Com o relançamento do Fusca ao final de '93 e a produção estendida até a metade de '96, a Volkswagen certamente conseguiu "marcar território" de forma emblemática no segmento dos carros populares que então passava por uma consolidação. Tratado por alguns como "retrocesso" em meio a outros modelos de projeto ao menos 40 anos efetivamente mais modernos, o Fusca Itamar ainda fazia algum sentido aos olhos de um público conservador tanto em grandes cidades quanto em regiões mais interioranas onde o motor traseiro era favorecido pelas condições de rodagem severas, tendo em vista que a tração traseira acabava proporcionando um custo mais baixo em comparação a algum utilitário com tração nas 4 rodas. E mesmo às vezes sendo apontado de forma um tanto exagerada como se tivesse sido um fracasso sob o ponto de vista comercial, principalmente por agradar mais ao público do interior que das capitais, ainda teve um saldo positivo do investimento aplicado a uma retomada da produção que no fim das contas foi mais simbólica e política que estritamente técnica, em que pese ainda ter sido coerente.
Muito provavelmente, caso a retomada da produção do Fusca tivesse dado prejuízo, a Série Ouro que marcou o encerramento definitivo da produção do Fusca em '96 dificilmente teria sido justificada sob o aspecto estritamente comercial. Naturalmente, aplicar mais aprimoramentos para encerrar com chave de ouro o ciclo do Fusca no Brasil acarretaria num custo que uma ínfima minoria estaria disposta a pagar, além do mais que a cultura do antigomobilismo e também o infame "antigoportunismo" e a aposta nos "neo-colecionáveis" estavam muito lentamente tomando alguma proporção, considerando ainda como a década de '90 foi marcada pela reabertura das importações de veículos 0km no Brasil e carros que antes eram simplesmente tratados como "velhos" e alvo de toda sorte de gambiarra que servisse tão somente para manter a operacionalidade e eventualmente readequar alguma característica às condições da época passaram a ter a originalidade mais apreciada. Mesmo assim, o uso de alguns acabamentos semelhantes aos de modelos então atualizados e outras peças "da prateleira" também proporcionava uma economia de escala, e detalhes que num projeto tão antigo pareceriam passar batom nos lábios de um porco como usar o volante espumado do Gol já pareciam uma melhoria para quem comprava com o intuito de usar o veículo normalmente.
Avistar um Fusca Série Ouro praticamente como novo e sem descaracterizações, mesmo com pequenos detalhes estéticos fáceis de corrigir, é na atualidade uma situação que chama a atenção tanto à medida que tal versão vai se aproximando dos 30 anos de idade para ser reconhecida como colecionável e ter o direito à placa preta (faltando somente mais 3 anos) quanto pelo próprio Fusca por mais simbólico que seja do conceito de carro popular vá ganhando contornos "exóticos" diante de carros mais modernos e vistos com mais frequência em condições de uso normal. Especialmente curioso pelo Fusca Itamar ter sido favorecido politicamente para manter o motor 1.6 refrigerado a ar enquanto os 1.0 mais modernos tinham refrigeração líquida, e ter sido rapidamente ofuscado pela concorrência moderna mesmo com o brasileiro médio antes dando mais valor à cilindrada pura e simples como um fator de "prestígio". Só o fato de ter marcado uma transição do segmento de carros populares da tradição para uma modernização, bem como o encerramento da produção de um modelo especialmente icônico no Brasil, o Fusca Série Ouro se destaca.
2 comentários:
Até a kombi chegou a ser feita com radiador. Não tinha nenhum motor 1.0 que desse para botar no fusca na época desse modelo?
Teoricamente sim, mas o público-alvo do Fusca Itamar era mais conservador. E quem fizesse questão de um motor com refrigeração líquida, especialmente por parecer menos primitivo, também ficaria mais inclinado a comprar um Gol que um Fusca por outros motivos.
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