segunda-feira, 1 de junho de 2020

Reflexão: Volkswagen Logus e Pointer e a mudança na preferência das carrocerias de duas para 4 portas

Dentre tantas transformações do mercado brasileiro nos anos '90, sem sombra de dúvidas juntamente à reabertura das importações e da ascensão dos "populares" figurou a perda de espaço para os carros de duas portas. No segmento dos médios, pode-se creditar a falta da opção por 4 portas como um dos motivos que levaram o Volkswagen Logus a não ter sido um grande sucesso comercial e ser hoje uma raridade, embora não seja o único exemplo dessa mudança na preferência do público generalista. Em que pese o fato de ter usado uma plataforma da Ford, mais especificamente a do Escort Mk.5 e que de certa forma despertava uma rejeição por parte do público tradicional da Volkswagen, fica evidente a menor receptividade por uma carroceria de duas portas num modelo de pretensões mais familiares.

Outro derivado do Escort que foi oferecido pela Volkswagen, o Pointer contou com a configuração de 4 portas mas também penou pela rejeição a alguns produtos da joint-venture AutoLatina que uniu as operações da Ford às da Volkswagen no Brasil e na Argentina, apesar da praticidade ter feito com que alguns consumidores abrissem mão de uma maior capacidade do bagageiro do Logus por um acesso mais cômodo para os passageiros do banco traseiro. E apesar do próprio encerramento da AutoLatina em '96 ter abreviado o ciclo de produção do Logus originalmente lançado em '93 e do Pointer que foi lançado posteriormente em '94, não se pode negar que também era de certa forma contraditório que só o hatch supostamente "inferior" ao sedan/cupê com o qual dividia a plataforma ter a configuração de portas que viria a se tornar favorita do mercado após aquele momento de transição.
Num momento em que a carroceria hatch passava a ser preterida apesar da maior praticidade para uso em centros urbanos de características coloniais européias em comparação aos sedans, que por sua vez tinham o formato da carroceria associado equivocadamente a uma imagem de "prestígio" tão comum aos olhos do público generalista nos países do terceiro mundo, não deixa de ser oportuno destacar que o fim da obsessão brasileira por carros de duas portas marcava o fim de uma influência que remonta ao sucesso comercial do Fusca em outras épocas, que entretanto não se refletiu na fase "Itamar" entre '93 e '96 quando o fato de ter duas portas a bem da verdade parecia ser o menor dos problemas para quem o considerava defasado. Enfim, se por um lado ainda tem quem se atraia por um apelo supostamente "esportivo" ou se iluda com a idéia de menos manutenção e eliminação do risco de abertura acidental por crianças antes do advento das travas de segurança, a década de '90 certamente ficou marcada também como o período em que a carroceria de duas portas foi do céu ao inferno junto ao público brasileiro.

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