Num primeiro momento, a aposta da BMW Motorrad em trazer para o Brasil a linha G 310 criada para atender principalmente ao mercado asiático e mais especificamente à Índia parecia uma aposta bastante segura, que traria mais visibilidade para a marca junto a motociclistas menos experientes e incrementar o volume de vendas sem precisar mirar num público mais explicitamente generalista que não chegaria a gerar um lucro tão expressivo por unidade e eventualmente não seria tão propenso a comprar acessórios originais. Mas apesar da obsessão do brasileiro por um prestígio como o atribuído à BMW, é impossível negar que me surpreende não ver uma quantidade tão expressiva da BMW G 310 R em comparação aos modelos de fabricantes japoneses numa faixa de cilindrada semelhante. Longe de ser algo injustificável, a situação pode ser atribuída tanto a fatores de ordem estritamente técnica quanto questões burocráticas e até culturais.
Dentre os aspectos técnicos, é inegável que tanta sofisticação aplicada a um motor monocilíndrico nessa faixa de cilindrada destoa da percepção estritamente utilitária que essa configuração encontra aos olhos do público generalista, em contraste com motores bicilíndricos considerados mais adequados à proposta recreacional/esportiva de uma Yamaha MT-03 por exemplo. Portanto, características como refrigeração líquida acabam sendo vistas mais como um empecilho aos olhos de um "mano" que ao cogitar a compra de uma moto monocilíndrica imediatamente maior que a onipresente Honda CG acabam favorecendo a opção mais conservadora por uma Honda CB Twister ou uma Yamaha Fazer 250 que permanecem boas motos para quem não se dispõe a dar atenção a mais alguns elementos nas manutenções de rotina, e até acabe optando por um modelo mais simples e à prova de burro com a intenção de negligenciar alguns cuidados mais básicos com o motor. Naturalmente, o logotipo com a hélice estilizada em referência às origens da BMW como fabricante de motores para aviação assusta na hora de fazer os orçamentos para revisões ou substituições de peças na mesma proporção que encanta a quem busca na marca a imagem mais sofisticada em comparação à dupla japonesa que concentra os maiores volumes de venda em todo o mercado motociclístico brasileiro.
E por mais que características como o chassi em treliça e a suspensão dianteira upside-down fascinem a um público mais ávido por esportividade na mesma proporção que o motor com refrigeração líquida e o fluxo de admissão pela frente e escapamento atrás do cilindro otimizem o rendimento e até contribuam para mais eficiência energética e redução das emissões poluentes, seria precipitado atribuir somente ao conservadorismo do consumidor eventuais entraves a um maior sucesso da BMW G 310 R no Brasil. O sistema de habilitação para motocicletas não ter escalonamentos por faixas de cilindrada e/ou potência, ao contrário do observado na União Européia, Austrália e Japão, acaba induzindo motociclistas às vezes inexperientes a partirem para faixas de cilindrada mais altas caso o orçamento assim o permita. E não se pode negar que uma alta tecnologia pode parecer mais justificável ou amortizável no preço de modelos maiores, especialmente aos olhos de um público mais generalista e que vê qualquer motocicleta que não seja Honda ou Yamaha como inerentemente mais especializada mas ainda associa pura e simplesmente à cilindrada uma imagem mais prestigiosa.
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