quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Gurgel X-12: precursor improvável dos SUVs crossover, mas ainda focado em aspectos essencialmente utilitários

Um daqueles casos que poderiam parecer absolutamente improváveis para quem não faça um esforço e tente entender algumas peculiaridades do mercado automobilístico brasileiro, especialmente durante os anos '80 no auge da restrição às importações e da defasagem tecnológica que o país vivenciou, o Gurgel X-12 de certa forma pode ser considerado um precursor da obsessão por SUVs compactos que hoje são objeto de desejo da classe média urbana. Em que pese o compartilhamento das mesmas plataformas dos automóveis generalistas na atual geração dos SUVs tipo "crossover", em contraste ao uso de um chassi tubular próprio e revestido pela própria carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro dando forma a um monobloco em "Plasteel" como era anunciado pela Gurgel em alusão ao uso do plástico e do aço (steel em inglês), o simples fato de ter recorrido essencialmente ao mesmo conjunto mecânico do Fusca já dá margem a comparações com veículos mais recentes derivados de carros "populares" generalistas.

Diferenciando-se da estratégia atualmente aplicada pelos fabricantes generalistas aos "crossovers" hoje, o Gurgel X-12 destacava-se também pelo comprimento e distância entre-eixos menores que os do Fusca com o qual compartilhava o conjunto motriz, característica que favorecia ainda mais a aptidão off-road pela qual a linha clássica da Volkswagen com motor e tração traseiros era muito apreciada no Brasil em meio às condições de rodagem severas tanto nos principais pólos agropecuários quanto nas periferias de grandes centros urbanos. É bastante peculiar observar que o crescimento da Gurgel, focada no nicho das aplicações utilitárias profissionais e favorecida pela viabilidade de desenvolver versões especiais até em função da escala de produção menor que a dos fabricantes generalistas, chegou a impactar na demanda pelo Jeep CJ-5 cuja produção no Brasil foi encerrada pela Ford em '83 apesar de claras diferenças entre os sistemas de tração, com a tração somente traseira não impedindo o Gurgel X-12 de atrair uma parte dos consumidores que podia abrir mão da tração 4X4 do Jeep.

Ironicamente, hoje a falta da opção de tração 4X4 em alguns "crossovers" modernos ou os sistemas de tração integral mais otimizados para uso em trechos pavimentados como uma espécie de auxílio para a compensação de características dinâmicas que os diferenciam de um carro mais generalista e exigiriam maiores cuidados pelo condutor tal qual se observa em pick-ups médias ou grandes e caminhões levam a críticas quanto à falta de aptidão ao enfrentamento de condições de rodagem efetivamente severas, em contraponto ao que se observava no Gurgel X-12 que tinha na tração simples a premissa de economia e simplicidade que favoreciam a redução de custos operacionais. Não seria de se duvidar que, se a Gurgel não tivesse falido na década de '90 e eventualmente ocorresse uma liberação irrestrita de motores Diesel em veículos de tração simples sem levar em conta as capacidades de carga e passageiros, talvez uma modernização do conceito do Gurgel X-12 sem abdicar a aptidão off-road manteria um público cativo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho pouco provável que tivesse chegado a brigar com a Toyota se tivesse saído algum X-12 a diesel, mas provavelmente não teria tanto Bandeirante daqueles mais curtinhos como ainda tem hoje.

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