra o side-car: ao lembrarmos que, apesar do conjunto formado pela moto e o side-car ter um pneu a mais que a moto avulsa, ainda é um pneu a menos na comparação a um carro de capacidade de carga comparável ao conjunto. Fala-se muito sobre o acúmulo de água parada dentro de pneus velhos descartados incorretamente e o favorecimento à procriação do mosquito da dengue, quando na prática a redução na quantidade de pneus velhos a serem descartados não apenas contribuiria numa redução nos focos de mosquitos como também facilitaria a logística para um descarte adequado e eventual reprocessamento de pneus velhos e outros resíduos de origem veicular.
Considerando que a "renovação de frota" realmente seja levada a sério e promovida de uma forma adequada às reais necessidades operacionais do usuário, não seria justo tratar com tanto descaso as possíveis aplicações para o side-car...
domingo, 2 de março de 2014
Gurgel chinês: uma grande contradição brasileira
Muito se lamenta pela ausência de uma indústria automobilística de capital brasileiro, mas o glorioso passado da antiga Gurgel Motores é hoje vergonhosamente ofuscado pela sombra desse exótico triciclo utilitário fabricado na China, mas que desde 2004 é vendido no Brasil como Gurgel TA-01. O exemplar das fotos, que eu vi próximo à estação Niterói do Trensurb, já no município de Canoas, é da versão feita até 2006, antes que o conjunto óptico dianteiro do Fiat Uno Mille até 2004 e uma falsa grade decorativa inspirada também no Uno fossem adotados. Na mesma época, passou a ser montado em Três Lagoas-MS, incorporando uma maior quantidade de componentes nacionais.
Valendo-se do fato de que o registro da marca havia caducado junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual), em 2004 o comerciante Paulo Emílio Freire Lemos registrou a propriedade da marca por meros R$850,00, valor considerado muito aquém de tudo o que a extinta Gurgel Motores e seu fundador, o lendário João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, representaram para o progresso da indústria automobilística brasileira na época em que a empresa esteve originalmente ativa, de 1969 a 1996.
Com motor Diesel estacionário de 1 cilindro, refrigeração a água por evaporação, e aproximadamente 1.2L de cilindrada rendendo limitados 20hp, consegue alcançar não mais do que 60km/h, mas o consumo numa faixa de 20km/l acaba sendo considerado um forte atrativo desse modelo, visto que nenhuma caminhonete com o layout tradicional de 4 rodas e capacidade de carga semelhante atingem esse resultado. A transmissão primária (entre o motor e o câmbio de 4 marchas do tipo transeixo) é feita por meio de correias de borracha.
A capacidade de carga nominal de 1200kg possibilitou ainda que estivesse legalmente apto ao uso do diesel no Brasil. A falta de uma cabine fechada e de ítens bastante triviais como cintos de segurança, velocímetro, marcador do nível de combustível, e até mesmo freio na roda dianteira (conta apenas com tambores nas rodas traseiras), teve de ser homologado como máquina agrícola para que pudesse ser regularizado e licenciado para uso em vias públicas.
Valendo-se do fato de que o registro da marca havia caducado junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual), em 2004 o comerciante Paulo Emílio Freire Lemos registrou a propriedade da marca por meros R$850,00, valor considerado muito aquém de tudo o que a extinta Gurgel Motores e seu fundador, o lendário João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, representaram para o progresso da indústria automobilística brasileira na época em que a empresa esteve originalmente ativa, de 1969 a 1996.
Com motor Diesel estacionário de 1 cilindro, refrigeração a água por evaporação, e aproximadamente 1.2L de cilindrada rendendo limitados 20hp, consegue alcançar não mais do que 60km/h, mas o consumo numa faixa de 20km/l acaba sendo considerado um forte atrativo desse modelo, visto que nenhuma caminhonete com o layout tradicional de 4 rodas e capacidade de carga semelhante atingem esse resultado. A transmissão primária (entre o motor e o câmbio de 4 marchas do tipo transeixo) é feita por meio de correias de borracha.
A capacidade de carga nominal de 1200kg possibilitou ainda que estivesse legalmente apto ao uso do diesel no Brasil. A falta de uma cabine fechada e de ítens bastante triviais como cintos de segurança, velocímetro, marcador do nível de combustível, e até mesmo freio na roda dianteira (conta apenas com tambores nas rodas traseiras), teve de ser homologado como máquina agrícola para que pudesse ser regularizado e licenciado para uso em vias públicas.