quarta-feira, 12 de abril de 2023

Volkswagen Virtus e a eliminação do motor aspirado no Brasil: uma medida pouco acertada

Lançado em 2018 no Brasil, e em 2022 na Índia onde foi apresentada pela primeira vez a reestilização trazida no modelo 2023 brasileiro, o Volkswagen Virtus chegou a ter inicialmente o motor 1.6 MSI num primeiro momento apenas com câmbio manual e o 1.0 TSI com câmbio automático, e posteriormente o câmbio automático também passou a ser disponibilizado com o 1.6 MSI e foi incorporado o motor 1.4 TSI com câmbio automático na versão GTS antes e agora sendo usado na versão Exclusive. Para 2023 o 1.0 TSI passou a ter duas calibrações, a 170 TSI e a 200 TSI já usada desde o início, e a mais mansa visando substituir o 1.6 MSI que deixou de equipar o modelo no mercado nacional sob alegações de atender às atuais normas de controle de emissões, que francamente soa como uma desculpa esfarrapada. Vale lembrar que já se vão por volta de 20 anos que a Volkswagen tem ensaiado usar apenas motores turbo tanto em modelos a gasolina (ou flex para o mercado brasileiro) quanto nos Diesel que já foram tão importantes na estratégia do fabricante a nível mundial antes da eclosão do "Dieselgate" de 2015 e, apesar do custo de um motor 1.0 turbo de 3 cilindros com injeção direta ser maior que o do 1.6 aspirado com 4 cilindros e injeção sequencial indireta, a alíquota de IPI menor para os carros 1.0 no Brasil servia como incentivo para o TSI mesmo quando o 1.6 aspirado era o único motor oferecido nos mercados de exportação regional.

Por mais que o 1.0 TSI pareça justificável sob um ponto de vista técnico no tocante a uma expectativa de redução do consumo de combustível, porque a injeção direta dispensa um enriquecimento da mistura ar/combustível que seria necessário a um motor turbo com injeção indireta para evitar a pré-ignição em algumas condições, é inegável que a austeridade da aspiração natural permanecia relevante junto àquele público mais conservador ainda condicionado a lembrar instantaneamente do Fusca e da Kombi sempre que a Volkswagen é mencionada, além do mais que o Virtus tende a ser especialmente útil para marcar a presença internacional do fabricante com a produção tanto no Brasil quanto na Índia tornando mais fácil alcançar difterentes regiões proporcionar com a devida licença poética uma comparação com o sucesso do Fusca como "carro mundial", e também casos específicos como o dos taxistas e mais recentemente os motoristas de aplicativo em função da maior facilidade para implementar uma conversão para usar o gás natural. Curiosamente, com o Volkswagen Virtus sendo exportado para o México agora a partir da Índia ao invés do Brasil, e no mercado indiano sejam usados desde o lançamento apenas os motores 1.0 TSI com opção por câmbio manual ou automático e 1.5 TSI Evo sempre com o automatizado DSG com dupla embreagem e 7 marchas, o uso do 1.6 MSI em versões de especificação mexicana permanece em opção de entrada com câmbio manual ou automático e sendo complementado pelo 1.0 TSI sempre com câmbio automático. Além de motores aspirados ainda parecerem mais "à prova de burro" aos olhos de uma parte considerável do público, também pesa a favor uma certa linearidade levando considerando o turbo-lag ficar mais acentuado em regiões de altitude mais extrema como é o caso do Vale do México, a ponto da compensação de altitude que é uma vantagem oferecida pelo turbo demorar a ser sentido pelos condutores, logo o downsizing pode parecer mais difícil de justificar.

Mesmo parecendo difícil justificar o motor 1.6 MSI diante de uma imagem mais "arcaica" enquanto o TSI evoca toda uma pretensão de modernidade, é previsível que uma parte do público brasileiro tenha um ceticismo quanto ao turbo e a um maior rigor requerido em cuidados, como uma observância mais rigorosa das especificações do óleo lubrificante para evitar a formação de borra, lembrando que motores com 4 válvulas por cilindro hoje tão comuns também sofreram por esse descuido nas mãos de um povo acostumado a tratar Fusca e Kombi com gambiarras e descaso na manutenção. Se por um lado a injeção direta no TSI facilita a partida a frio para quem ainda aposta no etanol, por outro as pressões mais altas nesse sistema também se refletem no custo e na complexidade, além da alegação quanto a emissões ser uma faca de dois gumes à medida que intensifica a formação de material particulado que antes era vista como um problema exclusivo dos motores Diesel e requerer o uso de um filtro de material particulado para manter o enquadramento nas normas ambientais em vigor já aplicáveis em algumas regiões e em breve chegando também ao Brasil. Enfim, poderia ser justificável que o motor 1.6 MSI permanecesse ao menos como opção para o Virtus no Brasil a exemplo do que ocorre em outros países, chegando a ser o único motor disponível para o modelo na África do Sul onde é denominado Polo Sedan, ainda que lá o Polo hatch da geração atual use apenas motores TSI.

2 comentários:

Júlia disse...

Já tem muito carro que vem só com motor turbo faz tempo. E por motor 1.0 pagar menos imposto o preço já não devia ficar pelo menos parecido com o motor 1.6 sem turbo?

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Não necessariamente. Um turbocompressor está longe de ser barato, além de ser usado o intercooler, e a injeção direta tem componentes mais caros.

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