sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

5 motivos para ser incoerente usar a cilindrada como parâmetro para definir um carro como "popular"

Uma característica que infelizmente o Brasil copiou da Europa, a cobrança de imposto tomando por referência a cilindrada de um automóvel acabou gerando algumas distorções que acabam dificultando o acesso do consumidor a um veículo que possa efetivamente satisfazer ao menos a maior parte das necessidades do núcleo familiar no qual estaria inserido, e que muitas vezes não teria como dispor de outro. Por mais que alguns modelos ainda possam oferecer um desempenho ainda aceitável mesmo com um motor de 1.0L aparentemente subdimensionado, nem sempre oferecem a melhor relação custo/benefício. Dentre os motivos que podem evidenciar a incoerência em se tratar apenas a cilindrada como pretexto para classificar um carro como "popular", podem ser destacados ao menos 5 dentre os mais relevantes:

1 - a idéia do carro familiar: tomando como referência modelos como a clássica Volkswagen 1600 Variant que evoca memórias de tempos em que não era tão incomum a criançada viajar até solta no porta-malas interno, lembrando que esse modelo ainda tinha mais um porta-malas externo na frente, a capacidade volumétrica útil tanto na hora de fazer o rancho do mês quanto de uma viagem de férias já fazia com que esse modelo que incorporava características do projeto básico do Fusca como o motor traseiro refrigerado a ar em uma carroceria mais ampla se tornasse um favorito de muitas famílias durante a década de '70.

2 - faixas úteis de torque e potência: por mais que o tradicional motor Volkswagen refrigerado a ar já não seja considerado nenhum expoente em desempenho, e na versão 1300 tenha se tornado alvo de críticas na época que o primeiro Gol foi lançado, o pico de torque pouco mais de 20% mais alto numa faixa de rotação 20% menor que a do Gol 1000 quadrado pode ser benéfico à durabilidade, tendo em vista que o motor fica menos sobrecarregado em velocidade de cruzeiro. Deixando de lado eventuais ineficiências que podem ser consideradas inerentes ao motor refrigerado a ar comparado ao CHT/AE de refrigeração líquida usado no Gol 1000, bem como o fato de que o 1000 já tinha câmbio de 5 marchas ao invés de só 4 marchas, já se pode considerar como um pretexto para refutar a idéia de que a cilindrada seria um parâmetro justo para classificar um veículo como "popular".

3 - capacidade de incursão fora-de-estrada: tomando como exemplo o Fusca, tanto original quanto modificado ao estilo Baja Bug, é evidente que muitos usuários não se dão por satisfeitos com a atual geração de carros "populares" que são basicamente versões empobrecidas de compactos feitos para as condições de rodagem dos países desenvolvidos. Se por um lado o Fusca ainda tem entusiastas em áreas urbanas, por outro é tratado como uma necessidade por uma parte do público nas zonas rurais que não tem condições de adquirir e/ou manter um veículo 4X4.

4 - facilidade de manutenção: nesse caso vale tomar como referência a 4ª geração do Renault Clio, que nunca chegou ao Brasil mas foi vendida no Uruguai. Dentre os motores que equiparam o modelo, é possível destacar um de 3 cilindros e 0.9L equipado com turbo e injeção direta e outros de 1.2L com 4 cilindros em versões naturalmente aspirada com injeção sequencial e turbo com injeção direta. Naturalmente o turbo ainda desperta temores quanto ao impacto que vá ter sobre o custo de manutenção, tendo em vista que um descuido com a especificação do óleo lubrificante e os prazos de troca pode comprometer a durabilidade. Convém destacar que esses motores turbo são derivados da mesma linha que originou o atual 1.0L tricilíndrico usado pela Renault no Brasil, mas que ficaria um tanto sobrecarregado no Clio IV em comparação ao 1.2L devido às diferenças nas faixas de torque.

5 - escala de produção: tomando por referência o caso do Renault Kangoo, que teve versões 1.0 só no Brasil e no Uruguai, um limite de cilindrada tão restritivo, além de não proporcionar uma efetiva redução nos custos de operação em veículos com um porte menos acanhado, também se torna um pouco problemático devido à pouca demanda em outros mercados onde motores ligeiramente maiores e aptos a oferecer um desempenho mais condizente possam ser oferecidos sem sobretaxas excessivas, No caso do Kangoo, vale destacar que na Argentina onde era produzido usou um motor de 1.2L ao invés do 1.0 específico para o Brasil.

Um comentário:

Diego disse...

Desconsiderar a faixa de rotação de potência e torque foi o maior erro

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