Desde que o Fiat Uno Mille iniciou a tendência dos motores de 1.0L no mercado brasileiro em '90, incentivado por uma tributação diferenciada com o alegado objetivo de "popularizar" o carro 0km, muita coisa mudou. No entanto, não seria um equívoco atribuir a um vínculo entre uma classe de cilindrada e um segmento mais básico pode acabar prejudicando o avanço tecnológico no parque industrial automotivo do país...
A tributação diferenciada dava alguma competitividade, e favorecia também a implementação de elementos mais complexos como o cabeçote multiválvulas e o turbocompressor. Um exemplo era o Volkswagen Gol 16V Turbo, oferecido entre 2000 e 2004 usando o motor EA-111 com potência de 112cv e torque de 15,8kgfm. Foi exaustivamente comparado a versões que usavam o velho EA-827 (vulgo "AP") naturalmente aspirado de 8 válvulas com 92 cv e 13,8kgfm para o 1.6L, 99cv e 15,5kgfm para o 1.8L, ou 111cv e 17,3kgfm para o 2.0L, todos nas respectivas versões movidas apenas a gasolina. À época, a intenção da Volkswagen era explorar a imagem de "esportividade" exaltada pela presença do turbocompressor, em oposição à tendência do downsizing com vistas à redução de consumo e emissões tão em voga hoje. Portanto, apesar dos resultados obtidos com o Gol e a Parati, a aplicação do mesmo motor em modelos considerados de maior prestígio como o Golf e o Bora parecia não fazer sentido naquele momento, e havia algum temor que a baixa cilindrada pudesse levar a uma depreciação mais intensa afinal, apesar das vantagens técnicas trazidas pelo turbo, a mera percepção de "inferioridade" conferida pela tributação diferenciada aos motores 1.0L acabaria um tanto mal-vista num segmento mais "nobre".
Basicamente a competição se limitou ao Ford Fiesta Supercharger produzido entre 2002 e 2005, que teve adicionado ao motor Zetec RoCam 1.0L de 8 válvulas um compressor mecânico, também conhecido como "blower" ou "supercharger", acionado por correia, acirrando um velho debate entre as vantagens atribuídas ao turbo e ao blower. Levou o motor de 66cv a 95cv, enquanto o 1.6L chegava a 98cv (sendo que na geração anterior o 1.0L tinha 65cv e o 1.6L 95cv), e também chegou a ser aplicado ao EcoSport entre 2003 e 2004. Ao contrário da Volkswagen, que não explorou as possibilidades de oferecer o motor 1.0L Turbo em mercados de exportação, a Ford até conseguiu oferecer o Fiesta Supercharger na Venezuela e na Colômbia, onde diga-se de passagem foi durante alguns anos o único motor oferecido. Vale lembrar que a concessionária paulista Souza Ramos chegou a desenvolver um kit turbo aplicado ao Ka em 2000 que o levava a alcançar 95cv.
Atualmente, o que parecia uma excentricidade brasileira para se enquadrar numa classe fiscal menos desfavorável ganhou espaço em outros grandes mercados, e no caso da Ford as atuais gerações de modelos com tamanhos e propostas tão distintas como o EcoSport e o Mondeo/Fusion são oferecidos na Europa com o motor EcoBoost de 3 cilindros e 125cv com turbo e injeção direta. Infelizmente, nem mesmo a menor alíquota de IPI da qual poderiam se beneficiar os compradores do EcoSport (não se aplica ao Fusion por vir do México) parece forte o suficiente para driblar a repulsão provocada por um estigma de improviso ao qual o turbo ainda é associado por uma parcela considerável do público brasileiro, além dos motores 1.0L serem vistos como "coisa de pobre".
Cabe mencionar, ainda, que o turbocompressor oferece a possibilidade de alterar a pressão de sobrealimentação de modo a emular variações na taxa de compressão, oferecendo melhores condições ao uso de combustíveis alternativos como o etanol e o gás natural (tanto o GNV de origem fóssil quanto o biometano), aumentando a eficiência energética com o etanol e reduzindo prejuízos ao desempenho com o gás.
Na prática, os atuais conceitos de downsizing levam um motor 1.0L a ser adequado tanto a um Fox quanto a um Jetta, restando quebrar apenas a barreira da mentalidade do consumidor brasileiro, que ainda associa a baixa cilindrada a uma espécie de maldição...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor, comente apenas em Português ou em Espanhol.
Please, comment only in Portuguese or Spanish.
In doubt, check your comments with the Google Translate.
Since July 13th, 2011, comments in other languages won't be published.