sexta-feira, 7 de julho de 2023

5 maiores empecilhos para triciclos utilitários conquistarem uma participação de mercado mais expressiva no Brasil

Um país tão peculiar quanto o Brasil impõe uma série de desafios nas diversas atividades econômicas, e dentre eles a logística tende a requerer também abordagens mais específicas em cada condição regional. Chama a atenção que um tipo de veículo que demonstrou grande utilidade na Itália do pós-guerra com o Piaggio Ape, e ainda se destaca na Índia onde fabricantes como a Bajaj que já exportou alguns modelos para o Brasil onde a Kasinski os comercializou brevemente entre 2001 e 2004, seja tão pouco difundido no mercado brasileiro. Naturalmente há de se considerar desde fatores mais estritamente operacionais a outros meramente subjetivos, que acabaram efetivamente dificultando uma maior difusão dos triciclos utilitários mesmo junto a operadores estritamente comerciais, cabendo destacar ao menos 5 motivos...
1 - falta de interesse governamental: desde a época de Juscelino Kubitschek e a instituição do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) em meio ao plano de desenvolvimento "50 Anos em 5", os incentivos eram mais voltados a caminhões e outros utilitários de configuração mais "convencional" por assim dizer e automóveis de passageiros. Motocicletas, ciclomotores e "assemelhados", a categoria que corresponderia aos triciclos, precisou esperar que o regime militar implementasse a Zona Franca de Manaus, e o grande destaque da produção de veículos motorizados em Manaus até hoje é mais restrito às motocicletas mesmo;

2 - imagem de uma suposta "inferioridade" associada às motos: de um modo geral, foi consolidada jumto á opinião pública no Brasil a percepção do carro como um símbolo de ascensão social, e as motos e similares eram num primeiro momento vistas como artigo de lazer até as crises do petróleo levarem a um interesse pela economia de combustível que poderiam gerar. E assim, ao invés de se fazer a analogia entre um pequeno triciclo de carga e uma caminhonete compacta, a comparação mais evidente era com uma Vespa;

3 - tabu quanto ao transporte de passageiros: embora experimentos mais recentes como da empresa Grilo, que faz um serviço parecido com o Uber mas com abrangência geográfica menor e valendo-se de triciclos elétricos importados da China com um apelo ecológico, o brasileiro médio ainda parece ver um triciclo com ceticismo. A utilização de veículos dessa categoria ser hoje mais associada a países que são considerados "periféricos" também entra em confronto com uma imagem do veículo motorizado como símbolo de ascensão social no Brasil, e portanto até uma abordagem voltada a pretensões ecológicas já acaba ficando restrita a aplicações comerciais;

4 - velocidade máxima muito restrita: tanto alguns modelos importados geralmente da China quanto conversões feitas a partir de motos nacionais como a Honda CG 160, que são os mais comuns de se ver no uso comercial, costumam ter velocidade máxima em torno de 60km/h e portanto ficam mais restritos ao tráfego urbano. Tendo em vista que de um modo geral os veículos motorizados no Brasil são muito caros, uma "especialização" que possa ser considerada excessiva por operadores que ocasionalmente precisem transitar ainda que muito brevemente em trechos rodoviários pode manter uma preferência ou pelas motos ou por uma caminhonete mais convencional;
5 - importãncia do valor de revenda: mesmo que um triciclo possa até proporcionar uma economia operacional superior à de uma pequena caminhonete em condições de uso idênticas, já levando também em consideração o valor do DPVAT mais alto inerente à condição de assemelhado a motocicleta devido à óbvia diferença na questão da segurança, o valor de revenda pode ser afetado tanto por uma imagem de improviso aos olhos do público generalista quanto por algumas burocracias que dificultem reverter a transformação de uma moto em triciclo e regularizar a documentação. Apesar do custo inicial menor, e eventualmente os custos operacionais totais proporcionarem um retorno do investimento mais célere em comparação a utiliários de concepção "convencional" ficando mais lucrativo durante a vida útil e poder justificar o sucateamento ao invés de um uso continuado na mão de outro operador, a impressão que um triciclo vá ser mais difícil de vender com rapidez e a depreciação total proporcionalmente maior causa um temor que se revela até infundado junto a uma parte expressiva dos operadores comerciais.

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