sábado, 6 de janeiro de 2024

Breve observação sobre o sumiço de carros generalistas com duas portas

Desde modelos de perfil pretensamente mais especializado como o Suzuki Grand Vitara da geração que foi importada regularmente para o Brasil entre '98 e 2003, passando por outros mais generalistas como o Ford Fiesta da 4ª geração cujo facelift que acompanhou a chegada do motor Zetec Rocam também foi a última fase que o modelo ofereceu uma carroceria de duas portas no Brasil, mesmo considerando que os sucessores de ambos ainda tiveram a opção de duas portas no exterior, essa configuração no Brasil já é muito mais desprezada pelo mercado. Em que pese um custo a princípio menor, e que poderia ser útil tanto a quem priorize outras especificidades como uma capacidade de incursão off-road mais otimizada quanto uma suposta economia até por ter menos partes móveis que possam sofrer danos por mau uso, as carrocerias de duas portas já foram bem mais apreciadas mesmo em veículos que acabavam tendo o uso familiar. Naturalmente outros fatores também influenciariam na aptidão de um veículo para atender a só uma necessidade específica ou ser mais versátil, mas uma característica que já foi preferência nacional ter praticamente desaparecido certamente chama alguma atenção.

Uma influência muito apontada para os carros com duas portas terem permanecido por tanto tempo um sucesso no Brasil foi o Fusca, e até modelos posteriores da própria Volkswagen mesmo já tendo versões com 4 portas continuaram vendendo melhor no mercado nacional com só duas portas, em contraste com a demanda pelas 4 portas para exportação como foi o caso do Passat de 1ª geração, e outros fabricantes acabavam seguindo uma estratégia parecida. Além da proposta de ser um carro barato para a Alemanha na época que se usavam motos com side-car como análogo ao que viria a ser um "carro do povo", e que naturalmente já favorecia a escolha pela carroceria com só duas portas no projeto do Fusca no tocante à redução de custos, acabou ficando consolidada a preferência por essa configuração por uma questão de costume, que acabou prevalecendo mais no Brasil onde o próprio Fusca teve uma continuidade do ciclo de produção quando os alemães já o consideravam obsoleto. E como o brasileiro ainda tem o hábito de comprar carro 0km achando que é investimento, e preferindo apostar em características às quais atribui um valor de revenda mais alto, os carros de duas portas tinham um público cativo entre os que temiam a depreciação mais acentuada que um similar com 4 portas poderia ter ao ser confundido com um táxi ou carro de frota, mesmo que já tenha sido até permitido o uso de carros com duas portas como táxi.

Outros exemplos a considerar, dessa vez na linha Chevrolet, foram o Monza anterior a '91 e o Chevette, que até tiveram versões com 4 portas oferecidas regularmente no mercado nacional mas continua muito mais fácil se deparar com exemplares de apenas duas portas, mesmo considerando que o Monza acabou tendo uma posição mais prestigiosa na época de restrição às importações, e portanto conseguiria atender a clientes mais exigentes e já receptivos a equipamentos como o ar condicionado e o câmbio automático que hoje são bem mais apreciados pelo público generalista. Já para mercados de exportação regional era mais comum a configuração com 4 portas, a princípio pela maior competitividade com os japoneses já a partir da década de '70 e uma "fuscalização" menos intensa em comparação ao Brasil, e só mesmo com a reabertura das importações em '90 que os carros com duas portas deixaram de ser tão apreciados. Até podia parecer desejável para alguns um retorno da opção por duas portas mesmo num carro familiar em nome da redução de custos, mas hoje a situação se inverteu e a princípio os carros de duas portas seriam alvo de uma maior desvalorização, e portanto dificilmente um carro moderno análogo ao Chevette teria essa mesma característica.

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