sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Uma reflexão sobre a escassez de algumas medidas de pneus novos para reposição

Encontrar os pneus com as medidas originais de fábrica tem sido cada vez mais difícil em alguns carros já fora de produção, mesmo tratando-se de modelos com um grande volume de vendas e ainda bastante comuns de se ver em uso cotidiano como o Fusca. Desde os 5.60-15 diagonais oferecidos até a primeira vez que a Volkswagen encerrou a produção até os radiais 165SR15 usados durante o relançamento entre '93 e '96 em função dos 155SR15 inicialmente recomendados como alternativa aos diagonais também já terem saído do catálogo dos principais fabricantes de pneus que já operavam no Brasil à época. De fato, a medida de pneu original apresenta uma série de vantagens quanto à dirigibilidade e ao desempenho, e portanto uma medida alternativa pode não ser necessariamente melhor em alguns aspectos críticos para atender às necessidades e preferências de cada operador.
Embora uma banda de rodagem relativamente estreita possa dar a impressão de ser menos segura que as mais largas frequentemente usadas em pneus destinados a veículos modernos, principalmente por conta da maior superfície de contato com a pista favorecer a estabilidade e a frenagem em várias situações, há outros aspectos que podem tornar questionável a utilização de pneus com medidas originais de um carro compacto ou "popular" de projeto mais recente adaptados a outro mais antigo. Mesmo sob uma possível alegação quanto aos compostos de borracha mais modernos poderem conciliar melhor metas de redução no consumo de combustível sem abrir mão da segurança em diferentes condições de clima e terreno, até uma diferença aparentemente irrisória no diâmetro total dos pneus montados nas rodas já pode interferir significativamente no desempenho, tendo em vista que um conjunto menor tem efeito análogo ao de um diferencial mais curto, que favorece a aceleração às custas de uma diminuição da velocidade final e um aumento no consumo de combustível principalmente em rodovia. No caso específico do Fusca, apesar de ser relativamente comum alterar a relação de diferencial original e assim eventualmente compensar o efeito do uso de pneus muito diferentes do recomendado pelo fabricante, convém destacar tanto que a direção pode ficar mais pesada com pneus mais largos quanto maiores dificuldades para se desvencilhar de alguns obstáculos e irregularidades nas vias devido a um menor vão livre quando se use pneus com o diâmetro menor.
Com os principais fabricantes de pneus negligenciando a demanda reprimida por algumas medidas, ou tentando apresentá-las de forma pretensamente sofisticada para atender aos colecionadores que prezam pela originalidade mais pelo valor histórico de algum veículo que justifique se sujeitarem a pagar mais caro por um produto não necessariamente "premium", infelizmente usuários com perfil mais generalista ficam sem tantas opções que os atendam satisfatoriamente e a um preço justo. Assim como no caso de uma infinidade de outros produtos, acaba favorecida a ilusão de que valha a pena recorrer aos chineses, algo especialmente questionável no tocante a um item que influi tão significativamente na segurança não somente de quem estiver a bordo de um veículo equipado com pneus de baixíssima qualidade mas também dos demais usuários das vias públicas. Considerando também as implicações políticas da crise do coronavírus chinês, ganha contornos ainda mais dramáticos essa economia porca quando lembramos que existem fabricantes nacionais de pneus como a Technic ou a Maggion, embora para uso automotivo essas empresas venham oferecendo só pneus diagonais que na quase totalidade das vezes exigem o uso das câmaras de ar enquanto os fabricantes chineses apropriaram-se de uma forma bastante desonesta da tecnologia do pneu radial sem câmara.
Até para carros nem tão antigos quanto o Fusca, mas também bastante icônicos no mercado brasileiro a exemplo de versões locais do Opel Corsa B que foram oferecidas como Chevrolet, atualmente é muito mais difícil encontrar os pneus 145/80 R 13 que eram usados no Chevrolet Corsa Wind, para o qual tem sido frequentemente recomendada a substituição pela medida 165/70 R13 desde o fim da década de '90 enquanto o modelo permanecia em produção. A diferença entre a altura dos flancos não era tão gritante, e portanto essa medida pode não ser a pior escolha, mas também já encontra-se mais difícil de encontrar e levando usuários a buscarem outra opção como quebra-galho para não serem forçados a substituir as rodas por outras de algum aro com maior disponibilidade de opções de medidas. E a bem da verdade, se for levado em consideração que alguns carros de projeto mais recente não tiveram grandes incrementos no tamanho dos conjuntos de freio que façam necessário o uso de rodas maiores para acomodá-los sem interferências, chega a ser surpreendente o aro 13 ter caído em desuso enquanto o aro 14 ganhou espaço em veículos novos.

Lembrando como especificamente o aro 13 já foi muito difundido no Brasil, sendo aplicado também às versões mais austeras até de carros médios como o Chevrolet Monza, vale considerar uma adequação às irregularidades das vias e como um pneu com perfil mais alto num aro menor pode ser mais confortável em comparação a outro com o mesmo diâmetro total com perfil mais baixo e montado em rodas de aro maior. Nesse caso, ainda que se possa alegar uma maior "firmeza" em altas velocidades partindo para o aro 14 com pneus de perfil mais baixo, convém destacar que um pneu com perfil mais alto montado em rodas de aro menor acaba por suavizar o impacto com algum defeito na pavimentação ou até obstáculos como desníveis ou buracos em trechos não-pavimentados, e portanto a suspensão sofre esforços menos severos nas condições de rodagem mais severas. A medida 185/70 R 13 que equipou o Monza está hoje entre as mais difíceis de encontrar, ou substituir por outra no mesmo aro que possa manter um diâmetro mais próximo ao original, mas vale destacar que ainda chegaria a servir até melhor a carros "populares" da atualidade que já recorrem mais frequentemente aos aros 14 ou 15 com pneus de perfil mais baixo.

À medida que uma cultura de preservação dos carros antigos desenvolveu-se também no Brasil, pode-se supor que valha mais a pena sob um viés estritamente comercial explorar o desejo de colecionadores e entusiastas dispostos a pagar mais caro para preservar ao máximo a originalidade em modelos como um Voyage dos primeiros anos de fabricação, para os quais diga-se de passagem a Volkswagen especificou o uso de pneus 175/70 R 13 que são os mais fáceis de encontrar no aro 13. Considerando a demanda de um segmento tão específico quanto a realidade de quem use regularmente alguns veículos antigos, é um tanto problemático que uma disponibilidade muito limitada de medidas para cada aro faça usuários com um perfil mais generalista comprometerem a funcionalidade usando pneus de tamanhos discrepantes do original, ou rendam-se aos chineses que chegam a ser ainda mais indesejáveis. Enfim, desde um apreço à segurança e à operacionalidade passando pelo desejo de preservar a estética original, é de se lamentar que os principais fabricantes de pneus insistam em simplesmente eliminar a oferta de algumas medidas de pneus.

2 comentários:

Xracer disse...

Realmente um absurdo a falta desses pneus, mas teríamos mesmo uma demanda significativa para esses pneus ? O 145/80R13 dos primeiros Corsa, por exemplo. Meu primeiro carro zero Km foi justamente um Corsa 97 de 5 portas, com ar condicionado como opcional somente. Ele veio com esses pneuzinhos de carrinho de pipoqueiro, de tao finos. A primeira coisa que fiz ao sair da Concessionaria foi percorrer 1,5 Km para uma revendedora de pneus e trocar os pneus novinhos nos 165/70R13, pagando a diferença. Com certeza com os pneus originais o carro andaria do mesmo jeito, mas a estabilidade com um pneu mais grosso era bem melhor e compensava a troca. Tanto foi que algum tempo depois a GM não mais os ofereceu e todos os Corsa (depois Classic) vinham já com o pneu 165/70R13 ou o aro 14 nos GSi. Enfim, era uma medida de pneu que não tinha muita aceitação, não tinha mercado. Quem comprava ou trocava ao sair da concessionaria ou na primeira troca o fazia, dada a pouca diferença de preços. No caso do Fusca e demais veículos a ar os próprios donos procuravam pneus mais largos e com isso os pneus diagonais ficaram sendo relegados aqueles que mantinham todas as características originais e os colecionadores, os "placa-preta". Isso fez a demanda cair e as fabricas encerrarem a produção. Os chineses vendo o mercado aberto aproveitaram disso, para oferecer no Brasil, haja visto ainda haver demanda. As fabricas brasileiras de pneus nunca que poderiam ter cessado essa fabricação havendo ainda demanda, realmente !

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Mercado para pneus em algumas dessas medidas ainda existe, principalmente no aro 13, apesar de ser uma faixa que concentra um público mais sensível ao custo. No caso dos pneus para Fusca, além do pneu que eu mais vejo hoje tanto no Fusca quanto em alguns derivados ser o Maggion Falco na medida original, também tem quem fique procurando medidas que caibam no aro original e mantenham o diâmetro total mais próximo ao padrão de fábrica.

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