quinta-feira, 2 de março de 2023

Polo Track: vencida a última barreira para a Volkswagen do Brasil ter uma linha mais próxima à de mercados internacionais?

Com a árdua missão de substituir o Gol, que na prática era o último resquício de quando a Volkswagen do Brasil podia e até precisava direcionar-se mais a projetos com um viés especificamente "emergente", o Polo da geração atual recebeu a versão Track visando atender a uma parcela mais austera do público da marca no país. Com o motor 1.0 apenas em versão sem turbo e o câmbio manual de 5 marchas, e um acabamento com simplificações bastante nítidas mas sem aparentar qualquer perda de qualidade, o Polo Track a princípio se destaca em comparação ao Gol por ter o projeto ainda atualizado diante das versões "normais" produzidas tanto no Brasil quanto em outras regiões, aparenta mais aptidão à utilização como carro familiar que o up! anteriormente apresentado com uma proposta de atender ao público tradicional do Gol, mas que havia falhado exatamente pela falta de uma percepção de polivalência necessária a um modelo que se propõe a ser "popular" de acordo com as peculiaridades do mercado brasileiro.

Em que pese os hatches estarem em desfavor aos olhos do público generalista, e mais recentemente as restrições ao uso de veículos dessa categoria como táxi ao menos nas principais capitais acarretarem nas perspectivas de mercado à primeira vista mais restritas, o fogo amigo que o Polo já apresentava sobre as versões mais sofisticadas (ou melhor dizendo menos depauperadas) do Gol justificou até a atualização da fábrica de Taubaté para atender ao maior rigor dos padrões internacionais que já eram aplicados para a fábrica de São Bernardo do Campo. Alterações discretas na altura de rodagem, bem como a calibração dos sistemas de controle de tração e estabilidade para atenderem com mais desenvoltura a condições de rodagem ainda muito comuns no interior, e que em outro momento histórico serviram para justificar um retorno do Fusca às linhas de produção durante o governo Itamar Franco mesmo quando o Gol já estava bem consolidado junto ao público generalista, denotam a importância que a "tropicalização" ainda tem, e reforçam a impressão que a Volkswagen busca "marcar território" com um modelo que acena para um perfil "histórico" de clientes que ainda comparam até os modelos mais recentes de qualquer automóvel generalista ao Fusca. E mesmo que alguns possam considerar uma "economia porca" alguns detalhes do acabamento, claramente simplificado como na ausência de pintura nas maçanetas das portas, e também o uso de rodas com 4 parafusos ao invés de 5 e os freios traseiros a tambor, são reduções de custos que se revelam perfeitamente aceitáveis aos olhos do público específico que essa versão precisa buscar com o fim da produção do Gol, e estão longe de comprometer a segurança e o conforto em uso normal.

Mesmo que em outras regiões como a Europa o Polo tenha perdido a opção pelo motor 1.0 MSI com a mais recente reestilização, enquanto o TSI permaneceu e até chega a me remeter a uma antiga intenção da Volkswagen de abolir os motores de aspiração natural a nível mundial, convém destacar que o Polo Track dispensar o turbo ainda faz sentido tanto pelo custo quanto pela manutenção mais simples, tendo em vista que modelos turbo são mais vulneráveis a danos causados por descuidos quanto à observância de especificações do óleo lubrificante e respectivos intervalos entre as trocas. Lembrando que em outros mercados principalmente na América Latina e África o motor 1.0 TSI também é preterido, por motivos que vão desde a tributação menos atrelada à cilindrada até exatamente a percepção de uma facilidade de manutenção e ficar livre do turbo-lag, e o motor 1.6 MSI oferecido no Polo brasileiro até 2022 ainda ser decisivo para outros modelos conseguirem uma participação de mercado em outros países, é impossível justificar alegações que o Volkswagen Polo Track estaria fora de contexto no tocante a um alinhamento efetivo da operação brasileira do fabricante com o que acontece em mercados internacionais. Enfim, em que pese substituir um modelo como o Gol que ainda tinha boa presença junto a clientes empresariais e outros com um perfil igualmente austero, aparentemente um alinhamento da Volkswagen do Brasil com mercados internacionais inclusive entre os mais rigorosos parece transpor uma das últimas barreiras.

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