Um dispositivo frequentemente subestimado pelo público generalista, o side-car no Brasil costuma ser alvo de estereótipos que vão da imagem de gambiarra associada a versões para carga até referências ao uso pelo III Reich durante a II Guerra Mundial dando contornos ainda mais polêmicos às aplicações no transporte de passageiros. Porém, à medida que a sofisticação e por extensão os custos vão crescendo no mercado automobilístico até em segmentos de entrada, é nas motocicletas de pequena cilindrada que uma parte do público deposita as esperanças quando opta por um veículo motorizado. Imbuídos pelos mais variados motivos que vão desde a economia operacional no transporte de pequenos volumes de mercadorias até as melhorias no tocante à segurança e conforto para um passageiro, alguns usuários dão uma chance a esse acessório tão versátil quanto estigmatizado.
É no mínimo interessante estabelecer relações entre as motos com side-car e o Fusca, considerando que até algumas características como a refrigeração a ar foram definidas para que pudesse competir de igual para igual no tocante à resiliência diante do rigoroso inverno alemão numa época em que os aditivos de radiador tão comuns hoje pareciam ficção científica. Por mais que no Brasil um carro ainda costume ser visto como inerentemente mais prestigioso que uma moto mesmo que no fim das contas busquem a um mesmo público-alvo, e até que a Volkswagen estivesse bem consolidada ainda era muito comum entre os fabricantes de motos da então Alemanha Ocidental considerarem o uso do side-car já durante a fase de projeto dos novos modelos, a idéia de "carro popular" materializada pelo Fusca ao longo de algumas décadas não apenas deixou de fazer sentido para os alemães como também não foi suficientemente apta a conciliar um custo mais palatável diante das evoluções no tocante à segurança veicular e emissões que trouxeram um impacto orçamentário mais difícil de amortizar em gerações mais recentes de automóveis compactos.
De fato, a motocicleta acaba ocupando um espaço que antes parecia ter sido conquistado pelos Fusca e que seria mantido de forma incontestável por gerações seguintes de carros populares, embora possa não ser tão adaptável a diferentes perfis de utilização sem recorrer ao side-car. Para quem tenha problemas de joelho e portanto não fique confortável para apoiar um pé no chão ao efetuar uma parada com a moto ou vá transportar por exemplo um cachorro, mesmo que num primeiro momento pareça fácil acomodar o bicho dentro de uma mochila, o side-car passa a fazer algum sentido ao invés de ser eventualmente tratado como tão somente uma junção das inconveniências da moto e do carro. Enfim, apesar de soar improvável aos olhos do público generalista uma abordagem análoga à do carro popular, o side-car ainda é útil para proporcionar diferentes perspectivas a eventuais interessados em recorrer à moto.
Um comentário:
No dia que a Uber aceitar moto com side-car, ninguém mais compra carro 1.0 para botar na moagem.
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