Uma daquelas situações que alguns podem considerar óbvia, o motor 2-tempos ter deixado de ser usado em automóveis de produção regular é um tópico que pode ser analisado por outras perspectivas. Até em meio a discursos pretensamente "ambientalistas" que tem promovido a demonização de qualquer motor de combustão interna, fica mais difícil assimilar que uma configuração considerada "arcaica" possa ter méritos devidamente reconhecidos, e eventualmente ser apontada como mais "sustentável". Ao menos 3 circunstâncias que poderiam favorecer o motor 2-tempos são fáceis de destacar.
2 - injeção direta até em alguns motores de aspiração natural: em que pese a injeção direta ter sido um dos artifícios para favorecer o downsizing à medida que o público generalista começou a ficar mais acostumado com o turbocompressor, também tem uma presença relevante em alguns motores aspirados, e a Honda tem sido um bom exemplo dessa situação. Tomando como referência a 11ª geração do Honda Civic, cuja chegada ao Brasil importado inicialmente em versão híbrida feita na Tailândia, e ainda outro bom exemplo sendo o Honda City da 7ª geração internacional que é a 3ª produzida e vendida no Brasil, é inevitável lembrar como em outros momentos históricos até relativamente recentes a injeção direta foi apontada como uma eventual "salvação" para motores 2-tempos tanto para motos em algumas classes de competição off-road e em adaptações para preservar a operacionalidade de motos utilitárias antigas nas Filipinas, quanto em motores de popa na propulsão de embarcações leves que também chegaram a ser oferecidos no Brasil. Vale destacar que outros fabricantes também chegaram a demonstrar interesses no desenvolvimento de motores 2-tempos modernizados para uso automotivo entre as décadas de '80 e '90 com o uso de tecnologia desenvolvida pela empresa australiana Orbital, e que era rigorosamente a mesma aplicada aos motores de popa Evinrude E-TEC. Também cabe destacar que a injeção direta tem a vantagem de facilitar a partida a frio usando álcool/etanol, sem recorrer a assistências como a injeção de gasolina que se usava antes do aquecimento elétrico do combustível ser implementado em motores de injeção sequencial convencional a partir do ano-modelo 2022 para reduzir as emissões evaporativas;
3 - maior presença do câmbio automático: com destaque para câmbios automáticos do tipo CVT, que tem sido mais usado pela Fiat em modelos generalistas como o Cronos com o motor 1.3 em substituição ao automatizado monoembreagem GSR e servindo também como uma espécie de "tapa-buraco" após o fim das versões com motor 1.8 opcionalmente associado a um câmbio automático mais convencional de 6 marchas, esse aspecto pode ser especialmente relevante até em função de uma evolução dos sistemas de controle eletrônico. Uma característica especialmente problemática para motores 2-tempos aos olhos do público generalista era a ausência de freio-motor, que também podia ser observada em veículos com motor 4-tempos quando os controles eletrônicos ainda eram menos comuns ou estavam em estágio mais inicial de desenvolvimento nos câmbios automáticos, mas no atual cenário é perfeitamente possível que o gerenciamento eletrônico compense tal desvantagem. Outro ponto a destacar é alguns carros antigos com motor 2-tempos e câmbio manual terem recorrido a mecanismos de roda-livre visando melhorar a longevidade do motor e diminuir o consumo de óleo lubrificante em determinadas condições, podendo ser também usada a programação eletrônica de um câmbio automático para proporcionar efeito análogo ao da antiga roda-livre.
Por mais improvável que um retorno dos motores 2-tempos pareça, especialmente nesses tempos com a obsessão pela eletrificação servindo de pretexto para demonizar os motores de combustão interna de um modo geral, é natural que outros fatores de ordem técnica pudessem também convencer algumas partes do público a ter um maior apreço por opções que passaram a ser subestimadas. A mesma simplicidade construtiva que favoreceria uma redução de custos também acabaria sendo eventualmente coerente no âmbito da alegada "sustentabilidade", tendo em vista uma adaptabilidade a combustíveis alternativos e até o uso de óleos lubrificantes de base vegetal por exemplo, e uma menor quantidade de peças móveis reduzindo a inércia e os atritos internos é outro aspecto que pode passar despercebido. Mas enfim, ainda que motores 4-tempos já tenham sido totalmente assimilados pelo público generalista, e a economia de escala acabe levando a ter uma presença um tanto "óbvia" até em contextos mais específicos, às vezes o motor 2-tempos ter deixado de ser usado em automóveis pode surpreender...
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