terça-feira, 9 de agosto de 2011

Síndrome de Henry Ford, ou "daltonismo automotivo"...

Não é de hoje que o mercado automobilístico brasileiro vem sendo dominado por cores mais simplórias, como os cansativos (mas sempre bem cotados) preto e prata. Antes das cabines de pintura automatizadas e de tintas mais modernas com secagem rápida, fazia algum sentido a política adotada por Henry Ford em 1913 ao decretar que "qualquer um pode ter um Ford T, em qualquer cor, desde que seja preto".
À época, por uma questão de praticidade a laca preta foi escolhida como padrão por secar mais rápido, agilizando a produção dos calhambeques, mantendo o ritmo acelerado das linhas de montagem pela qual o empresário ficou famoso, ainda que o verdadeiro pioneiro nessa técnica na indústria automobilística tenha sido Ransom Eli Olds em 1901 com o Oldsmobile Curved Dash.



Mesmo sendo um país tropical, o Brasil tem uma população que aprecia bastante os carros pretos, constantemente associados a "gente importante", sobriedade e elegância, reforçados pela expressão "preto-Cadillac" que caiu na boca do povo a mais de 5 décadas. Outras cores acabam tendo algum sucesso quando são oferecidas em tons mais escuros, como o tradicional "verde-britânico" ou azul-marinho.


Cores mais chamativas acabam tendo uma maior aceitação apenas em casos mais específicos, como em modelos esportivos, nos quais um tom de amarelo ou o folclórico "vermelho-Ferrari" são apreciados.


O branco é outra opção que foi mais comum na frota brasileira, devido à visibilidade em situações climáticas adversas, apesar de ser estigmatizado em São Paulo por ser a cor padrão dos táxis, mas depois com a popularização do prata acabou perdendo espaço mesmo em outros mercados. O acabamento metalizado agrada aos consumidores por transmitir uma sensação de nobreza e disfarça imperfeições e desgastes na pintura, ainda que possa sugerir um empobrecimento visual semelhante a uma lataria totalmente exposta...
Mas por um comodismo das indústrias e importadoras, vem sendo "empurrado" aos mais diferentes públicos, simplificando processos logísticos e, nas categorias de base, servindo como pretexto para preços mais altos...

Curiosamente, algumas cores exóticas aparecem em lançamentos, mas com o tempo acabam fora de catálogo apesar de haver interesse por parte de compradores ávidos por opções com mais personalidade.
Em épocas passadas, mesmo quando um modelo não era mais nenhuma novidade era possível contar com uma variedade maior de cores, sem toda a monotonia que vem dominando as ruas e estradas. Eventualmente, uma nova cor era anunciada com destaque para atrair visitantes às concessionárias...
 
Havia uma maior variedade para quem quisesse "fugir do rebanho", como dizia o eminente engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, mas quem preferisse manter a discrição era, igualmente, atendido.






Enquanto isso, apesar do mercado extremamente competitivo dos dias atuais, e da tecnologia permitir que pinturas menos discretas possam ser tão otimizadas numa linha de montagem quanto o preto de Henry Ford, parece haver um "novo daltonismo" afetando os dirigentes da indústria automobilística instalada no Brasil...

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