Naturalmente, no caso da Agrale, uma maior receptividade ao outsourcing dos motores a diesel como os Cummins ISF2.8 e ISF3.8 que equipam diferentes versões do Marruá já é menos arriscado que desenvolver um motor a gasolina por conta própria, como ocorreu a partir do momento que o inesquecível João Augusto Conrado do Amaral Gurgel visava o fim da dependência por motores (e câmbios) de origem Volkswagen nos utilitários Gurgel, e apostou mais alto no projeto de carros com proposta declaradamente popular. Economia de escala é só a ponta do iceberg, lembrando que a Agrale chegou a fazer experiências de relativo sucesso com motores de fabricação própria baseados em projetos da Hatz alemã, ainda usados em alguns dos tratores Agrale, mas o uso veicular acabaria sendo inviável em veículos modernos devido às normas de emissões e à burocracia para homologação. E se para produtos mais especializados, com um custo inicial obviamente mais alto que o de um carro popular, já fica praticamente impossível justificar o risco de desenvolver um motor próprio, mesmo considerando a possibilidade de vender também versões estacionárias ou para propulsão de barcos como faz a Agrale com alguns motores "de trator", um foco em utilitários aptos ao uso de motores a diesel conforme uma estúpida regulamentação brasileira que restringe tal opção de acordo com capacidades de carga e passageiros ou tração mantém a Agrale numa situação mais cômoda do que a da antiga Gurgel.
Por mais que a tração 4X4 acarrete um custo superior e apresente maior complexidade na comparação ao uso de conjuntos motrizes da Volkswagen que equipavam a linha Gurgel, a ponto de ter sido sido muito dependente da disposição de motor traseiro como no Fusca para assegurar a capacidade de transposição de terrenos severos, foi indispensável para o Agrale Marruá ser capaz de disponibilizar maior variedade de capacidades de carga tanto em versões militares quanto civis sem prejuízos à aptidão off-road. Apesar de ter os utilitários como foco principal desde a época que produzia caminhões leves e chassis para microônibus, e deixando de lado o caso das incursões da Agrale na produção de motos sempre em parceria com empresas italianas como a Cagiva e até mesmo a MV Agusta, e o exemplo de alguns fabricantes tradicionais de motos como a Suzuki e a BMW Motorrad valendo-se de projetos compartilhados com fabricantes chineses como a HaoJue que fica a cargo da produção dos modelos básicos de motos Suzuki a nível mundial ou indianos a exemplo da TVS Motor que produz todos os motores das motos BMW G310 tanto para a Índia quanto para outros mercados, chega a ser mais fácil produzir motos que carros de proposta popular, e um hipotético retorno da Agrale ao mercado motociclístico já seria suficientemente improvável para descartar uma inserção em segmentos generalistas do mercado automobilístico como a que levou a Gurgel à falência. Portanto, mesmo com um volume de produção menor em comparação a concorrentes internacionais, e também em comparação à Mahindra que de certa forma é um expoente da motorização indiana e também tem mais destaque nos utilitários, é inevitável observar a situação da Agrale em meio a um mercado de utilitários cada vez mais concorrido e onde a burocracia traz novos desafios tanto no tocante ao controle de emissões quanto à exigência de dispositivos de segurança como freios ABS, ou airbags de acordo com a classificação dos veículos, e fazer uma analogia com a Gurgel da época que ainda dependia dos conjuntos motrizes de origem Volkswagen.
Possivelmente o fato de estar desvinculada de qualquer fabricante multinacional leva a uma maior dificuldade para dar visibilidade à Agrale junto ao público generalista, mesmo que o público mais especializado alcançado pela empresa também possa ser servido pela rede de assistência técnica dos fornecedores como a Cummins no caso dos motores hoje oferecidos no Marruá, que favorece até uma pauta de exportação, sem o risco de um fogo amigo como o que teria causado atritos entre a Gurgel e a Volkswagen devido à disputa no mercado de jipes para resorts no Caribe. Até na África onde a Toyota ainda dá as cartas, o Agrale Marruá já tem uma discreta presença com um curioso destaque em países de mão inglesa como Namíbia e Uganda, e talvez por permanecer concentrada nos utilitários e ter uma escala de produção menor que facilite customizações a Agrale mais complementa que canibaliza a oferta de fabricantes mais tradicionais, tal qual ocorria com a Gurgel e outros fabricantes pequenos no Brasil antes da reabertura das importações de veículos. Enfim, apesar de ser menos lembrada pelo público generalista na atualidade, estaria longe de ser totalmente incoerente apontar a Agrale como uma espécie de "Gurgel que deu certo".
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