Uma maior exigência do público generalista com relação ao conforto e conveniência nos automóveis, a ponto de até um carro pé-duro de hoje dificilmente sair de fábrica sem acessórios antes considerados de luxo como ar condicionado e direção assistida (em outras épocas hidráulica, agora predominantemente elétrica), é outro aspecto a ser considerado e que inibe uma diminuição mais acentuada dos preços, mas no caso de uma moto a própria natureza desse tipo de veículo pressupõe que a discussão seja irrelevante por ser impossível implementar um sistema de climatização. E apesar da TVS Sport 110i tomada como exemplo ter uma cilindrada menor que o mínimo de 125cc exigido para uso com um side-car no Brasil, embora a faixa entre 125 e 170cc que permanece concentrando uma parte mais expressiva do mercado motociclístico nacional já seja tratada como apta para tal condição operacional, também seria o caso de destacar uma persistência da refrigeração a ar entre os motores das motos de pequena cilindrada tanto nacionais quanto importadas hoje oferecidas no Brasil, e uma comparação com o Fusca é inevitável em função da simplicidade técnica cada vez mais distante do que se observa em carros modernos, mesmo os que ainda tenham uma alegada pretensão popular. Por mais bizarro que possa parecer sugerir motos e side-cars para fazer as vezes de carro popular, tal qual aconteceu na Alemanha antes de uma intervenção inglesa viabilizar a operação da Volkswagen no pós-guerra e encaminhado o Fusca para ser um sucesso, até no Brasil onde a concepção radicalmente diferente dos calhambeques e banheiras provenientes dos Estados Unidos tinha a simplicidade da refrigeração a ar exaltada por peças publicitárias naquela época que os aditivos usados nos sistemas de refrigeração líquida pareciam coisa de ficção científica, talvez a aposta na motocicleta e no side-car tivesse resultados mais imediatistas como um paliativo até que fosse fomentado um plano realmente eficaz no âmbito do "carro popular".
Lembrando ainda que o maior mercado automobilístico do país ainda é a Grande São Paulo, e o rodízio de placas tem nas motos uma das poucas isenções previstas, me parece mais fácil o cliente que só possa ter um único carro considerar uma moto como alternativa ao menos para o dia de rodízio, e o custo dos veículos híbridos que também são isentos do rodízio em São Paulo tem se mantido proibitivo para uma maior parte do público generalista. Mesmo deixando de lado uma discussão quanto ao side-car, ainda é mais fácil o atual comprador de carros usados com mais de 10 anos conciliar ao orçamento essa opção, e mesmo a diferença de preço com relação a um carro novo é frequentemente maior que o custo de uma moto nova de pequena cilindrada, e a bem da verdade hoje a maioria das motos novas mesmo dentre as mais simples como a TVS Sport 110i que ainda tem partida só a pedal já trazerem injeção eletrônica, e o catalisador e o cânister serem obrigatórios, também levam a crer que faria algum sentido incentivar as motocicletas tanto em função de um custo operacional mais contido quanto por uma efetiva redução de emissões de poluentes. Naturalmente seria estúpido sobretaxar automóveis, e uma parte do público está pouco se importando para a narrativa "ambientalista" ou para uma "diplomacia do etanol" que segue um tanto desacreditado apesar da predominância dos motores flex no mercado automobilístico, e o preço da gasolina por si só já favoreceu a moto junto a uma parte considerável do público que poderia cogitar um "novo carro popular" caso tivesse condições mercadológicas de ser implementado.
À medida que SUVs e pick-ups passaram a ser priorizados pelos fabricantes generalistas em detrimento de modelos compactos com motor 1.0 que definiam o segmento dos "populares", tendo em vista tanto a percepção de "valor agregado" aos olhos do público quanto uma maior lucratividade da operação, outro aspecto a se considerar quanto a um eventual "novo carro popular" seria a adequação para o uso junto a aplicativos de transporte como o Uber. Com um viés mais austero que modelos mais fáceis de inserir no contexto de carro popular tem incorporado como "ferramenta de trabalho", é inevitável lembrar também de como as motocicletas costumam ser percebidas de um modo geral como inerentemente "inferiores" a um carro nas mais variadas circunstâncias, e assim tem permanecido mais comum fabricantes de motos manterem uma linha mais modesta e efetivamente popular. Enfim, mesmo que tomar como referência a experiência dos "carros populares" durante os governos Collor e Itamar seja inevitável, hoje o mercado automobilístico é muito mais desafiador tanto por questões de ordem técnica quanto pela preferência do consumidor, e portanto pode-se dizer que comendo pelas beiradas a moto foi ficando mais próxima da função que seria de se esperar para um novo carro popular.
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