quarta-feira, 14 de abril de 2021

3 motivos pelos quais a idéia do "carro popular" justificaria ser revigorada

Tomando por referência o lançamento do Fiat Uno Mille no Brasil em '90, após alguns anos com essa opção permanecendo restrita à exportação para países onde a incidência de impostos sobre automóveis já era baseada na cilindrada, como a Itália onde era vendido como Innocenti Mille, o conceito de "carro popular" começou a ter mais atenção do público generalista. Embora a limitação da faixa de cilindrada a 1.0L para enquadrar numa alíquota de IPI mais baixa não tenha sido necessariamente a mais acertada sob um aspecto estritamente técnico, tendo em vista tanto a necessidade de um mesmo veículo cobrir as necessidades tanto do uso urbano quanto eventuais percursos rodoviários e prover força para acionar acessórios que ganharam mais espaço no mercado ao longo do tempo após a consolidação da categoria "popular", como direção hidráulica e ar condicionado que seriam sofríveis para a configuração original com 47cv e carburador de corpo simples do primeiro Uno Mille de "frente alta", tal medida burocrática iniciada durante o conturbado governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (atualmente senador) ainda encontra reflexos em medidas que destoam da proposta de contenção de custos à medida que foi incorporado o turbo em alguns motores nessa faixa de cilindrada para servirem a modelos de pretensões menos minimalistas. Naturalmente, uma série de circunstâncias tanto estritamente técnicas quanto mais políticas e burocráticas levam à necessidade de reavaliar alguns parâmetros, mas ao menos 3 motivos ainda justificam que a idéia do carro "popular" mereça ser reavaliada e revigorada pelo presidente Jair Bolsonaro.
1 - mais seguro e confortável que uma moto: a princípio, mesmo um "popular" de gerações anteriores como o Fiat Uno Mille já oferecia maior proteção aos passageiros e bagagens em comparação às motos de pequena cilindrada contemporâneas. Modelos mais recentes incorporaram recursos como freios ABS e airbag duplo, que diga-se de passagem foram alegados como o principal motivo para o Mille ter saído de linha mesmo sendo tecnicamente viável equipá-lo com tais dispositivos apenas para cumprir normas e, considerando que no Brasil os freios ABS ainda não são obrigatórios para motos até 250cc, na prática um carro pequeno ainda pode oferecer mais segurança e conforto para usuários que não precisem ou não possam contar com a manobrabilidade mais favorável às motocicletas em meio ao trânsito pesado;

2 - competitividade em mercados de exportação regional: com o Brasil consolidado como o maior mercado automobilístico da América do Sul, servindo ainda como hub de exportação tanto para países vizinhos quanto para a África e o Oriente Médio em alguns casos mais específicos, o fato de não haver na maioria desses mercados externos o mesmo benefício fiscal para uma faixa de cilindrada tão restrita, a demanda pelos motores de 1.0L não encontra necessariamente a mesma receptividade fora do país. É de se considerar que, apesar de regiões como a Europa e o Japão ou até mesmo a África do Sul serem tão ou mais receptivas ao downsizing que o Brasil ou países vizinhos como a Argentina e a Bolívia, vale salientar que mesmo a tributação diferenciada não impede que um motor de 1.0L e 3 cilindros com turbo (e mais recentemente a injeção direta ganhando espaço) permaneça mais caro que outro de 1.6L e 4 cilindros com aspiração natural (e invariavelmente injeção sequencial nos pórticos de válvula);

3 - economia de combustível e redução de emissões: simplesmente limitar a cilindrada pode não se refletir num consumo de combustível mais modesto ou nas emissões em todas as condições de uso, tendo em vista tanto aqueles momentos em que o motor permanece ligado em marcha-lenta em meio ao trânsito quanto outros em que se faz necessário "esgoelar" em uma faixa de rotações mais altas visando alcançar o mesmo desempenho que um motor maior associado a uma relação de marcha mais longa teriam em outras situações. À medida que o sistema de desligamento automático em marcha-lenta com o veículo parado ganha espaço em outras categorias, até em meio a um trânsito urbano mais lento já não é mais tão justificável tratar o consumo nesse cenário como diretamente proporcional à cilindrada, e até pode ser implementado com relativa facilidade também na atual geração de carros "populares". Além de nem sempre ter um custo de fabricação menor que justifique no tocante à escala de produção, o atual parâmetro da cilindrada como o que defina se um carro é ou não "popular" pode contradizer também as premissas de baixo custo de operação e manutenção.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Fiat Prêmio, uma oportunidade perdida para atender aos mercados "emergentes" já nas décadas de '80 e '90

Produzido no Brasil entre '85 e '94, e na Argentina de '88 até o ano 2000, o Fiat Prêmio com certeza foi menos apreciado do que efetivamente mereceu durante o ciclo de produção e a fase em que vinha já da Argentina renomeado como Duna em '95. Robustez e economia tão apreciadas que inspiraram a grande quantidade de memes sobre o Fiat Uno também marcaram presença no sedan, que acabava por oferecer uma capacidade de bagagem mais conveniente sem aumentar de forma tão absurda o tamanho externo (indo dos 3.64m do Uno para 4,04m). Contou no mercado brasileiro com os motores de 1.3L e 1.5L da série Fiasa, bem como outros de 1.5L e 1.6L da série Sevel provenientes da Argentina, além de versões Diesel de 1.3L e 1.7L somente para mercados externos. A opção pela carroceria com 4 portas chegou ao Brasil em '87 e já abriu mais espaço para a comercialização do modelo em outros países onde carros de duas portas eram menos apreciados, seguida pela remodelação conhecida por "frente baixa" em '91, e o modelo chegou a ser exportado até para a Europa tendo em vista que o Prêmio e os outros derivados do Uno não chegaram a ser produzidos na Itália. Mas ao contrário da Argentina, onde sedans chegaram a ter uma proposta mais "popular" que hatches e justificaram a continuidade do modelo usando por lá o nome Duna desde o início da produção local, na Europa só foi disponibilizado o Prêmio também com a denominação Fiat Duna até '91 mesmo. Ao contrário do Uno Mille e da Elba também conhecida como Duna Weekend em alguns mercados de exportação, e que foram realinhados no mercado europeu com a marca Innocenti até '97 na Itália como Innocenti Mille e Innocenti Elba, o Prêmio não teve a mesma sorte, permanecendo com uma disponibilidade mais limitada à América do Sul. Vale destacar que, com os sedans tendo permanecido por muito tempo mais apreciados em mercados hoje ditos "emergentes" em comparação à Europa Ocidental, o Fiat Prêmio eventualmente pudesse ter sido aproveitado até para fortalecer a presença do fabricante em regiões como a África e o sudeste asiático, onde a concepção mais robusta do Uno brasileiro com relação ao análogo europeu certamente favorece o enfrentamento a condições de rodagem mais duras.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Fiat 509 S

Um carro pequeno porém com alguns aspectos técnicos um tanto arrojados para os padrões da década de '20 do século passado, produzido entre 1924 e 1929, o Fiat 509 tinha diversas opções de carroceria, e até chassi para encarroçamento especializado que ainda era uma prática bastante comum à época. Com um motor de 990cc e 22cv a 3400 RPM que já trazia um comando de válvulas no cabeçote sincronizado por corrente enquanto motores de válvulas laterais ainda eram comuns, chegou a servir de base também para modelos esportivos como o 509 S. No tocante ao chassi, tipo escada com eixos rígidos e suspensão por feixes de molas semi-elípticas, não diferia muito à configuração predominante nos "calhambeques" contemporâneos, bem como os freios a tambor de acionamento mecânico nas 4 rodas.

E se por um lado a configuração de comando de válvulas lembra motores mais modernos, outros pontos como a ignição por magneto, o suprimento de mistura ar/combustível por um carburador e o recurso ao efeito de termo-sifão para a recirculação no sistema de refrigeração líquida ao invés de bomba d'água eram uma solução bastante conservadora. Diâmetro e curso dos pistões de 57 e 97 mm respectivamente, caracterizando o motor como subquadrado, também eram uma característica mais usual à época, bem como o uso de um câmbio manual com apenas 3 marchas. Pode não parecer tão visceral como outros esportivos italianos à primeira vista, mas a concepção relativamente minimalista aproveitando muitos elementos de um modelo mais generalista já é algo a se destacar em contraste com a atualmente muito limitada oferta de esportivos compactos e não tão inacessíveis.

O exemplar das fotos, cujo ano de fabricação eu não me recordo, esteve exposto no 27º Encontro Sul-Brasileiro de Veículos Antigos, ocorrido entre os dias 8 e 18 de novembro de 2018 no estacionamento do shopping Bourbon Wallig, em Porto Alegre.