A importância histórica do Fusca no mercado brasileiro é incontestável, sobretudo pela simplicidade e resistência a condições de rodagem mais pesadas mas também pelo carisma do modelo. No entanto, é impossível ignorar que algumas características do projeto original não eram exatamente o melhor que se podia ter recorrido. Um exemplo que pode soar bastante controverso é no tocante à quantidade de cilindros no motor, e como poderia impactar desde curvas de potência e torque até a refrigeração. A configuração com os 4 cilindros horizontais contrapostos, popularmente conhecida como "boxer", tem fãs incondicionais até a atualidade, mas não é suficiente para ignorar que outros layouts possam ser até mais adequados ao que foi a proposta do Fusca e subsequentes derivados como a Kombi.
Uma estratégia que me pareceria fazer bastante sentido seria eventualmente recorrer à configuração de 2 cilindros, também dispostos horizontalmente como nas motos BMW série R, tendo em vista que o fluxo de ar para refrigeração ficaria mais homogêneo. Até na questão da cilindrada, ainda relevante para o desempenho, vale lembrar que as últimas versões oilhead da série R alcançaram uma faixa de 1200cc e o motor delas consegue movimentar com folga uma parte considerável de carros compactos modernos que chegam a ser mais pesados que um Fusca. É importante considerar também os efeitos de uma menor quantidade de cilindros sobre a eficiência geral de um motor, de forma análoga ao que se observa em motores de 3 cilindros que tem se proliferado nos "populares" mais recentes. No caso de um motor de 2 cilindros que eventualmente pudesse ter equipado um Fusca, deixando de lado uma diferença entre configurações de comando de válvulas que incrementa a complexidade dos motores de motos BMW modernas, a elasticidade não fica comprometida e podem operar a faixas de rotação confortáveis para atender às demandas de uma aplicação automobilística. No tocante à cilindrada, o fato de ter menos atritos internos e perdas por bombeamento já poderia fazer com que um motor de 2 cilindros nessa faixa de 1200cc não ficasse tão prejudicado diante de um de 1300cc como foi usado em algumas das últimas variações do Fusca brasileiro da década de '80 antes do breve relançamento em '93.
Ainda que a própria configuração de motor traseiro não seja exatamente a mais favorável para o fluxo de refrigeração, agravando o problema de superaquecimento que normalmente ocorre no 3º cilindro do Fusca e outros modelos da Volkswagen equipados com o mesmo motor, não teria sido uma grande surpresa se o mesmo sucesso pudesse ter sido replicado ou até ampliado com um motor mais simples e que acabaria sendo mais favorecido no tocante ao consumo de combustível e emissões de poluentes diante do original. A proposta de um carro popular poderia até ser mais convidativa para uma redução da quantidade de peças móveis, bem como o consumo de matérias-primas e os respectivos processos produtivos. Enfim, por mais louco que possa parecer, teria feito algum sentido o Fusca usar motor de 2 cilindros.
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