Um veículo utilitário muito conhecido no Brasil, e ainda uma figura constante no trânsito, a Kombi tem algumas peculiaridades que tornam um tanto difícil apontar um sucessor efetivo em todas as condições de uso. O simples fato de ser derivada de um carro de pretensões populares, no caso o Fusca, pressupõe relativa facilidade no tocante à manutenção, e nem mesmo a introdução do motor EA-111 numa versão flex movida tanto a álcool quanto gasolina em substituição ao tradicional boxer refrigerado a ar durante a transição dos anos-modelo 2005 para 2006 e atendendo também à progressão das normas de emissões Euro-2 para Euro-3 poderia ser considerada algo extravagante porque o motor mais moderno ainda era tecnicamente próximo ao padrão dos "populares" da mesma época. Naturalmente a disposição de motor e tração traseiros dificultaria a apresentação de um modelo semelhante que viesse a incorporar motor e tração dianteiros visando compartilhar elementos de projeto com carros "populares" modernos, levando em consideração as alterações na distrubuição de peso entre os eixos conforme se alterem as condições de carga e o efeito sobre a trafegabilidade em trechos mais desafiadores quanto ao terreno e topografia.
Naturalmente o motor traseiro acaba causando uma intrusão no compartimento de carga, que pode soar mais difícil de justificar em função de uma diminuição na capacidade volumétrica e causando limitação no acesso para carregar e descarregar o veículo devido ao vão mais baixo de abertura da tampa traseira, considerando uma altura total externa parelha à de algum veículo de proposta semelhante que tivesse o motor dianteiro, ou central-dianteiro como na concorrência que apareceu na década de '90 importada da Coréia do Sul e do Japão ou mais recentemente até da China. Por outro lado, o fato de concentrar motor e transmissão atrás possibilita o assoalho ainda ter ao menos uma parte mais baixa como em modelos de projeto mais moderno com tração dianteira, tendo em vista eliminar a necessidade por um eixo cardan e de evitar interferências da movimentação de um eixo traseiro rígido com uma carcaça de diferencial em relação ao assoalho que seria observada em outros furgões de tração traseira mas com o motor dianteiro ou central-dianteiro. No caso específico da Kombi, cuja versão Standard voltada ao uso misto foi a mais popular, já facilita o acesso dos passageiros ao salão central pela ausência de degraus, apesar da cabine e do compartimento de bagagens terem um pouco mais de altura de embarque.
A própria Volkswagen chegou a tentar apresentar modelos destinados ao transporte de passageiros para substituir a Kombi em '98 com a 4ª geração da Transporter alemã, com destaque para a versão Caravelle de proposta mais sofisticada, já incorporando motor dianteiro transversal e tração dianteira mas faltando a opção por tração 4X4 que foi disponibilizada em outras regiões e podia facilitar a trafegabilidade pelo interior onde a Kombi ainda reinou confortavelmente. Tendo chegado ao Brasil somente entre '98 e '99 sem a opção por uma configuração destinada ao transporte de cargas, certamente a T4 acabou falhando na missão de tentar substituir a Kombi também pela exigência da CNH categoria D por ter acomodação para mais de 8 pessoas além do motorista, enquanto a Kombi Standard levando somente o motorista e mais 8 passageiros ainda pode ser conduzida com CNH categoria B tanto no uso originalmente previsto pela fábrica quanto ao ser usada para transportar somente cargas. E mesmo tendo usado o motor Diesel de 5 cilindros e 2.4L ainda com injeção indireta e sem turbo nas únicas versões da T4 trazidas ao Brasil, que na prática acaba sendo mais rústico que alguns motores destinados a carros generalistas atualmente, a concepção geral do modelo era bastante sofisticada até na comparação com vans coreanas e japonesas da mesma época, além do compartimento do motor mais segregado do habitáculo que também favorece a percepção de uma maior segurança em contraste com aquele velho ditado "parachoque de Kombi é o joelho do motorista".
Me parece desnecessário entrar no mérito de outros motores usados na linha de vans Volkswagen, como o AP em versões a gasolina 1.8 que chegou a ser usado na Kombi brasileira para exportação ao México ou 2.0 como a própria T4 usou em outras regiões, embora a recente guerra entre Rússia e Ucrânia tenha levado o preço do óleo diesel convencional até no Brasil a custar mais que a gasolina comum, mas com o downsizing cada vez mais presente fica difícil um mesmo motor servir bem tanto a carros generalistas quanto a vans de porte médio a grande. E embora a tração dianteira tenha resultados satisfatórios para o uso em ambiente urbano ou rodoviário, é inegável que fatores como alterações na concentração de peso entre os eixos de acordo com as condições de carga exigiriam outra abordagem para permanecer com uma boa desenvoltura em trechos mais severos por esse Brasil afora. Enfim, considerando também que gerações de utilitários mais modernos com motor dianteiro que vieram a se tornar o padrão passaram a ser maiores em proporção à capacidade volumétrica ou à capacidade de passageiros, fica ainda mais difícil apontar um efetivo substituto para a Kombi também no porte compacto e na manobrabilidade em espaços exíguos.
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