quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Um exemplo de morosidade e incompetência da EPTC

Por cerca de 3 meses, esse Fiat Siena avariado em uma colisão ficou abandonado na Rua Irmão José Otão, no Bom Fim, tradicional bairro de Porto Alegre, contrariando a legislação por incompetência da Empresa Pública de Trânsito e Circulação, a infame EPTC.
Conforme me foi dito a 2 dias atrás por uma agente de trânsito, apesar das avarias de grande monta, normalmente classificadas como "perda total" pelas companhias de seguros, permaneceu abandonado em via pública por considerar-se que estava "estacionado regularmente" quando na verdade já havia tornado-se uma legítima sucata. Cabe ressaltar que a legislação classifica como veículo abandonado passível de retenção qualquer veículo que permaneça por mais de 5 dias consecutivos no mesmo local.
Em algumas ocasiões, após chuvas o interior do veículo apresentava poças d'água, um dos vetores de proliferação de mosquitos como o Aedes aegypti, o famoso mosquito da dengue, enquanto as autoridades de trânsito porto-alegrenses simplesmente negligenciavam a situação.

A alguns dias, o temor de um comerciante da região foi confirmado, e o Siena foi incendiado, em circunstâncias que eu não posso confirmar com exatidão. Há vários fatores que podem ter levado a essa ocorrência, mas o mais provável é que tenha sido provocado por algum vândalo. Pichações numa residência próxima, fazendo referências a condutas anti-sociais, evidenciam a circulação de arruaceiros pelas redondezas...

Após ser vistoriado anteontem por agentes de trânsito da EPTC e soldados da Brigada Militar, finalmente o Siena foi recolhido ontem após inúmeras solicitações.

Triciclo em Porto Alegre

Triciclo montado a partir de uma motocicleta Sundown Max 125, adaptado pela empresa Trimoto, que localizava-se em Novo Hamburgo
Apesar de oferecer vantagens, com especial destaque para o baixo custo operacional, que deram aos triciclos cargueiros uma breve popularidade na época que explodiu a "bolha imobiliária americana", deflagrando a crise econômica mundial de 2008, voltam a ser encarados mais como uma mera curiosidade. Também merece destaque nesse tipo de veículo a manobrabilidade em espaços limitados, favorecendo o deslocamento em meio ao trânsito pesado em ambiente urbano.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Carros e motos: paixões não-excludentes

Certa vez, a uns anos atrás, fui indagado por um professor se eu preferia carros ou motos. Na ocasião eu não soube responder, mas hoje posso afirmar que são paixões não-excludentes. Considerando os mesmos ideários de força e liberdade associados tanto a um Dodge Dart De Luxo de 1973 quanto a uma Harley-Davidson Softail da década de 90, ou o prestígio de uma Harley-Davidson Electra Glide Classic e de um Dodge LeBaron, é possível considerar que atraiam públicos-alvo bastante semelhantes...

Alguns fabricantes até atendem tanto ao mercado motociclístico quanto ao automobilístico, como a BMW. E guardadas as devidas proporções, nada impede que os consumidores da motocicleta de uso misto F 650 GS e da sport-utility X3 tenham um perfil parecido, apreciando a capacidade moderada de incursão em terrenos irregulares...

Ironicamente, alguns públicos mais semelhantes do que possam imaginar eventualmente envolvam-se em rixas, como jipeiros e "motoqueiros", ainda que ambos os grupos sejam classificados igualmente como "trilheiros". O mesmo ideal de liberdade e contato com a natureza que ainda faz o glorioso Jeep CJ-5 conquistar fãs não é muito diferente da sensação despertada por uma KTM 250SX-F, e se por um lado o jipão é mais prático para carregar a carne, a churrasqueira, o carvão, a cerveja, familiares e amigos, a relação entre o custo e o desempenho off-road acaba favorecendo as motocicletas...

Em segmentos mais nobres do mercado, uma motocicleta com cilindrada de 5 a 11 vezes inferior como a Ducati 1198 e a Yamaha FZ6 Fazer S2 pode apresentar desempenho comparável a modelos como o Mercedes-Benz SL63 AMG, e preço entre 6 a 20 vezes mais baixo.

Para alguns consumidores, a chamada "performance ambiental" é uma prioridade extremamente relevante, gerando uma atração por híbridos como o Toyota Prius. No entanto, uma motocicleta de média cilindrada pode apresentar médias de consumo semelhantes, e modelos de baixa cilindrada como a Honda CBX 250 Twister podem obter valores até melhores.
Na ponta do lápis, a menor complexidade técnica, decorrente sobretudo de uma menor quantidade de peças, entre as quais algumas que necessitam reposição ao longo da vida útil operacional do veículo como velas de ignição, pneus, lâmpadas e material de atrito de freio e embreagem, faz com que o menor footprint geral torne a motocicleta uma opção mais acertada para os ecologistas de plantão...

Nada impede, também, que se una o melhor de dois mundos com os triciclos: oferecendo capacidade de carga e estabilidade direcional mais próximas a um automóvel, acabam por manter o consumo de combustível contido a níveis mais próximos dos de uma motocicleta de cilindrada semelhante. Alguns, como o antigo Tempo Hanseat/Front alemão, chegavam a oferecer até mesmo boa proteção contra intempéries. Caso não fossem tão subestimados no mercado brasileiro, poderiam constituir até uma interessante alternativa aos carros "populares"...

Apesar das evidentes diferenças técnicas e conceituais, como pode-se observar comparando um Range Rover Evoque e uma Ducati Multistrada, fica cada vez mais claro que nada impede carros e motos de despertarem paixões igualmente intensas junto ao mesmo público-alvo.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Turbo ou blower: dilema cada vez mais próximo de um fim

Motivo de acaloradas discussões entre entusiastas por automóveis durante décadas, a preferência pelo uso do blower (ou supercharger) acionado pelo próprio motor ou o turbocompressor valendo-se da energia cinética presente em gases do escapamento já motivou radicalismos mais intensos. Por exemplo, a Mercedes-Benz, antes valendo-se mais do blower, atualmente tem direcionado mais esforços ao turbo, motivada pela melhor relação entre custo, desempenho e economia de combustível. Pode-se tomar por referência o roadster SLK: se na primeira geração, lançada em 1996 e produzida até 2004, os motores 2.0 e 2.3L eram equipados com o blower, sob o nome comercial Kompressor, a atual 3ª geração passou a adotar o turbo em todas as versões com motor de 4 cilindros, inclusive as movidas a diesel (proibidas no mercado brasileiro).

No mercado americano, o blower ainda é muito popular, chegando a ser equipamento original de fábrica em modelos como o Ford Mustang Shelby GT500. Antes que sofisticados métodos de gerenciamento despontassem, o blower era preferido por ter um funcionamento mais regular desde regimes de rotação mais baixos até a chamada "faixa vermelha", enquanto o turbo funcionava melhor "esgoelando".

Até a década de 90, podia ser observado em modelos como o Mitsubishi Eclipse o fenômeno conhecido como turbo-lag: até que a vazão do escapamento fosse suficiente para vencer a inércia do rotor, o turbo não fornecia pressão tão imediatamente quanto o blower. Não havia meio-termo: ou se contava com um rotor muito pequeno, que "enchesse" já a rotações mais baixas mas não fornecesse fluxo adequado durante regimes de rotação mais elevados, portanto mais adequados num motor a diesel, ou um rotor maior demorando mais a vencer a inércia, "enchendo" apenas a partir de médios regimes. Hoje, modelos como o Peugeot RCZ contam com turbocompressor do tipo twin-scroll, ou bi-pulsativo, com a carcaça quente dividida em duas câmaras que recebem pressão de cilindros diferentes. É uma alternativa mais simples ao uso de 2 turbos de tamanhos diferentes montados sequencialmente, um "enchendo" já a baixos giros e o outro provendo o fluxo necessário a altos giros, configuração conhecida como turbocompressor de duplo estágio. Em motores de ignição por faísca, incluindo os 2-tempos e a atual geração dos "flex", ainda é possível retardar o avanço da ignição durante a partida, de modo a promover um "backfire" que aumenta abruptamente a pressão do escape de modo a vencer mais rapidamente a inércia. Pode-se portanto dizer que o turbo-lag foi extinto...

Outro método de combate ao turbo-lag, mas que ficou mais popular principalmente em veículos com motor Diesel, como a atual geração do Ssangyong Korando, é o turbocompressor de geometria variável. Usando um sistema de palhetas usadas para direcionar os gases de escape dentro da carcaça do rotor com mais eficiência em baixas rotações, pode ser controlado eletronicamente (e-VGT) ou de acordo com a pressão do óleo lubrificante do motor. As palhetas responsáveis por promover a geometria variável também podem ser integradas ao sistema de freio-motor, muito usado em veículos pesados.


A única aplicação onde o blower ainda é considerado imprescindível são os motores Diesel 2-tempos, como os célebres Detroit Diesel que durante décadas foram o motor mais popular em caminhões americanos. Como a descida dos pistões não gerava pressão suficiente para aspirar o ar necessário ao processo de combustão, nem podia depender da pressão de escapamento que era inexistente no momento da partida, não era possível abrir mão do blower.
Nada impede, porém, o uso do turbocompressor associado ao blower, como no motor Detroit Diesel 6V53-TA, ainda em produção sobretudo para atender à demanda de veículos militares.

No atual cenário do mercado automobilístico mundial, uma das aplicações onde o blower ainda pode trazer benefícios está nos híbridos: a maioria desses modelos hoje tem prolongado a duração da abertura das válvulas de admissão de modo a gerar uma descompressão visando reduzir "perdas por bombeamento", sacrificando no entanto potência e torque. Essa descompressão poderia gerar um "calço" ao se usar um turbo, que o blower acaba por impedir - podendo até ser usado em conjunto com um turbo sem maiores intercorrências. Embora atualmente seja alardeado pelos marqueteiros como sendo um motor do "ciclo Atkinson" devido ao efeito do atraso no fechamento das válvulas de admissão fazer o tempo de compressão ficar mais curto que o de expansão, num Atkinson verdadeiro tal fenômeno é proporcionado por um complexo virabrequim articulado.

O artifício para gerar a descompressão nos falsos Atkinson foi inspirado no chamado "ciclo Miller", que popularizou-se na década de 40 em aplicações náuticas e estacionárias/industriais. Nada mais era do que um motor 4-tempos (ciclo Otto) com o já citado retardo no fechamento das válvulas de admissão, mas contava com um blower para eliminar a descompressão, que gerava ainda mais problemas numa época em que a eletrônica estava menos presente para permitir ajustes mais precisos. Atualmente, na indústria automobilística, o "ciclo Miller" não é muito popular, e um dos modelos mais proeminentes a usá-lo é o Nissan Micra, também conhecido como March, que passou a oferecer recentemente essa opção em alguns mercados.

Ainda que alguns modelos como o Jaguar XKR persistam usando o blower por "tradição", o turbo atualmente consolida-se como a melhor opção para a maioria das aplicações automotivas.