quinta-feira, 23 de maio de 2024

Observando algumas semelhanças conceituais entre o Suzuki Swift da década de '90 e o Fusca

Equivalente à 2a geração do Suzuki Cultus vendido no Japão, que foi lançada em 1988 e teve a produção para alguns dos principais mercados mundiais até 2003, com derivados permanecendo em linha até 2007 na Índia e até 2016 na China, o Suzuki Swift que chegou ao Brasil na década de '90 com a reabertura das importações de veículos certamente está entre os modelos "populares" mais próximos de serem uma reinterpretação modernizada do conceito que acabou originando o Fusca. A estrutura monobloco e o motor dianteiro transversal, que já estavam consolidados no segmento de automóveis compactos à época do lançamento do Suzuki Swift contrastam com o chassi separado da carroceria e motor traseiro longitudinal que caracterizavam o Fusca e a maioria dos derivados produzidos tanto pela própria Volkswagen quanto pelos tantos fabricantes independentes que viam a oportunidade de desenvolver veículos mais especializados a partir de uma plataforma tão versátil, mas o fato do Suzuki Swift já ter até sido vendido pela General Motors sob as marcas Chevrolet nos Estados Unidos e parte da América Latina, Geo nos Estados Unidos e até como Pontiac no Canadá também chama a atenção pela introdução da Volkswagen em alguns mercados fora da Alemanha através dos distribuidores da Chrysler como ocorreu no Brasil com a Brasmotor. Uma semelhança a destacar para ambos era o tamanho menor que o usual entre os carros americanos, bem como diferentes momentos históricos terem sobressaído em função do consumo menor de combustível, e um interesse pelo Suzuki Swift e outros carros econômicos de origem asiática da década de '90 nos Estados Unidos logo após aumentos nas cotações do barril de petróleo tanto em função de conflitos no Oriente Médio a partir de 2003 quanto com a eclosão da crise hipotecária americana em 2008 pode ser comparável numa proporção muito menor com a ascensão do Fusca como ícone cultural na época dos hippies.

Naturalmente o fato do Suzuki Swift ter sido equipado com motores distintos de acordo com algumas especificidades regionais, com um motor 1.0 de 3 cilindros permanecendo o mais lembrado com relação ao hatch tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, embora as versões chinesas e indianas do sedan um motor 1.0 com 4 cilindros também usado em minivans e outros utilitários feitos tanto por empresas licenciatárias quanto pirateados prevaleceu em nome da economia de escala, destoa do fato do Fusca ter permanecido só com o motor boxer refrigerado a ar por todo o ciclo de produção desde algumas versões experimentais do entreguerras até o último "Vocho" mexicano de 2003 com atualizações pontuais como aumentos de cilindrada e a introdução da injeção eletrônica no México e do catalisador que além do México também se fez necessário para o Brasil entre '93 e '96 mesmo com carburador. Também é digno de nota que tanto o motor de 3 cilindros usado no Suzuki Swift quanto o bom e velho boxer do Fusca com 4 cilindros foram favorecidos em leveza pelo uso de ligas de alumínio nos respectivos blocos, além dos cabeçotes que já costumam ser feitos em liga de alumínio até em motores de fabricação mais recente que ainda usam bloco de ferro, e terem também sido oferecidos com carburador ou injeção eletrônica a depender dos mercados é mais uma coincidência que reforça similaridades que pareciam absolutamente improváveis a um olhar inicialmente desatento. Ainda que a tração dianteira do Suzuki Swift parecesse distante de atender com a mesma resiliência a condições de rodagem mais severas que até hoje muitos carros populares precisam enfrentar tanto nos mercados "emergentes" quanto nas regiões rurais de alguns países desenvolvidos onde utilitários de concepção mais tradicional ficam desincentivados por algum entrave burocrático, a tração 4X4 que ainda chegou a ser oferecida principalmente no Japão e em menor proporção na Europa  podia minimizar a inconveniência aos olhos de uma parte do público, embora o contraste com a simplicidade do Fusca que tirava leite de pedra sempre com tração traseira pareça distanciar conceitualmente os modelos.

A mecânica leve e relativamente simples em comparação aos automóveis e SUVs híbridos que hoje são empurrados goela abaixo dos americanos mais austeros à medida que um direcionamento dos principais fabricantes a segmentos de maior margem de lucro afasta a chance de surgir um efetivo sucessor para o Suzuki Swift nos Estados Unidos, e também no caso do Fusca ter o projeto mais racional que qualquer "compacto" americanizado da GM ou da Ford apresentados nas décadas de '60 e '70 redefiniu preferências de mercados "emergentes" em regiões como a América Latina e a Ásia tão logo uma normalização das relações entre Filipinas e Japão abriu as portas para a indústria automotiva japonesa também em outros países asiáticos onde um ressentimento contra os japoneses em geral havia sido agravado durante a II Guerra. E se por um lado o mercado brasileiro ter ficado um tanto ilhado entre '76 e '90 dificultando a chegada dos carros econômicos de projeto japonês que já haviam se tornado uma pedra no sapato do Fusca, por outro um sucesso da Volkswagen que só foi perder a liderança de vendas no Brasil pela primeira vez em 2001 para a Fiat que é constantemente lembrada como "especialista" em carros compactos dá a entender que essa orientação do público em torno de veículos com um tamanho mais modesto em comparação à época áurea das "banheiras" americanas ainda foi relevante por muito tempo após o fim da produção do Fusca no Brasil em '86 e um breve retorno de '93 a '96 com a mediação do então presidente Itamar Franco que via no caráter icônico do Fusca uma definição bastante precisa sobre as idéias que norteavam o conceito de carro popular. Enfim, mesmo sem fazer destaque à presença da suspensão independente nas 4 rodas tanto para o Suzuki Swift da década de '90 quanto para o Fusca, característica que já é impossível encontrar em carros compactos e com viés "popular" à venda hoje no Brasil, o Suzuki Swift inegavelmente guardava alguma semelhança conceitual com o Fusca.

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