Uma tecnologia que começou a chegar ao Brasil na década de '90 e passaria a ser de extrema relevância mesmo na atualidade, a telefonia móvel chegou a ser considerada uma opção também para proporcionar acesso mais fácil à telefonia fixa em áreas mais distantes dos grandes centros urbanos ainda na época do sistema Telebras estatal. E como a implantação das redes de telefonia celular ficava a cargo de subsidiárias das operadoras de telefonia fixa de cada unidade federativa antes da privatização da telefonia que teve início no Brasil em '98, a princípio a verticalização dentro da mesma estrutura organizacional facilitava a instalação e a operação do então denominado sistema Ruralcel, embora o desmembramento entre as operações de telefonia fixa e móvel nos leilões tenha até causado alguns transtornos aos usuários a partir do momento que uma digitalização do Ruralcel entrou na fase de planejamento, tendo em vista que o mesmo desmembramento posicionava diferentes grupos empresariais a cargo da venda do serviço ao usuário final e da manutenção da rede móvel analógica usada para prestação do serviço.
O antigo monopólio estatal num primeiro momento podia até parecer simplificar a operação, embora a telefonia de modo geral fosse praticamente artigo de luxo no Brasil antes da privatização, que até nas capitais chegou a tornar os celulares atualmente mais comuns que as linhas fixas, embora uma parte considerável do público ainda considere desejável ter um telefone fixo em casa ou no local de trabalho pelas mais diversas razões. Por mais que parecesse muito simples conectar alguns fios do poste até a residência do cliente, e tal situação é aplicável mais facilmente a casas, ou mesmo a apartamentos térreos com uma fachada na face externa do edifício, em prédios antigos com poucos apartamentos ou escritórios é possível operadoras de telefonia fixa ou de internet banda larga alegarem a necessidade de uma "readequação predial" cujo custo prefiram evitar quando poucos clientes desejem contratar o serviço isoladamente, e muitos condomínios fossem servidos apenas por uma única operadora logo no início da privatização da telefonia e da implantação das primeiras redes de internet banda larga no Brasil. Embora a internet móvel tivesse levado mais tempo para ser consolidada no Brasil, e atualmente as operadoras ofereçam pacotes fechados que encerram o tráfego de dados sem possibilidade de uma redução na velocidade quando atingida a franquia, hoje um sistema análogo ao antigo Ruralcel talvez pudesse proporcionar um melhor resultado para muitos clientes até em áreas urbanas, além do mais que algumas operadoras antes restritas à operação somente de serviços de telefonia fixa ou móvel já verticalizam todo o serviço desde ambas as modalidades de telefonia até a internet banda larga e TV por assinatura.
Com a digitalização dos serviços de telefonia móvel e uma boa velocidade que a internet 4G e 5G oferecem para a grande maioria dos usuários de perfil mais conservador, embora os limites de franquia sem provisão para que se mantenha a conexão à internet mediante redução da velocidade de tráfego de dados pareça oportunizar às principais operadoras a venda casada de planos de internet banda larga para uso residencial, certamente uma abordagem semelhante ao Ruralcel pudesse permanecer ideal para muitos brasileiros. A cobrança eventualmente abusiva de taxas de instalação ou as multas pelo cancelamento de contratos promocionais com fidelização na telefonia fixa ou internet banda larga já soa como um bom argumento a favor do Ruralcel até mesmo para usuários em áreas urbanas onde barreiras mais burocráticas que técnicas tem desfavorecido a prestação de um serviço de telecomunicações de boa qualidade. Na condição de ex-usuário de internet móvel quando ainda predominava o 3G, tendo em vista a portabilidade de um equipamento de telefonia fixa através da rede móvel facilitar a reinstalação pelo próprio usuário durante uma mudança de endereço, tenho a mais absoluta certeza que essa modalidade de serviço ainda faz muito mais sentido no Brasil do que pode parecer num primeiro momento...
Um comentário:
Para quem sobreviveu à época da internet discada, antes mesmo de começarem a trocar a fiação metálica por cabeamento de fibra óptica nas redes de telefonia fixa, o 3G era como pular de um Fusca 1200 para um Porsche Boxster. E só de uma rede de celular ter menos fiação passando nos postes para dar problema ou ser furtada por nóias de droga, a princípio até o custo para algumas empresas oferecerem um serviço nesses moldes do Ruralcel pudesse ficar menor e com uma disponibilidade mais imediata. Talvez seja mais medo de concorrer com a Starlink do Elon Musk que já pega esse público que precisa da internet com mais mobilidade e nem sempre precisa de telefonia fixa.
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