sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Uma reflexão sobre a recente proposta de "renovação de frota"

É esperado que o governo federal anuncie ainda nesse mês um plano para desovar os estoques encalhados nos pátios das fábricas de automóveis instaladas no país a tal "renovação de frota" que vem sendo tão falada desde uns 18 anos atrás, até certo ponto semelhante ao programa "Cash for Clunkers" ocorrido nos Estados Unidos durante o primeiro mandato do Barack Hussein Obama Junior, também conhecido como Barry Soetoro ou Abu Hussein. No entanto, além dos custos que uma medida semelhante acarretaria caso realmente venha a ser implementada no Brasil, está longe de ser coerente não só com a realidade econômica dos cidadãos que viriam a ser diretamente afetados mas também diante de outros fatores como as condições de ruas e estradas e a baixa qualidade de insumos como combustíveis, lubrificantes, entre outros. E para piorar, o preço dos carros 0km atingiu patamares absurdos. Até carros ditos "populares" com motor 1.0L como o Volkswagen Fox já passaram dos R$50.000,00...
Além de carros serem uma gorda "vaca leiteira" devido ao volume de impostos arrecadado não apenas nas vendas quando novos mas também ao longo do tempo com taxas, licenciamento e o IPVA, este por sua vez atrelado a um valor venal atribuído ao veículo e que acompanha a depreciação média no mercado de usados, não seria de se duvidar que um jogo de interesses com os principais sindicatos de metalúrgicos figure como um dos principais motivos por trás do repentino fortalecimento de articulações políticas visando uma "renovação de frota" nesse momento de crise institucional pelo qual passa o país. Tentar desviar o foco dos escândalos de corrupção e do sucateamento da infra-estrutura do país comprando a lealdade de uma massa de manobra, iludindo uma parte mais humilde e influenciável da população e tentando desesperadamente melhorar a imagem do governo junto a investidores parecem ser os principais pilares do programa, que no entanto vai se revelando muito mal-formulado, e insustentável desde o princípio.

Um dos maiores erros é classificar arbitrariamente em função da idade quais veículos seriam considerados um "lixo" cuja circulação em vias públicas possa ser tida como indesejável, sem uma distinção pelo estado de conservação que no fim das contas é o que deveria balizar uma proposta séria no âmbito da "renovação de frota". A intenção é que seja oferecido um bônus para proprietários de automóveis e utilitários com 15 anos ou mais que os entreguem para descarte e reciclagem dos componentes. No entanto, considerando que o projeto vem sendo feito para que a iniciativa privada pague a conta, e esta não tem como estourar orçamentos nem dar "pedaladas" fiscais, a previsão é que os valores dos bônus sejam irrisórios diante do preço que os veículos ainda poderiam alcançar no mercado de usados, ao contrário do que aconteceu com o "Cash for Clunkers". Os preços de modelos 0km com capacidades comparáveis aos que venham a ser substituídos também não é muito convidativo à adesão ao programa, embora pudesse ser complementado por algum incentivo fiscal semelhante ao que vem sendo conferido a veículos com o status de "ecológico" nos mercados europeu e americano, o que faria todo sentido ao recordarmos que um dos pretextos para a retirada de carros mais antigos de circulação é a maior emissão de poluentes atribuída aos mesmos. Mas é praticamente impossível que o governo do PT vá diminuir a gana arrecadatória, e assim pode-se dizer que o tal plano para "renovação de frota" já está fadado a nascer morto...
Para muitos trabalhadores autônomos que dependem dos carros até para o próprio exercício profissional, o custo da substituição por um 0km não seria rebatido tão rapidamente por uma alegada diminuição nas despesas com a manutenção e operação do veículo novo, e assim o impacto sobre o orçamento familiar viria a ser devastador. Quem em sã consciência tiraria um pão da boca do filho apenas para agradar a supostos "ecologistas" que ignoram o maior passivo ambiental da produção de um automóvel 0km diante da correta manutenção (ou mesmo eventuais retrofits que possam contribuir para uma "performance ambiental" mais favorável) de um modelo mais antigo e jogar dinheiro fora nos ralos da corrupção com um IPVA mais caro e que na prática não reverte em nenhum benefício para o cidadão? Quem seria imbecil o bastante para acreditar que uma parcela mais empobrecida da população que se vê empurrada para os carros "velhos" por necessidade daria conta de fazer a transição para o mercado de veículos novos sem cair numa bola de neve de endividamento? Na melhor das hipóteses, muitos acabariam migrando para as motocicletas...
As motocicletas acabam por ser convidativas a uma reflexão mais profunda em torno de algumas pautas defendidas pelos simpatizantes da "renovação de frota". Analisando o aspecto ambiental, não podemos esquecer que a quantidade de insumos requeridos para a produção de uma motocicleta popular e peças de reposição que venham a ser usadas ao longo da vida útil operacional vai acabar sendo menor em comparação a um carro, bem como o consumo de combustível mais contido, e também é relevante destacar que a maior presença da injeção eletrônica e do catalisador no segmento motociclístico derruba alegações de que uma moto seria proporcionalmente tão poluente quanto um carro "velho". Já no tocante à segurança, o mais provável é que o tiro saia pela culatra, combinando fatores como a inexperiência de muitos que viriam a se tornar motociclistas novatos e os perigos inerentes às motocicletas. Também seria incoerente ignorar que as capacidades mais modestas de carga e passageiros acabariam por inviabilizar a troca por uma moto, do mesmo modo que ocorre até ao considerarmos a substituição apenas entre automóveis. Não adianta querer que uma alternativa idêntica sirva da mesma forma a consumidores com perfis diferentes.

 E mesmo com os custos de aquisição e manutenção pesando favoravelmente às motocicletas, e por extensão a triciclos, algumas circunstâncias fazem com que sejam encarados com ceticismo como uma alternativa para a "renovação de frota". Restrições ao transporte de crianças menores de 7 anos na garupa duma moto até são justificáveis, visto que mal alcançariam a pedaleira e teriam dificuldade para segurar-se no condutor ou em alças, mas a estupidez burocrática cria entraves até para que sejam levadas num side-car mesmo dispondo de cinto de segurança e sem esquecer do capacete. Se tal medida fosse minimamente coerente, também deveria ser aplicada a carros conversíveis trafegando com a capota aberta. Já a situação dos triciclos tem outras peculiaridades que dificultam a aceitação junto ao público em geral, como a cobrança do DPVAT no mesmo valor aplicado sobre as motocicletas apesar de terem uma propensão menor de se envolver em acidentes em comparação a estas, e o fato de ser exigida habilitação para condução de motocicletas sem fazer distinção entre capacidades de carga e cilindrada, mesmo que venham a se aproximar mais de um automóvel convencional de 4 rodas. A estabilidade , por si só, já seria um pretexto suficiente para reforçar a viabilidade técnica dos triciclos, que no Brasil ainda tem uma participação mais concentrada no mercado de veículos comerciais leves.





As condições operacionais às quais os veículos vão ser submetidos também são decisivas para avaliar as chances de sucesso ou fracasso de uma "renovação de frota". Desde o acesso à assistência técnica especializada quando venha a ser necessário, passando pelas características das vias de tráfego, são muitas as variáveis que os burocratas de plantão parecem não tratar com a devida atenção. Um exemplo a ser observado é o modismo de automóveis convencionais com uma aparência pretensiosamente off-road, que segue conquistando muitos adeptos desde "jipeiros de apartamento" até aos que apenas buscam uma sensação de mais conforto e segurança para enfrentar o deplorável estado de conservação de ruas e estradas. Poucos realmente contam com recursos que auxiliem a condução em terrenos hostis, sendo mais direcionados a um público urbano. Para exemplificar uma situação na qual a "renovação de frota" não faria nenhum sentido sob o ponto de vista prático, um pacato Fusca "Baja Bug" ainda é muito superior a um Volkswagen CrossFox em condições de rodagem severas, além de ter uma mecânica muito mais simples e fácil de efetuar reparos emergenciais no meio do mato.

Outro ponto que pesa contra a tão falada "renovação de frota" é o fato de muitos veículos de gerações anteriores terem dimensões mais compactas sem sacrificar tanto o espaço interno, como é o caso da antiga Asia Motors Towner. Em que pese a dificuldade crescente em encontrar peças originais para esse modelo, ainda tem uma concepção que torna fácil a aplicação de upgrades e adaptações com peças de carros (e até mesmo de motos) mais comuns no país, com chassi separado da carroceria, motor longitudinal e tração traseira. A facilidade para manobrar em espaços mais confinados favorece a agilidade em ambiente urbano, e o tamanho contido também contribui para uma maior fluidez no trânsito ao ocupar menos espaço sobre o leito carroçável das ruas, além de facilitar o estacionamento em vagas mais apertadas e por extensão diminuir o consumo de gasolina não apenas por permitir que sejam feitas menos manobras mas também pelo menor tempo perdido rodando à procura de uma vaga. Há ainda outros modelos numa situação semelhante, em que a praticidade os mantém ainda interessantes mesmo diante de uma suposta dificuldade para manutenção, incluindo entre os exemplos o carismático Renault Twingo de 1ª geração. Ainda hoje eu lembro de um comentário "politicamente-incorreto" feito há quase 10 anos por um então colega de escola, cujo pai era proprietário de um Twingo e sempre enaltecia a combinação de um espaço interno maior do que a aparência do modelo pudesse sugerir e a facilidade em encontrar vagas para estacionar no centro de Florianópolis.

Enfim, o momento não é o mais propício para que se tente varrer para baixo do tapete da noite para o dia a atual situação de uma parte considerável da frota nacional, e as condições que vem sendo apontadas pelo governo para a condução do processo de "renovação de frota" se mostram totalmente alheias à realidade econômica e social do país. Seria muito mais benéfico para todos, exceto os corruptos de plantão, que a incompetência administrativa hoje instalada no poder permanecesse mais afastada da economia. Ao invés de propor programas mirabolantes e insustentáveis, cujo custo acabaria por atingir toda a população e corroer ainda mais o poder de compra do trabalhador, o melhor e mais eficiente incentivo à modernização da frota passaria por uma redução na carga tributária incidente sobre veículos 0km, acompanhada de uma melhoria na conservação das vias públicas e na qualidade dos combustíveis, lubrificantes e outros insumos, e gradualmente o mercado se encaminharia de acordo com as reais necessidades e disponibilidade de recursos dos consumidores para irem deixando de lado os "sucatões"...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Foton Midi

Não é novidade que pequenos furgões são o primeiro passo para os fabricantes chineses irem ganhando espaço nos mercados da América Latina, mas o Foton Midi foge um pouco às configurações mais comuns dos utilitários chineses. Embora use componentes mecânicos copiados de algum fabricante japonês, no caso a Mitsubishi, e o desenho mesclando elementos de modelos tão variados quanto o Fiat Doblò e o Toyota Probox, tem motor transversal, tração dianteira e estrutura monobloco, ao contrário de tantos furgões chineses que são meras cópias da Suzuki Carry e recorrem a motor longitudinal com tração traseira e chassi tipo escada. O exemplar das fotos está emplacado no Uruguai, e apareceu recentemente em Florianópolis.