Uma daquelas peculiaridades brasileiras da década de '80, em meio a um mercado automotivo fechado às importações e com uma hegemonia da Volkswagen ainda aparentemente inquestionável, certamente o cenário se mostrava favorável ao surgimento de modelos artesanais baseados na mecânica do Fusca. A pick-up Polauto por exemplo, recorrendo à mesma "receita" de carroceria em plástico reforçado com fibra de vidro sobre um chassi Volkswagen de motor e tração traseiros usada em tantos fora-de-série no Brasil e também em outros países, ainda explorava uma regulamentação da "era Sarney" que conferia às pick-ups um licenciamento anual menos oneroso em comparação aos automóveis dos quais podia usar o chassi. Outro ponto digno de nota quanto às condições de rodagem brasileiras, para as quais o conceito de motor e tração traseiros tornava Fusca e derivados uma opção mais econômica para quem não podia abrir mão de alguma aptidão off-road moderada nem partir para um veículo de tração 4X4 cujo custo é até hoje um empecilho, faz com que aquela adaptação aparentemente relegada à década de '80 possa ser desejável em alguns aspectos mesmo na atualidade.
A inegável semelhança da Polauto Look com a Saveiro, em que pese a diferença tanto na disposição do motor e tração quanto da concepção estrutural, com aquela tradicional configuração de chassi separado da carroceria dando lugar ao monobloco em aço que também já incorporava motor e tração dianteiros, é suficiente para permitir deduzir que em ambos os casos era perfeitamente viável manter uma aparência contemporânea. Naturalmente, desde a década de '80 à atualidade, inúmeras evoluções na preferência do consumidor brasileiro e nos métodos de manufatura aplicados à indústria automobilística relegaram a Polauto e a Saveiro quadrada a um passado para alguns bastante nostálgico, ainda que a Volkswagen tenha mantido o nome da Saveiro em modelos posteriores. Também é pertinente recordar que, embora a opção de cabine dupla que era o padrão para a Polauto tenha sido bastante comum na Saveiro quadrada, através de adaptações que se anteciparam muito à disponibilidade de uma configuração semelhante em modelos de produção regular pelos principais fabricantes do país como a própria Volkswagen, deve-se em boa parte a procura pela "duplagem" na década de '80 por algumas flexibilizações das normas que ainda hoje restringem o uso de motores Diesel em veículos leves no Brasil.
Mas se a favor da tração dianteira pesavam na década de '80 a imagem de modernidade e adequação às condições do tráfego rodoviário em velocidades médias mais altas, agradando também a um público de pretensões diferentes do caipira/colono que não tinha tanta pressa para prescindir da tração traseira, vale destacar que a presença de semi-eixos de transmissão invariavelmente acaba limitando o espaço para o sistema de direção proporcionar um ângulo de esterçamento mais amplo que se refletiria num diâmetro de giro menor e por consequência numa maior facilidade para fazer manobras em espaços mais exíguos no ambiente urbano. As alterações na distribuição de peso entre os eixos à medida que os veículos vão se aproximando da capacidade de carga máxima também não deixa de ser inconveniente em veículos de tração dianteira dependendo das condições de terreno e topografia, de modo que a tração traseira ainda é capaz de proporcionar melhor desempenho sem o aumento em consumo e emissões que poderia estar vinculado a um sistema de tração nas 4 rodas. Enfim, apesar da consolidação do mercado nacional em torno da tração dianteira em veículos compactos a partir da década de '80, para alguns operadores ainda se mantém desejável um modelo de tração traseira até entre os "populares".
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