1 - aplicações utilitárias: quando ainda era mais fácil se deparar com uma Chevy 500 em bom estado de conservação, a pick-up compacta derivada do Chevette era frequentemente apontada como a melhor para enfrentar algumas condições de rodagem principalmente quando com plena carga. E mesmo que a concentração de peso mais próxima do eixo dianteiro fosse desfavorável em terrenos de baixa aderência quando estivesse com o compartimento de carga vazio, o costume antigo de se lastrear com um saco de lona recheado de areia facilmente encontrável como acessório até a década de '90 para atender às pick-ups médias e grandes que seguem oferecendo tração traseira nas versões mais simples já atenuava essa característica. E considerando também o caso da Chevrolet Montana que, ao passar da 1ª geração para a 2ª teve a plataforma então moderna do Opel Corsa C substituída por outra mais antiga que havia servido ao Corsa B, eventualmente pudesse fazer parecer menos absurdo que se tivesse partido para um layout ainda mais "arcaico" e se incorporasse a configuração de motor dianteiro longitudinal e tração traseira ao invés do motor dianteiro transversal e tração dianteira que hoje predominam;
2 - facilidade para incorporar tração nas 4 rodas: tanto para atender a usos mais severos como nas ambulâncias quanto para fins particulares mesmo, não se pode negar que um veículo 4X4 pode ser mais conveniente em algumas condições de tráfego, além de ser um bom pretexto para se considerar também a eventual aplicação de um motor turbodiesel como os que chegaram a ser oferecidos na Montana para exportação. Diga-se de passagem, a longa cooperação que a GM teve com a Suzuki e incluía a venda de modelos da marca japonesa montados em CKD em fábricas da GM como a Colmotores na Colômbia e renomeados para Chevrolet a exemplo do Suzuki Samurai certamente facilitariam a logística para uma intercambialidade de componentes específicos de veículos 4X4 compactos e um retorno mais rápido do investimento;
3 - maior facilidade para adaptar motores com outras configurações: tomando como exemplos as gerações mais recentes do Chevrolet Tracker, sendo que a penúltima mesmo tendo até oferecido tração 4X4 no exterior veio para o Brasil somente com tração dianteira enquanto a mais recente desenvolvida mais em função do mercado chinês na joint-venture com a SAIC já não oferece esse recurso nem sequer como opcional, convém destacar que o layout de motor dianteiro transversal já pressupõe uma condição mais difícil para instalar motores que fujam às configurações com 4 cilindros em linha usados antes ou 3 cilindros como no modelo atual que diga-se de passagem conta exclusivamente com motores turbo de 1.0L ou 1.2L a gasolina com injeção direta para a China ou flex com injeção sequencial nos pórticos de válvula nos modelos nacionais. Para quem se dispusesse a radicalizar, e eventualmente tentar adaptar um V6 ou mesmo um V8, uma plataforma com motor dianteiro longitudinal e tração traseira costuma ser mais favorável a adaptações, também em função da maior facilidade para encontrar componentes de transmissão suficientemente dimensionados para suportar esforços mais intensos com um motor mais brutal;
5 - minimizar o impacto do fogo amigo chinês: é difícil negar que o investimento forte na China foi como chocar um ovo de serpente, apesar de ter parecido tão promissor mesmo diante da necessidade de associar-se a uma empresa local para operar naquele mercado e o baixo custo da mão de obra escrava se mostrar convidativo a fazer da China um hub de exportação para outros países de terceiro mundo. Além de carros normais como o Chevrolet Sail de 2ª geração que chegou a ser oferecido até em países como o Uruguai e a Colômbia, a joint-venture com a SAIC proporcionou a oportunidade para que se fizesse um dumping por quase toda a América Latina, África e Oriente Médio com as microvans chinesas Wuling Rongguang sendo rebatizadas como Chevrolet N300 e proporcionando um acesso fácil da SAIC tanto a mercados externos onde o peso da maior tradição da marca Chevrolet ainda seria decisivo quanto abrir terreno para outras marcas pertencentes à SAIC como a própria Wuling viessem a consolidar-se a ponto de terem passado a contar com um maior protagonismo à medida que divisões da GM como na Índia e na Indonésia passavam a ser diretamente subordinadas à joint-venture SAIC-GM ao invés de seguirem reportando-se à matriz da GM nos Estados Unidos. O crescimento da SAIC no vácuo da GM na Índia e na Indonésia, e da também chinesa Great Wall Motors não só na Índia mas também na Tailândia que é o principal hub de produção de pick-ups médias na atualidade, proporciona contornos bastante claros de que houve uma sobreposição de interesses do expansionismo chinês em detrimento da General Motors.
Vale lembrar que, além de furgonetas mais pé-duro para trabalho como a Rongguang, hoje a Wuling já produz minivans também de tração traseira nas mesmas instalações onde antes se produzia a Chevrolet Spin na Indonésia, diga-se de passagem com motores mais modernos que o 1.8 usado na Spin brasileira e cujo projeto foi repassado à SAIC sem qualquer ônus sob aquelas premissas de uma "transferência de tecnologia" para os parceiros locais exigida dos fabricantes estrangeiros para operarem na China. Pois bem, mesmo que uma eventual persistência na tração traseira para automóveis compactos se limitasse à joint-venture na China, o simples fato de ser uma configuração que a Wuling já dominava antes mesmo de ser estabelecida a cooperação entre a SAIC e a GM tornaria muito menos onerosa a transferência de tecnologia e poderia no mínimo postergar a eclosão do ovo da serpente e facilitado uma retomada de mercados externos a partir de outro hub de exportação diante de eventuais represálias à China diante da crise deflagrada pelo surto do coronavírus alastrado a partir de Wuhan.
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