quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Triciclos: alguns mitos cercam a questão da segurança desses veículos


Um dos motivos que leva à crença de que os triciclos são inseguros é a facilidade com que o modelo "Cavalo de Ferro", produzido pela extinta Renha durante a década de 80, época áurea dos veículos fora-de-série, tinha para empinar. A concentração de peso sobre o eixo traseiro, já característica dos modelos Volkswagen com o qual compartilhava motor e câmbio, foi acentuada no modelo. Alguns acidentes chegaram a ocorrer, inclusive um que acabou custando uma perna ao jornalista Wagner Montes, à época jurado do Show de Calouros apresentado pelo Sílvio Santos, causando grande comoção popular na época e trazendo grandes danos à imagem de tais veículos, perdurando até os dias de hoje ainda que em menor intensidade.



Apesar do trágico acontecimento, os triciclos continuam até hoje sendo considerados opções interessantes de veículos de lazer, unindo a sensação de liberdade de uma motocicleta com mais estabilidade. Embora a motorização Volkswagen continue sendo bastante popular nesse segmento, algumas atualizações no projeto dos chassis melhoraram o equilíbrio dos veículos. Diga-se de passagem, atualmente motores mais pesados que o bom e velho boxer refrigerado a ar vem sendo mais usados, e sem um bom projeto tal concentração e a transferência de peso durante as arrancadas seriam mais intensas que no antigo Renha...
Não se pode negar que os triciclos constituem uma boa opção para transporte de cargas, e já eram usados para essa finalidade antes mesmo que a vocação como veículo de lazer fosse popularizada. Modelos como o Piaggio Ape auxiliaram na reconstrução da Europa logo após a II Guerra Mundial devido ao custo operacional reduzido e simplicidade do conjunto mecânico. Ainda hoje é bastante popular, chegando a ser usado até para venda ambulante de alimentos e bebidas como acontece no Brasil com modelos como Fiat Fiorino e Asia Towner.

Já o mercado brasileiro apenas agora volta os olhos para a utilidade desse tipo de veículo. Entretanto, a maioria dos modelos é baseada em adaptações a partir de motocicletas, e mesmo alguns que já saem de fábrica como triciclos acabam oferecendo um posto de condução tão exposto quanto numa moto. Enquanto num veículo de lazer tal característica é considerada "parte do show", num veículo de trabalho um pouco mais de conforto e segurança seriam bem-vindos. O problema é que a atual legislação de trânsito brasileira restringe a utilização de triciclos com cabine fechada em vias expressas, enquanto versões sem cabine não sofrem essa restrição. Vale destacar que apesar disso alguns modelos conseguem manter velocidades compatíveis com o tráfego rodoviário, que exige uma velocidade mínima igual à metade do limite máximo.

É possível para um triciclo atender às necessidades de um consumidor que hoje, por interesses diversos, se vê obrigado a recorrer a um carro 1.0  (o triciclo da foto apresenta um motor 4 vezes menor e pesa cerca de 1/3 do que um hatch "popular") ou a um "sucatão" usado, eventualmente em estado precário de manutenção. Ainda há quem acabe usando uma motocicleta, efetivamente mais perigosa que um triciclo por ser conduzida em equilíbrio precário desafiando as leis da física e sofrendo mais com os efeitos de ventos laterais, que ainda promovem um desgaste mais irregular dos pneus.
Fica ainda mais difícil levar os triciclos a sério com a forma caricata com que são apresentados por programas como o Top Gear, que embora não seja regularmente transmitido para o Brasil (exceto por operadoras de TV por assinatura que ofereçam transmissão da BBC) tem alguns episódios legendados em português no YouTube. No vídeo a seguir, o apresentador Jeremy Clarkson, com um senso peculiar de humor associado à elegância esperada de um lorde britânico, satiriza a estabilidade do Reliant Robin, modelo ainda bastante popular na terra do Austin Mini (apesar de custar mais que o famoso compacto, chegou a ter bastante popularidade em uma região de mineração devido à facilidade com que se deslocava após nevascas) apesar de não ser produzido a alguns anos.
Mas não há quem me convença que, apesar do cockpit não estar alinhado à roda dianteira, algum lastro foi colocado para facilitar os tombamentos, que foram todos para o mesmo lado. O mercado britânico foi bastante receptivo a triciclos após a II Guerra Mundial, e até hoje tais veículos são beneficiados com impostos menores por serem considerados motos. Haviam desde modelos como o Reliant Robin até os chamados "reverse trike", com duas rodas dianteiras e uma traseira motriz, com uma estabilidade até melhor em altas velocidades, tanto que até a consagrada fábrica de automóveis esportivos Morgan já chegou a produzir modelos nessa configuração.

Apesar de alguns mitos ainda persistirem, triciclos constituem uma opção suficientemente segura para atender a necessidades de transporte pessoal, de passageiros (tanto no uso familiar quanto como táxi ou como veículo para passeios turísticos), ou cargas leves.

12 comentários:

Joel disse...

Você não acha que já temos problemas demais no trânsito, com tantas motos e carros com 1.0? Esse tipo de veículo pareceu uma solução de emergência, como nos carros americanos feitos com madeira no tempo da guerra.

Você parece gostar destes veículos, mas achei eles quase tão frágeis quanto motos. Achei terrível o veículo do primeiro vídeo. Parece não haver conforto nenhum.

Eu preferi um carro usado com motor 1.8 do que um novo 1.0 e não me arrependo da escolha. Me arrependo apenas dos políticos que votei pois graças a eles o número de carros e motos aumenta a cada dia.

É incrível ter que passar 4 horas todo dia em um engarrafamento.

Desculpe pelo longo comentário

adolfschartner disse...

Hoje em dia já é bem mais comum ver triciclos na rua do que uns 5 anos a traz. Me refiro aos que fazem pequenas entregas rápidas como gás de cozinha, água mineral etc. Mas são todos derivados de motos e sem coberturas para os condutores.

Javier disse...

Hay muchos triciclos chinos con cabina en Uruguay. Son una buena opción por lograr una capacidad de carga liviana por un precio más bajo que un Fiorino o una Saveiro. Y hay desde versiones con un cockpit más automovilístico a otras con manubrio de moto.

João Henrique disse...

Esses triciclos parecem meia boca mas se pelo menos são baratos de manter é melhor que alguns carros podres de tanta ferrugem que ainda se arrastam e pifam do nada no meio da rua.

Newdelia disse...

Acho triciclos uma delícia e deveriam ser populares. Para o lazer é ótimo e pq não para outras finalidades? Deveriam substituir as motos de entregas que são uma joça.
Em Piracicaba é muito comum vê-las circulando e lá mesmo tem gente que os fabrica por encomenda. O duro é legalizar o coitado. Haja paciência para tanta "burrocracia".

Abçs.

Anônimo disse...

não me parece uma coisa mto responsável colocar a família toda num troço desses

Thaísa disse...

Se ficar fazendo brincadeira e palhaçada enquanto dirige até carro com airbag fica perigoso.

Rafael disse...

legalzinho esse ape, parece uma espécie de fiorino de 3 rodas

Anastacio Gomez disse...

Me gusta ese Piaggio Ape, no es malo para reemplazar a una moto con sidecar o a un hatchback.

José Lourenço disse...

Podem até dizer que é perigoso mas deve ser divertido dirigir esse tal desse Reliant.

Letícia disse...

Para mim um carro daria despesa demais mas eu tenho muito medo de andar de moto, principalmente depois que um primo meu teve uma perna amputada depois que um motorista bêbado passou por cima das canelas dele. Será que dava de adaptar uma capota fechada num desses triciclos que andam montando com moto?

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Até teria como adaptar uma cabine totalmente fechada, mas há alguma dificuldade em função da necessidade de um isolamento termoacústico ao redor do motor e eventualmente um reposicionamento do tanque e do bocal de abastecimento.

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