segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Por que poderia ter feito algum sentido a Ford insistir numa continuidade dos caminhões Série F médios depois de 2005?

Uma linha de caminhões que agradava a um público essencialmente conservador, como o uso de motores Diesel sem turbo na geração conhecida por "sapão" e ter permanecido só com injeção mecânica na geração "pitbull", e uma possível rejeição do público-alvo desses modelos pelo downsizing na transição entre as normas de emissões Euro-2 e Euro-3, que o próprio engenheiro responsável pelo laudo técnico resultante numa descontinuação das versões médias dos caminhões Ford Série F no Brasil já declarou ter sido o real motivo, indicavam claramente o perfil mais comum dos operadores que preferiam tais modelos. A cabine recuada ou "bicuda" compartilhada com as gerações das pick-ups full-size F-1000 e F-250 contemporâneas respectivamente ao sapão e ao pitbull encontrava apreciadores tanto pela percepção de um maior conforto e até uma sensação de segurança quanto pelo acesso fácil ao motor pelo capô basculante em peça única, em contraste com a idéia das cabines avançadas ou "cara chata" terem um acesso problemático ao motor e a sensação de insegurança pelo cockpit mais exposto em caso de colisão, mas o inevitável repasse dos custos em meio à substituição dos motores turbodiesel com injeção mecânica por outros já dotados de injeção eletrônica common-rail fomentou questionamentos sobre a eventual aceitação de um motor com 4 cilindros para substituir o Cummins de 6 cilindros que era usado no Ford pitbull, embora tal prática já fosse até bem sucedida junto a operadores mais receptivos aos caminhões de cabine avançada, e portanto tentar redirecionar o público tradicional da Série F para o Cargo soava mais fácil que aceitar a troca do motor por um menor na mesma faixa de potência. A princípio podia fazer algum sentido sob o ponto de vista da economia de escala, apesar dos chassis de caminhão costumarem ter um perfil bastante parecido e que viabilizava a produção num mesmo recinto, só variando mais a posição de alguns componentes com relação ao eixo dianteiro entre um "bicudo" e um "cara chata".

Em que pese a cabine recuada ter sido mais adequada à realidade brasileira quando o limite de peso para o eixo dianteiro era de 5 toneladas, e o aumento para 6 toneladas ter sido crucial para a cabine avançada ganhar espaço no mercado brasileiro até mais que as restrições ao comprimento máximo tanto de caminhões quanto das combinações com reboques e semi-reboques, um alto volume das vendas de caminhões ter sido voltado a grandes frotistas mais receptivos à cabine avançada que os caminhoneiros autônomos também foi muito significativo para alterar a dinâmica do mercado, mesmo que algumas aplicações pudessem proporcionar melhores resultados com um "bicudo". Geralmente por ter o compartimento do motor destacado do habitáculo, uma cabine recuada ainda pode ter menor altura total, facilitando o acesso a determinados locais, ao contrário do que se observa nos caminhões de cabine avançada com o motor logo abaixo da cabine, também sendo relevante pontuar que a irradiação de calor e ruído do motor fica muito mais fácil de atenuar num "bicudo", condição talvez mais importante que uma maior sensação de segurança para quem passa muitas horas ao volante por dia, bem como a aerodinâmica que pode parecer menos significativa para operar a baixas velocidades em canteiros de obras mas é apreciável tanto em função da economia de combustível quanto da redução de emissões em operação rodoviária. Apesar de alguns concorrentes como a Volkswagen terem partido desde o início para a cabine avançada, e mais especificamente ainda ter absorvido uma parte do público da linha de caminhões e chassis de ônibus da Ford com o fim da antiga joint-venture AutoLatina, e a Mercedes-Benz ter chegado a oferecer tanto modelos médios quanto pesados ainda com cabine recuada mesmo enquanto as normas Euro-5 já estavam em vigor, é até possível que uma parcela muito específica daquele público essencialmente conservador que a Ford buscava atender com a Série F tivesse alguma desconfiança quanto a motores de gerenciamento eletrônico com 4 cilindros, mas a Ford certamente poderia ter mantido versões médias da Série F em linha por mais algum tempo, e atender tanto ao mercado nacional quanto à exportação regional para países andinos onde caminhões "bicudos" ainda são muito apreciados.

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