segunda-feira, 4 de abril de 2022

Por quê um improvável retorno do Celta às linhas de produção até poderia ser coerente?

Um carro que foi desenvolvido com pretensões bastante austeras, inclusive tendo sido cogitado para ser o carro "mais barato do mundo", o Celta foi o primeiro modelo produzido na fábrica da General Motors em Gravataí, também favorecendo uma liderança regional da Chevrolet nas vendas de carros novos no Rio Grande do Sul. Produzido entre 2000 e 2015, tendo recebido a opção por 4 portas somente em 2002 ainda com o motor 1.0 de baixa compressão substituído no ano seguinte pelo VHC no mercado interno, o Celta ainda chegou a ter uma presença na pauta de exportações regionais relativamente forte até 2006 tanto no Mercosul quanto em alguns países caribenhos e também nos territórios holandeses de Aruba e Curaçao. Baseado na mesma plataforma usada na primeira geração do Corsa que nunca foi oferecida no Brasil, e que também já havia sido reaproveitada na 2ª geração do Corsa europeu e que marcou a estréia do modelo no Brasil acabou tornando-se grande sucesso na América Latina de um modo geral, o Celta é um modelo tecnicamente bastante simples e de manutenção tida como fácil, de certa forma remetendo à mesma situação que ocorreu com o Fusca numa outra época, e portanto pode levantar uma especulação quanto à viabilidade de um Celta ainda atender bem ao público generalista brasileiro, valendo listar ao menos 5 motivos:
1 - diminuir influência chinesa nos segmentos de entrada: embora no Brasil os fabricantes chineses já venham demonstrando mais interesse em segmentos com uma margem de lucro maior, como SUVs e mais recentemente veículos elétricos, continuam fazendo um dumping pesado entre os modelos básicos. A presença de um modelo generalista relativamente barato ainda poderia ser útil para reter uma parte do público mais conservadora, ao invés de simplesmente entregar de bandeja um segmento inteiro para os chineses;
2 - uma opção para favorecer a renovação de frota: apesar do mercado brasileiro de veículos novos vir recuperando volumes de vendas no rescaldo da crise deflagrada pelo novo coronavírus chinês e que foi agravada por politicagens da oposição irresponsável ainda impregnada nas mais diversas esferas da administração pública, um modelo mais acessível e tecnicamente simples permaneceria atrativo para alguns atuais usuários de veículos mais antigos nem sempre no melhor estado de conservação possível. Embora os custos de alguns sistemas que já vinham sendo implementados durante o ciclo de produção do Celta gerem um impacto sobre o preço ao consumidor, até seria eventualmente vantajoso considerar benefícios à segurança no trânsito de um modo geral a presença dos freios ABS e as emissões menores de um motor homologado nas normas ambientais em vigor ao comparar um eventual relançamento do Celta e a possibilidade de alguns exemplares virem a substituir algum "pau véio" muito desgastado pelo uso severo e negligência no tocante à manutenção ao longo de uma vida útil operacional estendida;
3 - viabilidade técnica para implementar algumas atualizações de segurança: mesmo com uma plataforma tida como obsoleta, e certamente menos eficiente na proteção do motorista e passageiros em caso de colisão, o Celta recebeu a partir de 2013 os freios ABS e o airbag duplo inicialmente como opção e tornados obrigatórios em 2014. Até seria possível incorporar outros recursos como controle eletrônico de tração e estabilidade, para o qual são necessários os freios ABS e o corpo da borboleta de aceleração eletrônico hoje difundidos em praticamente toda a linha de veículos novos à venda no Brasil;
4 - mais seguro que moto: apesar dos perfis distintos entre uma parcela do público das motocicletas utilitárias e dos automóveis, mesmo considerando os modelos mais austeros como era o caso do Celta, vale destacar os benefícios normalmente apontados com relação aos carros numa comparação com as motos, bem como a proteção mais efetiva quanto às intempéries. Naturalmente há quem alterne o uso de uma moto utilitária de pequena cilindrada e de um carro "popular", como em São Paulo em função do rodízio de veículos que as motocicletas são isentas, mas para quem eventualmente considere fazer uma escolha entre um ou outro a preferência pela segurança aparentemente maior inerente a um carro às vezes se torna decisiva;
5 - precedente histórico: é inegável que o relançamento do Fusca entre '93 e '96 como um aceno da Volkswagen ao então presidente Itamar Franco pode levar a crer que um retorno do Celta ao mercado possa fazer sentido, em que pesem as diferenças no tocante a observâncias de normas de segurança e emissões e o quão difícil o enquadramento numa norma mais rigorosa poderia ser, considerando a necessidade de incorporar outra formulação à química do catalisador para aumentar a durabilidade e eficiência desse componente ou um cânister de maior capacidade para reter uma quantidade maior dos vapores exauridos do tanque e o uso de pré-aquecimento elétrico dos bicos injetores para a partida a frio com álcool/etanol visando diminuir as emissões evaporativas, enquanto no caso do Fusca houve só a necessidade de incluir o catalisador.
Em meio a uma economia se recuperando dos estragos causador por lockdowns e outras medidas sem nenhuma eficiência, e também lembrando um aumento na utilização de veículos particulares a trabalho em transporte por aplicativos como o Uber tendo fomentado desde uma procura por veículos compactos novos até uma extensão da vida útil operacional de modelos médios, um eventual retorno do Celta até poderia encontrar alguma receptividade junto a consumidores com perfis mais austeros. Mesmo que a princípio pareça improvável que a GM tentasse pleitear qualquer favorecimento ao Celta junto ao presidente Jair Bolsonaro, como uma dispensa das novas normas de emissões ou uma isenção da futura obrigatoriedade de incorporar controles eletrônicos de tração e estabilidade, de forma análoga à inclusão do motor de 1.6L refrigerado a ar do Fusca na mesma alíquota de IPI destinada aos "populares" com motor de 1.0L e refrigeração líquida, ainda seria até justificável um hipotético retorno do Celta às linhas de produção tanto para o mercado brasileiro quanto alguns mercados de exportação regional.

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