sábado, 8 de fevereiro de 2014

Momento nostalgia: Quantum ambulância

Um modelo que até não era tão incomum no serviço de ambulância (embora normalmente ficassem mais restritas ao uso em remoções eletivas) durante a década de '90 mas que atualmente já está um tanto raro é a Volkswagen Quantum. O exemplar das fotos, já com a reestilização de '98 apresentada como modelo '99, e que permaneceu em linha até o fim de 2001 quando a Quantum saiu de linha, ainda traz uma cúpula de fibra no lugar do teto original, que limitava um tanto a altura interna e por conseguinte acabava dificultando procedimentos pré-hospitalares que eventualmente se fizessem necessários. Cabe salientar, no entanto, que em comparação com ambulâncias montadas com base em utilitários de carga (como pickups, furgões, e até caminhões leves), o acerto de suspensão mais suave pode até favorecer o paciente, reduzindo o risco de agravar algumas lesões traumáticas. Foi avistada ontem à tarde em Porto Alegre, nas imediações dos hospitais HPS (Pronto-Socorro) e HCPA (Clínicas - o hospital da UFRGS), também não muito longe dos hospitais Santa Casa e Moinhos de Vento.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Será que todo Fusca é mesmo "flex"?

Não é de hoje que o Fusca é reconhecido como um dos carros que mais marcaram o Século XX, em grande parte por mérito da concepção mecânica extremamente robusta e de fácil manutenção, que proporcionavam uma excelente aptidão a enfrentar as condições de rodagem severas encontradas em zonas rurais, na Europa então devastada pela II Guerra, ou nas periferias terceiro-mundistas da América Latina e da África. Ainda hoje a capacidade de incursão em terrenos hostis é reconhecida como uma das melhores entre todos os carros "populares" já produzidos, tanto em exemplares originais quanto nos "Baja bugs" modificados para o off-road recreativo.

O motor do Fusca, apesar de algumas dificuldades na estabilização da marcha lenta e da baixa compressão inerentes à refrigeração a ar, apresenta boa adaptabilidade a combustíveis alternativos como o gás natural, gás liquefeito de petróleo (GLP), biometano, gás de carvão e também o etanol. Enquanto na Nazilândia Alemanha alguns protótipos foram equipados com gasogênios durante a II Guerra, não se pode esquecer da experiência brasileira com o ProÁlcool, e já a partir de 1979 era possível encontrar Fuscas movidos a álcool hidratado. Apesar das limitações tecnológicas dificultarem o gerenciamento térmico, e da marcha-lenta irregular logo após a partida a frio que ajudou a minar a popularidade do Fusca a álcool no mercado varejista, o conceito estava provado.
No entanto, por motivos fiscais, havia quem comprasse Fusca a etanol e simplesmente retirasse alguns restritores retráteis posicionados sobre as aletas de refrigeração do cabeçote, usadas para reter calor por mais tempo após a partida a frio, logo que o controle termostático que as regulava parasse de funcionar, e assim ainda podia rodar normalmente na gasolina. Logo, não seria tão equivocado considerar o Fusca como um dos primeiros "flex" do mercado brasileiro, assim como outros modelos com o qual compartilhava a base mecânica, como a Brasília.
Vale destacar, ainda, que a adaptabilidade a misturas de etanol era um dos argumentos publicitários usados pelo representante da Volkswagen nas Filipinas na época que a Brasília foi montada por lá em regime de CKD.
"Alcogas" ou "gasohol" é como se referem no exterior a misturas de etanol na gasolina

Quando a Kombi passou a usar injeção eletrônica ao invés do carburador, a partir de '97 acompanhando a reestilização que depois de 30 anos finalmente levou a porta lateral corrediça à República das Bananas, ainda havia uma versão movida apenas a etanol, que durou até 2006 quando o motor boxer foi substituído pelo EA-111 de refrigeração líquida e oferecido apenas como flex nessa aplicação. Ironicamente, nas versões injetadas do motor boxer, apesar do sistema multiponto favorecer o controle térmico do processo de combustão e inibir o congelamento do coletor de admissão como acontecia com mais frequência nas versões de carburação simples (nos de carburação dupla esse problema era menos comum), não seria tão recomendado alterar demasiadamente as misturas de etanol para que o sensor de oxigênio (sonda Lambda) não ficasse "louco" ao identificar um combustível para o qual não houvesse um mapeamento previamente registrado na centralina. O mesmo fenômeno acontece com qualquer Fusca, Kombi ou outro derivado que use injeção eletrônica original de fábrica.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Honda CG 125 com side-car para passageiro



Ontem à tarde, me chamou a atenção essa Honda CG 125 Fan (já com motor OHC) acoplada a um side-car, que estava estacionada na frente de um boteco perto do cruzamento da Plínio com a 3ª Perimetral. Embora atualmente em Porto Alegre os side-cars venham sendo muito usados para transporte de cargas leves, principalmente garrafões de água e botijões de gás de cozinha, não é tão comum se deparar com modelos destinados ao transporte de passageiro(s), visto que o implemento ainda é associado pelo público brasileiro a uma imagem de improviso, ou considerado uma mera excentricidade. Apesar de manter a inconveniência da exposição excessiva do condutor e eventuais passageiros ou bagagem a condições climáticas desfavoráveis e outras situações adversas, não deixa de ser uma interessante alternativa a um automóvel convencional, devido ao custo operacional reduzido e facilidade de manutenção.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Importados usados: mosca branca ou mico preto?

A reabertura dos portos na década de '90 serviu para escancarar o abismo técnico entre os veículos brasileiros e o que havia em mercados mais abertos à livre concorrência. Atualmente, no entanto, alguns potenciais compradores ficam receosos quanto a uma indisponibilidade de peças de reposição para modelos como a Suzuki Baleno SW. De fato, conseguir alguns itens de acabamento não é tarefa das mais fáceis, embora alguma gambiarra solução alternativa possa ser implementada, por mais que às vezes o resultado estético fique um tanto discutível.
No caso específico da Baleno, a mecânica pode despertar preocupações, mas além de muitos componentes serem intercambiáveis com a linha Chevrolet/Opel e até com alguns modelos da Fiat, convém lembrar que o interesse despertado pelos sport-utilities da marca nipônica como o Grand Vitara faz com que não seja tão difícil encontrar mecânicos com boa-vontade para encarar o motor original.
Cabe salientar, no entanto, que para os 4X4 há públicos-alvo muito distintos, desde as madames que acreditam quando um picareta diz que o jipinho "nunca fez trilha" até uma turma mais engajada no off-road recreativo que dá o valor para alguns upgrades, inclusive trocas de eixos, câmbio, caixa de transferência e motor, visando sobretudo uma maior facilidade de manutenção.

A bem da verdade, hoje muitos componentes são fornecidos por sistemistas como a Bosch, a Denso, a Delphi, entre outras, e assim para reduzir custos é possível que modelos de segmentos muito diferentes tenham algumas peças compartilhadas. Quem diria que um Suzuki Vitara poderia usar o mesmo ar-condicionado de um simples Gol?

Às vezes, checando listas de peças equivalentes, nos deparamos com interessantes surpresas: quem poderia dizer que um Mercedes-Benz 300E, além de muitos componentes elétricos idênticos aos do Santana, usaria os mesmos terminais de direção da Brasília? A mesmíssima peça pode servir modelos com um status muito diferenciado, e sabendo onde procurar é possível fazer uma boa economia...

Na prática, o desconhecimento do grande público, além da ganância e má-vontade de alguns profissionais da área de manutenção automotiva que optam por se dar bem em cima de quem apareça na oficina com um veículo "diferente", são o que mais influencia na deterioração do valor de revenda de importados usados, como o Suzuki Swift, mesmo que ofereçam uma inegável superioridade técnica em relação a modelos de fabricação brasileira com uma proposta semelhante ou, em alguns casos, revelam uma relação custo/benefício até melhor que a de um "popular" zero-quilômetro quando se leva em consideração, além do consumo de combustível e outros insumos, a intercambialidade de peças com veículos mais comuns no mercado visando reduzir os gastos com manutenção geral, fazendo com que até uma caminhonete a diesel como a Mazda B2200 possa ser vista como um bom investimento. Assim, é possível levar mosca branca a preço de mico preto...

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Utilitários chineses: tem futuro com as normas de segurança brasileiras?

Não faz tanto tempo que o mercado brasileiro passou a ser inundado por minivans chinesas, como a Effa ULC. Apesar do design até bastante arrojado, o layout de chassi é basicamente o mesmo de algumas versões antigas da Suzuki Carry, também conhecida como Daewoo Damas Labo ou Chevrolet CMV.

O preço convidativo e a facilidade na montagem de implementos quando comparados com modelos nacionais numa mesma classe de capacidade de carga nominal, além da boa racionalização da extensão da plataforma de carga, fez com que rapidamente as pequenas caminhonetes chinesas ganhassem aceitação em vários segmentos industriais, comerciais, e de prestação de serviços, superando alguns receios relativos à rede de assistência técnica ainda um tanto restrita.

A recente alteração nas normas de segurança veiculares brasileiras para tornar obrigatório o airbag duplo e os freios ABS em automóveis e utilitários fabricados ou importados a partir de 1º de janeiro de 2014, entretanto, fez com que alguns questionamentos nesse âmbito passassem a ser dirigidos às pequenas caminhonetes chinesas: há quem questione a possibilidade de incorporar equipamentos de segurança como airbag duplo e freios com ABS numa plataforma com idade tão avançada, mas a bem da verdade esse é o menor dos problemas. A viabilidade técnica existe, mas apesar do ABS ter uma inegável utilidade o airbag acabaria sendo como enxugar gelo.
Alguns questionariam o layout de cabine avançada, usado nas Effa ULC e na Towner Junior, por impedir o uso de zonas de deformação programada, embora alguns reforços estruturais pudessem auxiliar na absorção e redistribuição de impactos.

Em outros modelos, como a Hafei Towner e a Chang'An Star baseadas numa versão mais recente da Suzuki Carry, o layout de cabine semi-avançada oferece um maior potencial para melhorias no âmbito da segurança. A plataforma mais recente já até prevê a instalação do sistema ABS e do airbag, suprimidos nas cópias chinesas mais simples e atualmente obrigatórios no mercado japonês.

No caso específico das Chang'An Star, vale destacar que algumas versões destinadas aos Estados Unidos, onde são autorizadas apenas para o uso em locais fechados ao tráfego, e nem sequer são homologados pela NHTSA (National Highway Traffic Safety Administration - Administração Nacional da Segurança do Tráfego Rodoviário) para uso em vias públicas, sempre foram disponibilizadas com um sistema de ABS mecânico semelhante ao que vem sendo adotado em motos chinesas, e muito usado em aviões de pequeno porte desde os anos '50.

Com pouca oferta de veículos para transporte de até 6 passageiros além do motorista (embora no máximo 5 passageiros ainda tenham conforto razoável), e a grande maioria dos seven-seaters disponibilizada em segmentos mais prestigiosos, e portanto de alto custo, acaba ficando aberto um nicho para as microvans chinesas, algumas delas com preço favorável até mesmo em comparação a um hatch "popular" de fabricação brasileira.
E apesar de um acréscimo no custo de aquisição que obviamente acompanharia a disponibilização de freios com ABS e airbag, ainda assim se posicionariam como uma opção atraente. As dimensões compactas também favorecem a manobrabilidade em áreas urbanas.
A importadora CN Auto, que desde 2008 comercializa a Towner (conhecida em outros mercados como Hafei Miniy), chegou a planejar a instalação de uma linha de montagem para os pequenos utilitários em Linhares, no Espírito Santo, usando peças chinesas mas também incorporando componentes de fabricação nacional, visando enquadramento no Novo Regime Automotivo (Inovar Auto), com início da produção local inicialmente previsto para 2015. Como há viabilidade técnica para a aplicação dos equipamentos atualmente obrigatórios, não parece haver tanta dúvida quanto à continuidade da oferta desses modelos no mercado brasileiro.

Cabe salientar que a CN Auto também comercializa no Brasil a van de grande porte Jinbei Haise, baseada numa geração anterior da Toyota HiAce e renomeada localmente como Topic, que já conta com ABS e EBD em outros mercados com características socioeconômicas semelhantes à problemática realidade brasileira, como a África do Sul e as Filipinas.

Fabricantes como a Shineray e a Rely (uma divisão da Chery destinada à fabricação de utilitários) chegaram mais recentemente e tentam se diferenciar da imagem de mera cópia de uma Suzuki Carry ao oferecer cabines um pouco mais encorpadas e acabamento interno com desenho mais elaborado, e também ganham força nesse segmento que vem se destacando pela competitividade, justificando o investimento nas atualizações necessárias para cumprir as novas exigências de segurança. Vale lembrar que a Shineray já está construindo uma fábrica em Pernambuco, e a Rely pode usar as instalações da Chery em Jacareí-SP.

O público brasileiro demonstrou grande receptividade aos utilitários chineses de pequeno porte, e um mercado com volumes de vendas como o nosso não deve ser visto com descaso. Apesar da complexidade e custo a serem acrescentados para cumprir as atuais normas de segurança, pode-se dizer sem medo de errar que o futuro para esses veículos ainda pode ser promissor...