terça-feira, 16 de junho de 2020

3 pretextos para preferir um motor com menos cilindros

Às vezes pode parecer que a quantidade de cilindros vá ser especialmente determinante para algumas características de um motor, desde a suavidade de marcha até a eficiência geral, passando pelo custo de fabricação. Um exemplo interessante foi o do motor BMW M10, usado em modelos como o 1602 da década de '70 e cujo bloco também serviu de base para o motor M12 destinado à Fórmula 1 com o qual Nelson Piquet conquistou o 2º de 3 campeonatos na categoria em '83 com apenas 4 cilindros em meio aos V6 que dominavam a primeira "era turbo". Mas nem mesmo algumas vitórias na vitrine de tecnologia automotiva que a Fórmula 1 representou durante algumas décadas conseguiram convencer o público generalista de que um motor com menos cilindros possa ser efetivamente melhor em alguns casos, embora haja uma série de outros pretextos mais práticos que possam ressaltar tais condições.

1 - menos partes móveis: além do custo envolvido nos processos industriais de forja e usinagem que a produção de uma maior quantidade de componentes acarreta, não se pode ignorar reduções no atrito e na inércia que por exemplo um comando de válvulas mais simples, compacto e leve já proporciona, bem como efeitos na economia de combustível e redução de emissões. Não é à toa que às vezes um motor mais pé-duro com 4 cilindros como o Cummins ISF2.8 que equipa o caminhão Volkswagen Delivery 6.160 parece uma opção razoável apesar da potência e torque desproporcionalmente mais modestos em comparação a um V6 de 3.0L como o Ford Lion/Jaguar AJD ainda usado no Land Rover Discovery 5 Td6 cuja complexidade é bastante conhecida. Só pelo ISF2.8 ter os 4 cilindros dispostos em linha, já tem um cabeçote a menos, e ainda tem um eixo único de comando de válvulas enquanto o AJD V6 tem 2 para cada cabeçote, totalizando 4 eixos de comando;
2 - avanços na mitigação do turbo-lag: naturalmente quando um motor com os cilindros em V usa 2 turbocompressores de tamanho menor em cada bancada ao invés de um único pode parecer melhor, tendo em conta a mitigação do turbo-lag tanto devido ao posicionamento mais próximo aos coletores de escapamento quanto por terem uma menor inércia individual, mas não cabe ignorar que um turbo único com tamanho maior possa proporcionar bons resultados num motor com 4 cilindros em linha tanto por já estar mais próximo do coletor de escape quanto por ser possível recorrer a uma turbina twin-scroll ou "bipulsativa" que proporciona maior eficiência na pressurização. E apesar de que as tubulações mais complexas que a configuração twin-turbo requer, bem como resfriadores de ar (intercooler) separados para cada linha de pressurização, não há impedimento para que seja usada em motores com os cilindros em linha, de modo que seria tecnicamente possível até mesmo uma eventual nova geração de motores turbodiesel com 4 cilindros comparável ao Cummins ISF2.8 substituir o AJD sem deixar saudades;

3 - refrigeração mais homogênea: não é novidade que o Fusca e outros modelos equipados com o motor Volkswagen boxer de 4 cilindros refrigerado a ar costumam apresentar uma deficiência na refrigeração, de modo que frequentemente o 3º cilindro costuma apresentar temperaturas mais altas que os demais.
Irregularidades no percurso do ar de impacto ao redor das camisas de cilindro e dos cabeçotes seriam menos intensas num motor boxer de 2 cilindros por exemplo, e não há impedimento para a produção de motores flat-twin refrigerador a ar e óleo com uma cilindrada compatível a um bom desempenho num modelo do porte do Fusca, tomando por referência o bom e velho motor BMW "oilhead" que tão bem serviu a motocicletas como a BMW R 1150 GS;

Naturalmente é impossível estabelecer uma verdade absoluta no tocante a motores, como a própria BMW Motorrad demonstra ao abranger desde as G310 R e GS com o motor de 1 cilindro projetado originalmente em função de atender às condições de mercado da Índia numa parceria com a empresa TVS até a opulência das K1600 com um glorioso "seis canecos" que já seria capaz até de movimentar um carro de porte médio. Mas a princípio, assim como a BMW demonstrou numa circunstância mais extrema ao levar um motor com 4 cilindros à glória máxima do automobilismo na década de '80, uma solução técnica mais modesta como recorrer a uma quantidade menor de cilindros pode servir bem a algumas utilizações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, comente apenas em Português ou em Espanhol.

Please, comment only in Portuguese or Spanish.
In doubt, check your comments with the Google Translate.

Since July 13th, 2011, comments in other languages won't be published.