terça-feira, 22 de abril de 2025

GM: teria acertado mais que a Ford na abordagem inicial do downsizing nas caminhonetes full-size?

Uma categoria de veículos que teve origem essencialmente utilitária e profissional, mas que acabou por ser alçada a uma condição mais prestigiosa e focada também no lazer, as pick-ups full-size são hoje uma parte integrante daquele American Way of Life idealizado em muitos filmes de Hollywood, e lembradas principalmente pelo uso de sedentos motores V8 a gasolina, mesmo que alguns destinos de exportação como o Paraguai priorizem a opção por um turbodiesel. Mas experiências com o downsizing mediante o uso do turbo em motores a gasolina com quantidade menor de cilindros também ganharam destaque, a exemplo de um motor de 2.7L e apenas 4 cilindros que tem sido oferecido desde 2019 para a Chevrolet Silverado 1500, inicialmente como alternativa a um V6 de aspiração natural e 4.3L que acabaria por ser efetivamente substituído já em 2021 pelo motor menor. Naturalmente uma parte mais conservadora do público nos Estados Unidos ficaria receosa tão somente em função da menor quantidade de cilindros, e em alguns mercados de exportação onde motores de 6 a 8 cilindros são vistos como inerentemente mais prestigiosos também poderiam compreender mal a iniciativa da General Motors, mesmo que na prática possa fazer mais sentido essa configuração em vez de fazer um V6 na mesma faixa de cilindrada usando o turbo para oferecer um desempenho comparável ao de motores maiores naturalmente aspirados.

Enquanto poderia ser esperado que um motor de 6 cilindros em V usasse um par de turbocompressores com tamanho menor, de modo que cada um estaria associado a uma bancada de 3 cilindros para ter uma pressurização ao menos teoricamente mais rápida em comparação a um único turbo como no motor que é oferecido para a Chevrolet Silverado 1500, hoje a tecnologia está bem mais avançada em comparação a 1983 quando o tricampeão de Fórmula 1 Nélson Piquet alcançou o bicampeonato pela Brabham com um motor BMW que também tinha "só" 4 cilindros e um único turbo maior que os usados aos pares em motores V6 da concorrência. Também chama a atenção o motor GM L3B de 2.7L ter sido desenvolvido desde o início para dispor do turbo, a exemplo do que já vinha ocorrendo com motores Diesel ao menos duas décadas mais antigos nas mais diversas categorias de veículos, e já em 2022 passou a contar com uma calibração cujo torque ficava competitivo com o V8 de 5.3L oferecido como opção intermediária entre os motores a gasolina, além de superar com mais folga o antigo motor 4.3 V6 cuja substituição era almejada com o motor TurboMax de 2.7L e 4 cilindros. Chama a atenção como o motor mais moderno e desenvolvido de acordo com as premissas do downsizing, mesmo que a intenção inicial de substituir um motor mais austero levasse a crer que o molho ficaria mais caro que o peixe, permaneceu associado ao câmbio automático de 8 marchas e mesmo assim seguiu competitivo quanto ao desempenho e consumo de combustível na maioria das condições normais de uso diante do V8 de 5.3L e aspiração natural que já lança mão de um câmbio automático de 10 marchas cuja única aplicação em associação ao TurboMax é em versões dos SUVs full-size Chevrolet e GMC específicas para exportação à China motivadas pela menor incidência de impostos atrelados à cilindrada que seriam um problema por lá com os motores V8.
Chama a atenção que a abordagem da GM com relação à quantidade de cilindros pode ser interpretada de uma forma tanto ambígua, considerando uma austeridade que possa ser vista pelo motor TurboMax ter somente 4 cilindros e por extensão um processo de produção mais racional ao dispor de menos peças móveis como o cabeçote único e somente 2 eixos de comando de válvulas em comparação aos motores EcoBoost V6 oferecidos na Ford F-150 e contando com 2 cabeçotes e 4 eixos de comando de válvulas, embora o EcoBoost Nano na mesma faixa de cilindrada de 2.7L e o EcoBoost de 3.5L compartilhem o projeto básico com os motores Cyclone V6 de 3.3L a 3.5L naturalmente aspirados que foram oferecidos na F-150 até serem efetivamente substituídos pelo EcoBoost Nano a partir de 2023. Também é digno de nota o TurboMax inicialmente desenvolvido para ser um motor básico ter plenas condições de atender a necessidades de quem normalmente opta por um motor V8 intermediário de aspiração natural, como o 5.3 que a Chevrolet Silverado 1500 dispõe na especificação brasileira ou o 5.0 que a Ford usa na F-150 destinada ao Brasil mesmo quando países vizinhos como o Uruguai recebem o EcoBoost 3.5 V6. Apesar da Silverado em alguns países dispor de um motor 6.2 V8 aspirado como a opção de desempenho mais vigoroso, de certa forma denotando uma abordagem mais conservadora especialmente no uso particular ou recreativo, a Ford que foi a própria responsável por alçar os motores V8 de modo geral à condição de uma das expressões mais absolutas da americanidade tem priorizado o EcoBoost como opção de maior desempenho em versões sem um viés declaradamente esportivo.

A escolha de um motor pode refletir muito mais que as pretensões essencialmente utilitárias vinculadas à imagem de robustez e aptidão ao serviço pesado das pick-ups full-size, e aspectos essencialmente técnicos podem ficar em segundo plano diante da percepção de prestígio associada a determinadas circunstâncias ou um conservadorismo que rejeita "ousadias" como o turbo quando percebido como algo que demande manutenção mais criteriosa em contraste com a imagem de motores a gasolina naturalmente aspirados como mais confiáveis, extrapolando o conceito de there is no replacement for displacement associado tão visceralmente à cultura automotiva dos Estados Unidos. Por mais arriscado que seja substituir motores básicos por outros de concepção mais arrojada, tendo em vista a percepção de aumento do custo inicial bem como o viés eventualmente mais conservador do público-alvo comparado a quem opta por versões de pretensão mais esportiva ou luxuosa, a GM seguir por esse caminho mesmo começando mais tarde o downsizing nos motores de pick-ups full-size comparada à Ford que já o faz ao menos desde 2011 teve a particularidade de atingir até uma faixa intermediária do público mesmo com um único motor de concepção que pode ser apontada como mais modesta. Enfim, apesar do esforço inicial junto a uma parte mais conservadora do público, e alcançando quase por "acidente" clientes com outro perfil, pode-se deduzir que a abordagem inicial da GM quanto ao downsizing nas pick-ups full-size fez mais sentido que a da Ford.

domingo, 20 de abril de 2025

5 motores improváveis que poderiam ser tentadores para adaptar a um Volvo C30

Produzido entre 2006 e 2013 na Bélgica, com a Volvo Cars ainda estando controlada pela Ford, o C30 tinha um compartilhamento de componentes e sistemas com modelos Ford e Mazda na mesma categoria de hatch médio, e apesar da maioria dos motores a gasolina e um flex que foi oferecido na Europa terem 4 cilindros também teve um destaque especial com motores de 5 cilindros a gasolina tanto de aspiração natural quanto turbo, além dos turbodiesel entre 4 e 5 cilindros que nunca foram importados para o Brasil. Em função do perfil menos ortodoxo, e até esportivo, o Volvo C30 ainda me chama a atenção mais de 10 anos após o fim da produção. Quanto a motores, eventualmente poderia parecer boa idéia adaptar outro diferente dos originais se fosse o caso de comprar um exemplar cujo motor original precisasse de manutenções mais extensas. Ao menos 5 motores dentre os que me pareceriam convenientes para um repotenciamento merecem destaque...

1 - Volkswagen EA827/AP: motor muito comum para adaptações no Brasil, famoso pela rusticidade quando original e também por ser muito usado em preparações, pode atender tanto a perfis mais conservadores quanto para alto desempenho. O fato da Volvo em outros momentos históricos ter usado alguns motores Diesel de origem Volkswagen poderia até fazer soar menos incoerente considerar a hipótese de adaptar um motor Volkswagen mesmo que movido a gasolina ou flex, e no caso de um flex naturalmente ficaria interessante fazer testes com o álcool/etanol ao menos durante a safra da cana ou com o álcool produzido a partir de outros cultivares em escala experimental;

2 - Peugeot EW10: esse motor, tanto nas versões a gasolina quanto flex compartilha o projeto básico com um motor turbodiesel oferecido para o modelo no mercado europeu, logo a princípio já ficasse mais fácil adaptar. Também acabaria sendo oportuno para experiências com o álcool;

3 - Renault F4R: tendo em vista que a Volvo já teve vínculos com a Renault no mercado de automóveis, e outros motores da série F da Renault já tenham sido usados em alguns automóveis antigos da Volvo, em versões a gasolina ou a diesel. Outro precedente histórico a favor de um motor que já teve uma presença significativa no mercado brasileiro no caso de versões a gasolina ou flex;

4 - Ford Cologne V6: mais conhecido no Brasil pelo uso em caminhonetes e SUVs tanto da Ford quanto da Land Rover, além de versões do Mustang trazidas na década de '90 principalmente através de importadores independentes, poderia parecer mais difícil de adaptar a um modelo de tração dianteira e motor em posição transversal. Mas talvez pudesse ficar até interessante o aparente exagero ao tentar instalar um motor 4.0 V6 em um carro relativamente pequeno. O espaço sob o capô para implementar modificações também ficaria muito restrito;

5 - Mazda 13B: para chutar o balde e meter o louco, um motor absolutamente exótico. Um antigo vínculo entre Volvo e Mazda quando estavam sob direção da Ford, antes da Volvo Cars ter sido vendida para a Geely da China e a Mazda voltar a ser independente e agora ter colaborações mais estreitas com a Isuzu e a Toyota, até poderia soar tentador para fazer a adaptação, tendo em vista que tanto a Volvo quanto a Mazda tinham um perfil mais diferenciado, em contraste com o viés claramente generalista da Ford. Importar um motor Mazda 13B novo do Japão seria complicado, apesar da Mazda de vez em quando produzir lotes para atender a um público fanático pelos motores Wankel, mas há uma grande variedade de empresas especializadas em suporte e reposição de peças para os motores Wankel da Mazda, além do mercado de preparação muito amplo especialmente nos Estados Unidos e na Austrália. E por ser um motor tão compacto, a ponto de em muitos exemplares modificados ser comum o uso de um turbo maior que o próprio motor original, a princípio o volume ocupado pela instalação seria o menor dos problemas.