quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Por que o conceito dos motores LiquidPiston parece fazer sentido?

Um daqueles projetos que visam assegurar uma continuidade do motor de combustão interna de médio a longo prazo, o motor LiquidPiston pode ser visto a grosso modo como uma evolução do conceito dos motores Wankel, cujo único fabricante a alcançar efetivamente algum sucesso comercial foi a Mazda, e ainda assim com algumas ressalvas. Enquanto nos motores Wankel é usado um rotor triangular alojado dentro de uma carcaça com formato ovalado, com o movimento do rotor delimitando as 3 câmaras nas quais ocorrem etapas distintas do processo de combustão em um ciclo 4-tempos de ignição por faísca, o projeto da LiquidPiston tem o rotor com formato oval e a carcaça triangular por fora mas com o interior dividido em 3 câmaras nas quais o processo completo de combustão ocorre de forma independente das demais câmaras. Logo pode ser apontada uma grande vantagem do motor LiquidPiston em comparação ao Wankel, que é a possibilidade de desenvolver taxas de compressão mais elevadas, sendo apropriado tanto para operar como um motor 4-tempos de ignição por faísca quanto para variações no ciclo Diesel, que são o principal interesse das forças militares dos Estados Unidos inicialmente para uso em grupos geradores portáteis e também em aeronaves não-tripuladas (drones) dada a viabilidade de abastecer com querosenes de aviação e simplificar a logística de combustíveis nas zonas conflagradas.
Embora na fase de conceito ainda sejam apresentadas versões do motor LiquidPiston com somente um rotor, o projeto prevê alguma escalabilidade tanto no uso de conjuntos de rotor e alojamento de tamanho maior para cobrir as mais diversas faixas de cilindrada nas aplicações dos motores de combustão interna quanto eventuais motores com uma quantidade maior de rotores, tal qual ocorria com a Mazda na época que oferecia os motores 13B de 1.3L com 2 rotores e 20B de 2.0L com 3 rotores, sem levar em conta as experiências independentes com motores Wankel baseados nos Mazda 13B e 20B mas com quantidades até exorbitantes de rotores em aplicações de alto desempenho. Mas considerando apenas aplicações dos motores LiquidPiston com ignição por faísca, que parecem mais próximas de alcançar o grande público generalista até pelo fato da aspiração atmosférica e da injeção indireta permanecerem viáveis nesse tipo de motor mesmo que tenham sido basicamente eliminadas dos motores Diesel veiculares, mesmo com o avanço do turbo e da injeção direta motivado mais pela incidência de impostos atrelada à cilindrada em alguns dos principais mercados automotivos mundiais, a escancarada simplicidade construtiva pode ser especialmente vantajosa para contornar os custos crescentes de dispositivos de controle de emissões que vão ficando mais sofisticados e excessivamente custosos para uso em motores convencionais, além do porte compacto de um motor LiquidPiston em proporção às respectivas faixas de potência facilitar uma integração em veículos de diferentes categorias e atender também a equipamentos especializados para os quais às vezes até um motor 2-tempos soa praticamente impossível de substituir...
Mesmo que a indústria automobilística tenha sido historicamente um tanto refratária a tecnologias que foram desenvolvidas por outsiders, e os motores LiquidPiston até o momento apresentados tenham sido incompatíveis com turbocompressores devido à lubrificação por injeção de óleo sem recirculação, cabe destacar que só de ter solucionado o problema dos retentores apicais que fez a má fama dos Wankel já é um grande avanço, bem como proporcionar o efeito Atkinson tão explorado nos veículos híbridos, e por ter uma lubrificação mais simples também pode ser melhor adaptável ao ciclo de operação intermitente ao qual o motor de um veículo híbrido costuma ser submetido em meio ao trânsito urbano. Lembrando ainda da adaptabilidade a diferentes combustíveis, eventualmente até mesmo o etanol tão difundido no Brasil ou os mais diversos combustíveis gasosos indo do gás natural ou biometano ao hidrogênio verde que voltou às pautas de "descarbonização", seria no mínimo uma insensatez daqueles proponentes mais fervorosos da eletrificação impositiva ignorar os motores LiquidPiston e tanto uma efetiva necessidade de usuários de veículos de trabalho quanto a própria liberdade de escolha de quem preferir motores de combustão interna. Enfim, por mais que alguns setores da mídia e algumas alas políticas apregoem que o motor de combustão interna de modo geral seja um "vilão" contra uma falsa sustentabilidade pautada na hipocrisia, o conceito da LiquidPiston faz sentido como um contraditório diante do ecoterrorismo.

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