terça-feira, 27 de junho de 2017

Honda CB 400 café-racer em Porto Alegre

Uma moto que fez bastante sucesso no mercado brasileiro durante a década de '80, a Honda CB 400 acabou se tornando uma das motos mais procuradas para modificações e customizações. No caso dessa, ano '83, foi seguido o estilo das tradicionais café-racers britânicas. Um acessório que me chamou a atenção em particular foi o farol auxiliar com lente amarela, que eu não vejo com tanta frequência em motos.
Já o banco com formato de rabeta atrás, a minicarenagem de farol com parabrisa tipo "bolha" e os retrovisores montados nas extremidades do guidon seguem à risca o estilo clássico das café-racers autênticas. Uma modificação simples e de muito bom gosto, não chegou a descaracterizar tanto a ponto de tornar a CB 400 irreconhecível mas com certeza faz com que se destaque.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Triciclos utilitários: ainda há uma boa perspectiva para esses veículos no mercado brasileiro?

Logo que eu voltei a morar no Rio Grande do Sul em 2008, algo que logo me chamou a atenção foi uma presença até bastante expressiva de triciclos utilitários (a maioria adaptados a partir de motos Honda CG 125 e 150) em Porto Alegre. Tendo como principal atrativo o custo operacional reduzido em comparação a um carro compacto, se prestam muito bem para pequenos comércios e serviços leves, além da boa manobrabilidade em espaços restritos devido ao tamanho. A crise deflagrada pela "bolha" hipotecária americana no mesmo ano parecia tornar o mercado ainda mais promissor para os triciclos mas, passados quase 10 anos, ainda são tratados como improviso terceiro-mundista ou mera curiosidade. Algumas circunstâncias mudaram nesse meio-tempo, com o preço de automóveis e comerciais leves alcançando patamares tão absurdos que eventualmente um triciclo possa se tornar novamente uma possibilidade realista para quem procura por um utilitário simples e barato.

Em proporção à capacidade de carga e aos custos de operação e manutenção, o investimento inicial chega a ser competitivo diante de versões mais básicas das pick-ups compactas, o que já serviria de incentivo para o uso de triciclos em serviços como entregas fracionadas porta-a-porta, mas podem ser aplicados também em outras atividades. Pela maioria desses veículos não ter as limitações de uma estrutura monobloco como a da atual geração de carros e caminhonetes de pequeno porte, já fica mais fácil instalar carrocerias diferenciadas para atender melhor à necessidade de cada operador. Mesmo levando em conta uma depreciação média proporcionalmente maior comparada a um utilitário mais convencional de 4 rodas, o decréscimo total no valor de revenda ainda tende a ser menor, e de certa forma ainda é amortizado ao longo da vida útil operacional do veículo em função da economia de combustível e uma despesa menor com reposição de peças. Para quem prioriza a redução de custos sobre o conforto em diferentes condições meteorológicas, não deixa de ser uma alternativa plausível.

Colocando as principais vantagens e desvantagens na ponta do lápis, não é difícil compreender que algumas empresas da região tenham se mostrado bastante receptivas à proposta dos triciclos utilitários, embora esse tipo de veículo siga enfrentando alguma resistência por parte de usuários particulares. De fato, como costumam ser mais "especializados" e dimensionados para o uso urbano, fica mais difícil convencer quem necessita de uma maior aptidão para enfrentar eventuais trajetos rodoviários, mas está longe de ser a única dificuldade. Ao persistir com o cockpit idêntico ao de uma motocicleta convencional, as posições do tanque de combustível e do motor junto ao condutor também se tornam um empecilho, tendo em vista que já inviabilizam o uso de uma cabine totalmente fechada, visando modo a evitar o acúmulo de vapores tóxicos e inflamáveis mas fazendo também com que a proteção contra intempéries fique comprometida. Numa cidade como Porto Alegre, com extremos de temperatura durante o inverno e o verão e uma grande amplitude térmica em alguns dias, é uma característica que realmente faz a diferença.

Não há qualquer impedimento para que um triciclo utilitário tenha uma cabine totalmente fechada, com exemplos tanto entre modelos antigos como o Lambrecar do sêo João quanto alguns mais recentes de fabricação chinesa e comercializados regularmente no Uruguai, desde que o motor fique isolado do interior (normalmente num compartimento acessível por baixo do assento do condutor) enquanto o bocal e os respiros do tanque de combustível estejam localizados do lado de fora. Mesmo assim, convém destacar outro aspecto que pode dificultar uma popularização de triciclos utilitários no Brasil, ainda que seja um problema de ordem mais burocrática do que técnica. Por serem tratados como assemelhados a motocicletas, é exigida a carteira de habilitação categoria A para condução desses veículos, o que pode desencorajar quem tenha apenas a categoria B ou superior e não faça muita questão de aprender a pilotar motos nem esteja disposto a arcar com o custo da alteração na CNH. Considerando que eventualmente viessem a substituir veículos de 4 rodas nas mesmas condições de uso, podendo servir até como uma alternativa para fazer com que a "renovação de frota" se torne uma perspectiva mais realista, não seria tão inoportuno que fosse autorizada a condução de triciclos usando a habilitação para automóveis.

Enquanto no Uruguai alguns triciclos são oferecidos com cockpit mais parecido com o de um carro convencional justamente para atender a usuários que fazem a transição pelos mais diversos motivos, o Brasil está muito mais atrasado nesse aspecto. De certa forma, o precedente mais próximo seria um modelo chinês que foi comercializado com o nome Gurgel TA-01, embora o importador tenha feito a homologação como máquina agrícola para dispensar alguns equipamentos que são obrigatórios num carro ou numa caminhonete normal, mas acabou se tornando um problema tendo em vista que passa a ser exigida habilitação categoria C ou superior para trafegar em vias públicas mesmo com um peso bruto total inferior a 3500kg. Não se pode ignorar que uma classificação diferenciada em função do layout da cabine acabaria refletida num processo de homologação mais complicado, e a simplicidade que poderia ser uma vantagem inerente ao tratamento como assemelhado a motocicleta acabaria sendo comprometida pela necessidade de incluir freios com ABS e, na pior das hipóteses, até airbags.

O mercado brasileiro é desafiador para veículos de qualquer tipo, e não teria nem como ser diferente com os triciclos utilitários. A bem da verdade, ainda são uma boa alternativa para quem precisa de um veículo de serviço mas queira imobilizar uma quantidade mínima de recursos, o que faz todo o sentido em meio a uma economia cambaleante. Por mais que sejam vistos até com desprezo por uma grande parcela da população que prefere se acomodar no conforto da ignorância, seria precipitado descartar de antemão algumas vantagens que podem oferecer para pequenas e médias empresas, e eventualmente até para autônomos. Enfim, mesmo diante de empecilhos que vão desde a burocracia até a percepção da propriedade de um veículo motorizado como indicativo de um suposto status tão enraizada na mentalidade do povão, o mercado brasileiro ainda oferece uma boa perspectiva para os triciclos utilitários.