sábado, 3 de outubro de 2020

E se a Rede Globo sair do ar, as afiliadas ficariam numa situação tão problemática?

Já não é de hoje que a Rede Globo tem uma hegemonia entre as redes de televisão questionada no Brasil, tanto com a ascensão da Record desde que foi adquirida pelo bispo Edir Macedo na década de '90 quanto pelo SBT que sustentou por muitos anos a vice-liderança na audiência durante a semana mas chegando a liderar aos domingos. Com a ascensão da internet quebrando a hegemonia de narrativas esquerdistas que ecoavam através das novelas e outras produções da Globo lançando modas, e os recentes embates com o presidente Jair Bolsonaro após o corte de verbas publicitárias estatais que sustentavam uma estrutura mais inchada em comparação à concorrência, soa menos improvável das 5 emissoras próprias da Rede Globo perderem também a preferência de anunciantes particulares, além da briga com o governo soar ainda mais estúpida à medida que a concessão se aproxima de expirar e portanto uma renovação pode ser dificultada. Mas num país com dimensões continentais como o Brasil, naturalmente as afiliadas são uma peça chave para a programação da Globo alcançar uma grande área de cobertura, e tanto uma adesão mais estrita ao chamado "padrão Globo de qualidade" quanto a dependência pelas novelas para consolidar a audiência são de certa forma um empecilho para a inserção de conteúdos regionais.

Por outro lado, convém destacar que algumas afiliadas como a EPTV que atende a uma parte do estado de São Paulo e o sul de Minas Gerais e a RBS do Rio Grande do Sul que também chegou a ter uma presença em Santa Catarina tornaram-se verdadeiras potências no audiovisual, e até mesmo fornecendo um suporte técnico tanto no Brasil quanto no exterior para a produção de documentários exibidos em rede nacional no Globo Repórter. Naturalmente, podem haver divergências caso duas ou mais emissoras regionais com uma grande área de abrangência precisem somar esforços para preencher as lacunas que surgiriam nas próprias grades de programação e ainda fornecer conteúdo para outras afiliadas, embora seja impossível negar que a maior proximidade geográfica da EPTV com relação São Paulo que por sua vez é hoje o maior mercado publicitário a nível nacional torna-se uma vantagem para definir qual seria mais provável de assumir a posição de cabeça de rede. Ainda assim, e considerando também eventuais impactos das migrações entre diferentes regiões eventualmente fomentando um interesse em conteúdos da Amazônia ou do Nordeste no eixo Rio-São Paulo ou pela música nativista e outros aspectos culturais gaúchos no Paraná e no Mato Grosso por exemplo, não soa tão improvável que se conseguisse veicular uma programação com bom potencial para atrair tanto o público quanto anunciantes, sem a necessidade de entrar em litígios pela propriedade intelectual de matérias já exibidas em rede nacional sob domínio da Globo ou por direitos de transmissão de "enlatados" estrangeiros.

A implementação do sistema Sat HD Regional, se por um lado acarretou num custo maior tanto para as afiliadas quanto para algumas emissoras próprias da Rede Globo em função da necessidade de alugar os transponders em satélites, por outro proporciona um maior poder de negociação junto aos anunciantes regionais em virtude da cobertura nas respectivas áreas de atuação onde anteriormente o sinal de satélite da Globo do Rio de Janeiro com cobertura nacional inviabilizava as exibições de publicidade específica para cada região. Tal situação poderia gerar conflitos de interesses caso ocorra mesmo o encerramento da concessão da Globo, se as afiliadas que já aderiram ao Sat HD Regional deixarem de codificar os próprios sinais visando restringir as áreas de cobertura, mas também pode ser interessante para usuários de receptores de televisão via satélite que desejem assistir a uma programação mais regional, a exemplo de alguns gaúchos insatisfeitos com o fim da exibição do Galpão Crioulo em Santa Catarina quando a RBS vendeu a operação em Santa Catarina para a NSC e restringiu novamente a área de atuação ao Rio Grande do Sul. Já havia ocorrido um conflito entre a própria Globo e a empresa proprietária da afiliada cearense TV Verdes Mares, também proprietária da TV Diário que oferece uma programação regional que também atraía o público de outros estados da região Nordeste e nordestinos dispersos pelas demais regiões brasileiras antes de precisar rescindir os contratos com as poucas afiliadas fora do Ceará e ter o sinal de satélite codificado em 2009 por exigência das Organizações Globo.

De fato, a cobertura da Rede Globo por todo o Brasil e tendo alcançado também regiões de fronteira em países vizinhos através do sinal FTA de algumas afiliadas antes que tivesse início a implementação do sinal digital já ditou modas, e que me perdoem os cariocas que ainda preservem um resquício de valores morais mas também presta um grande desserviço ao Brasil ao exaltar os estereótipos da malandragem carioca através das novelas e da "carioquização" do Carnaval por todo o país. Um país com culturas tão distintas não deveria manter-se refém da exaltação à mediocridade que vem sendo especialmente nociva aos mais pobres que antes não tinham a mesma facilidade de acesso à informação, e ainda sofre com o terrorismo midiático que segue tentando calar a voz de cidadãos honestos e trabalhadores que já não se sujeitam com a mesma facilidade de outras épocas a um monopólio da opinião. Enfim, com a ascensão de concorrentes a nível nacional e também a dependência por suporte técnico e logístico de afiliadas em algumas coberturas especiais mesmo extrapolando as respectivas áreas de abrangência, a Rede Globo já dá indícios de que não é mais necessária para garantir a viabilidade econômica das operações de atuais afiliadas.

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