sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Analisando uma propaganda de 2014 da Yamaha XTZ 125 exibida nas Filipinas

A presença global de fabricantes japoneses de motocicletas, fortalecidos por uma imagem de qualidade que se mantém relevante mesmo com a ascensão das inúmeras cópias chinesas de modelos até bastante conhecidos do público brasileiro nos segmentos de pequena cilindrada, às vezes proporciona surpresas como encontrar no YouTube uma peça publicitária destinada a promover a Yamaha XTZ 125 num país tão distante quanto as Filipinas. Uma trail de concepção tradicional, que foi lançada em 2002 no Brasil e viria a se tornar um sucesso também em outros países latino-americanos à medida que o cerco contra as motos com motor 2-tempos sob alegações de um impacto ambiental exacerbado forçava a Yamaha a priorizar os motores 4-tempos em toda a linha, também ganhou espaço na Ásia a partir de 2014 quando houve o lançamento da XTZ 150 Crosser no Brasil e uma parte maior da produção da XTZ 125 passou a ser concentrada na China e de lá era exportada até para o Japão onde está sediada a Yamaha. Embora a fabricação brasileira proporcionasse qualidade inegavelmente superior comparada ao modelo chinês, o custo da mão-de-obra escrava e algumas facilidades logísticas para o frete marítimo saindo da China foram determinantes tanto para a XTZ 125 permanecer em catálogo em alguns mercados regionais que a recebiam do Brasil quanto para ter uma maior presença na Ásia, e um exemplo da expansão mundial é a propaganda que foi apresentada em 2014 nas Filipinas:

Logo de cara, o cenário off-road com o piloto todo paramentado fazendo algumas manobras ao trafegar por um trecho de montanha, enquanto algumas legendas destacam características técnicas relevantes à proposta de uso misto da Yamaha XTZ 125, contrastam com as propagandas que apelam mais para o emocional e a compra por impulso como vemos no Brasil, e francamente me agrada essa abordagem mais direta e sem tantas filigranas. As condições de terreno na localidade escolhida para as filmagens, com alguns trechos abertos e outros consideravelmente mais estreitos em meio a desníveis, ressaltam características como a agilidade que se deseja apresentar entre as vantagens oferecidas por motos dessa categoria. À medida que a propaganda de aproxima do fim, com o piloto já no cume de uma montanha em posição contemplativa após tirar o capacete e observando desde uma águia voando próxima a ele até um grande lago margeado por montanhas, é que são apresentados slogans como "The off-roads are your roads" denotando claramente a proposta da Yamaha com esse modelo, e no fim "Revs your heart" que é o slogan institucional da divisão motociclística da Yamaha, antes de ser destacado no último slide com um fundo preto o fato das cenas terem sido feitas por um piloto profissional em área fechada.

Com os sons de fundo misturando uma música instrumental num ritmo adequado às cenas de ação e um ruído de motor que foi mais destacado em alguns momentos onde aparentemente se desejava transmitir a idéia de uma aceleração vigorosa, até faz algum sentido considerar que esse arranjo tenha algum apelo mais emocional que racional. Levando em conta que aparentemente com um intuito de enfatizar a idéia de esportividade foi usado o som de algum motor 2-tempos, como o das Yamaha DT 125 e 175 que têm na XTZ uma sucessora indireta, cabe uma ressalva por eventualmente induzir uma parte do público ao erro, além do mais que os dizeres "4-STROKE" nas aletas laterais montadas no tanque de combustível aparecem sem tanto destaque, e a única menção explícita a alguma característica do motor é quando as legendas mencionam o eixo interno de contrabalanceamento e a partida elétrica reduzindo os ruídos e vibrações. Mesmo com o som do motor destoando do original da moto apresentada, certamente foi útil tanto para transmitir uma sensação de velocidade quanto para quebrar aquela sensação de se estar assistindo a um filme mudo do Charles Chaplin acompanhado de alguma música instrumental.

Uma propaganda de bom gosto e com o devido destaque ao que realmente importa, com uma qualidade comparável à que se costumava atribuir à publicidade brasileira quando ainda havia uma liberdade para abordar alguns tópicos de certa forma controversos sem apelar à baixaria ou ao "politicamente-correto". Até o erro nos efeitos sonoros, com o "ronco de DT" que possivelmente fosse até mais fácil de gravar e sincronizar com o vídeo que o do motor original, é perfeitamente assimilável para o público generalista que dê menos importância a esse tipo de preciosismo. Se um anúncio nesses mesmos moldes tivesse sido feito no Brasil, possivelmente teria também um resultado satisfatório, impressão essa que me foi reforçada por de já terem aparecido alguns brasileiros na seção de comentários desse vídeo no YouTube questionando em português sobre o "barulho de DT" e também alguns hispânicos salientando esse aspecto, mesmo tratando-se de um anúncio destinado ao público filipino.

2 comentários:

Xracer disse...

Kamikase, no meu entender a propaganda é desonesta, por apresentar uma moto de baixa potencia e torque, subindo morros com suposta agilidade e com o barulho do motor de uma moto com muito mais torque e potencia do que essa 125. Ja peca ai. No Brasil uma propaganda assim seria um tiro no pé, por todos os motociclistas, principalmente os "Yamaheiros". Definitivamente, se moto 125 fosse adequada para off-road não precisava nenhum fabricante fazer modelos de 250,350,600,900 ate mais ainda com proposta off-road. Esse modelo é só para os de "orçamento apertado" andar na cidade aguentando os buracos e crateras e um fora de estrada leve para chegar na chácara.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Toda propaganda tem algum segredo, e vale lembrar do caso de uma concessionária da Honda nos Estados Unidos que equipou por conta própria alguns modelos com o que se conhece por lá como "cheater sprocket", buscando alcançar um público que procurava por motos simples e baratas para uso off-road recreativo e leve. Quanto à aptidão da XTZ para subir trechos montanhosos, a princípio a maior limitação é exatamente o motor, embora eu lembre de um gordo gente boa que tinha uma XTZ 125 só para trilha, e eu conheci ele num clube onde nós tínhamos aula de educação física. Se a XTZ dava conta dele nas trilhas em algumas cidades próximas a Florianópolis, e naturalmente sem exagerar na velocidade, já podia ser considerada boa para um iniciante. Mas o som na propaganda foi provavelmente o erro mais grave, embora perdoável.

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