sexta-feira, 8 de julho de 2011

Motores Diesel refrigerados a ar: uma boa opção tratada com descaso

Num tempo em que cada vez mais se fala em "consciência ambiental", "consumo consciente" e outras expressões "ecológicas" da moda, chega a ser um tanto curioso ver como alguns dispositivos de tecnologia mais "bruta" vem perdendo espaço no mercado mundial, apesar de algumas vantagens. Um caso peculiar envolve os motores Diesel refrigerados a ar, hoje praticamente restritos ao uso como ferramenta agrícola ou industrial, e persistentemente na linha de caminhões Tatra produzidos na República Tcheca.


Vale destacar que, mesmo refrigerado a ar e com injeção 100% mecânica, o motor feito pela empresa dispõe de versões homologadas nas normas ambientais Euro-4 e Euro-5, ainda que tenha sido necessário recorrer ao SCR (também conhecido comercialmente como AdBlue) como fizeram concorrentes renomadas, entre as quais se destacam Mercedes-Benz, Volvo e Scania.

Considerando a reciclabilidade no momento do descarte outra vantagem se reflete na ausência do fluido de arrefecimento, simplificando o processo de manejo de resíduos químicos potencialmente nocivos ao ambiente. Mesmo que já tenha se tornado praxe falar em motor "refrigerado a água", uma série de aditivos é misturada, dificultando o tratamento posterior da mesma. Ainda com relação ao motor Tatra, por não ter módulos de controle eletrônicos como os concorrentes, fica isento do famigerado e-waste.

Outra empresa que ainda hoje tem uma boa reputação nesse segmento é a Deutz, que desde 1942 até 2003 fez história equipando os famosos caminhões Magirus-Deutz (a partir da década de 80 renomeados IVECO, e tendo os motores refrigerados a ar disponibilizados apenas para mercados de exportação na África e Ásia a partir da 2a metade da década de 80), bastante usados por corporações de bombeiros - no Rio Grande do Sul ainda tem alguns operando, pelo menos em Pelotas, Venâncio Aires e Candelária.


Apesar de não ter tanto prestígio no mercado brasileiro, motores da marca produzidos em Haedo, na Argentina, chegaram a ser usados em versões dos caminhões Agrale série DX brasileiros destinados à exportação, sobretudo em versões de 4 cilindros da série 913 (por volta de 4.0L), com turbo e potências entre 102cv e 120cv. Segue em oferta uma versão do motor direcionada especificamente ao uso veicular, assim como na China inúmeras fábricas copiam os projetos da Deutz.

Enquanto isso, no mercado local, só o MWM série 229 em versões de 3 cilindros (3.0L) e 67cv - com refrigeração líquida - reinou absoluto por bastante tempo nos Agrale DX.
Alguns modelos mais leves anteriormente oferecidos pela Agrale na série TX chegaram a usar um motor 1.3L de 2 cilindros e 40cv refrigerado a ar, originalmente projetado pela Hatz e hoje ainda bastante usado em barcos e aplicações estacionárias/industriais (com potência reduzida para 30cv). Ainda que seja um tanto áspero e pesado, supreendentemente tem uma potência específica que não é tão inferior às versões a diesel da série EA-827 de 4 cilindros produzidas pela Volkswagen, o famoso "AP a diesel", que na versão 1.6L de 50cv chegou a equipar a folclórica Kombi. Curiosamente, a refrigeração líquida acabou causando constrangimentos à Volkswagen devido aos inúmeros casos de superaquecimento e queima de juntas de cabeçote em exemplares do furgão equipados com o referido motor.

Com uma maior simplicidade, ainda se eliminam as perdas parasitárias provocadas pela "bomba d'água" essencial num motor de refrigeração líquida. Pode parecer insignificante num primeiro momento, mas já ocorre economia na produção, manutenção e operação do motor...

Outra vantagem dos motores Diesel refrigerados a ar é a combustão mais completa, devido a uma temperatura operacional mais alta que podem atingir, aproveitando melhor o combustível e reduzindo a emissão de material particulado, a tão execrada "fumaça preta" que ainda faz a má fama dos Diesel no Brasil. Acaba melhorando até o funcionamento com óleos vegetais brutos (tanto virgens quanto saturados), reduzindo o fenômeno da polimerização da glicerina que pode ocorrer quando não há o correto pré-aquecimento do óleo. Não custa nada lembrar que isso NÃO ocorre com o biodiesel, isento de glicerina.

Apesar disso, é considerado mais difícil regular a temperatura de um motor refrigerado a ar. Enquanto num motor de refrigeração líquida é possível pré-aquecer o fluido de arrefecimento antes da partida e restringir sua circulação por meio da válvula termostática, num refrigerado a ar o principal parâmetro é o óleo lubrificante, cuja circulação deve estar desimpedida para evitar atritos excessivos. Até é possível restringir o fluxo de ar ao redor do radiador de óleo com coberturas retráteis, e desacoplar temporariamente a turbina de ventilação (ou substituir por uma elétrica acionada por termostato, como se usa na maioria dos automóveis novos e até em algumas caminhonetes full-size modernas) para que o bloco e o(s) cabeçote(s) esquentem adequadamente e transfiram calor para o óleo. Outro aspecto favorável à refrigeração líquida é o menor nível de ruídos, mais "abafados" pelo fluxo de líquido nas paredes do bloco e em galerias de refrigeração no(s) cabeçote(s), ainda que os motores diesel sejam naturalmente mais ruidosos.

Na prática, ainda há um amplo mercado que realmente deseja uma maior oferta de motores Diesel refrigerados a ar, para atender a uma maior diversidade de aplicações, apesar do atual desinteresse da indústria.

17 comentários:

Walther disse...

Chegaram a tentar produzir no Brasil uns ônibus com chassi Magirus e motor Deutz, mas não deu tão certo justamente por causa da temperatura dos motores ser bastante elevada. Mas ainda fazem algum sucesso na Argentina, vários tratores ainda usam motor Deutz e até algumas caminhonetes Ford F1000 lá é fácil de achar com adaptação desse motor.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Eu até já vi fotos de um ônibus nacional com chassi Magirus-Deutz e carroceria feita pela CAIO, e até onde eu me lembre o chassi era montado no Nordeste com motores da série 413 importados da Alemanha. Quanto à Argentina, já me falaram que já tem F250 com motor Deutz adaptado por lá - tem quem use até mesmo aquela versão de 3 cilindros agrícola.

Dieselboy sa Maynila disse...

Isuzu tambien llegò a hacer motores diesel enfriados por aire. Acerca de los Deutz, ya hay muchas de esas imitaciones hechas en China en barcos. Tras unos dias un cliente del taller estaba con ganas de cambiar el motor Isuzu C240 en un jeepney por una de esas copias chinas del Deutz F3L913.

Mário Sérgio disse...

Se o povão nunca reclamou do Fusca e das motos serem refrigerados a ar fica difícil entender como por aqui não fez tanto sucesso esse tipo de motor.

Kim Sun-Yoong disse...

Para caminhonete de serviço ainda não existe motor melhor que Deutz. Não sofre por variação de temperatura ambiente, resiste a operação em ambientes severos, economiza combustível e simplesmente não tem despesa com aditivos ou reparos em radiador.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Tem toda razão, Mário.

Kim, eu nunca tive a oportunidade de usar um motor Deutz, mas realmente só de não necessitar todo o sistema de circulação de líquido já facilita até a logística de reposição de peças.

Thiago Barbosa disse...

O motor a AR é uma boa em trajetos longos em lugares quentes, não sou contra.

A VW foi preguiçosa por não lançar kombi diesel a ar

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

E olha que durante a década de 50 chegaram a testar um motor boxer a diesel de 1300cc refrigerado a ar, com desempenho equivalente ao conhecido 1200 a gasolina.

Christyjan disse...

Estoy utilizando un motor refrigerado por aire a mi Volkswagen Transporter convertida al biodiesel. Mi motor es una unidad estacionaria hecha en Polonia pero se está de pie OK para aplicaciones automotrices livianas. Un solo cilindro, 900cc y 18ps.

Alfredo Cunha disse...

Se esse motor da Agrale não fosse tão pesado ficaria bom de adaptar num Chevette ou até num Gol caixa.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

No caso do Chevette até não deve ser tão difícil, devido à tração traseira aumentar as opções de câmbio e diferencial possíveis de se usar, e como não é incomum encontrar Chevettes com motores adaptados de outros modelos, incluindo o V6 da Blazer e até o clássico "6 canecos" do Opala, eu acredito que o peso não vá ser um problema tão gritante se a instalação for bem feita.

Israel Mendes disse...

Eu já vi uma Caravan rodando com um motor a diesel de 3 cilindros refrigerado a ar, mas não sei a marca do motor. Não tinha muita velocidade mas solta na estrada e consegue fazer 25km com 1 litro de diesel e na cidade não faz menos de 18 nem amarrada.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Era bastante comum o uso de motores estacionários a diesel em carretas frigoríficas para acionar o equipamento de refrigeração enquanto o caminhão estivesse desligado, e genericamente tanto o refrigerador quando o motor eram às vezes citados genericamente como "Thermo King", mas uns motores que foram bastante usados em aparelhos dessa marca foram os Ruggerini e Lombardini.

Anônimo disse...

tenho uma kombi diesel furgao 84, gostaria de colocar outro motor diesel nela, preciso de uma orientaçao onde compro, qual o melhor modelo dizem de um modelo argentino 2.0, por favor me ajudem obrigado

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Até onde eu me lembre, o dito "motor argentino" é o 1.9 SDI, de 64cv com injeção direta e fluxo cruzado, usado em Gol, Parati, Saveiro, Polo, Spacefox e mais alguns outros modelos. Tem versões turbo (TDI), as mais comuns indo de 95 a 130cv, que era usado no Golf exportado para a Argentina. Podem ser encomendados em qualquer concessionária da Volkswagen, já que são produzidos em São Carlos-SP, além de estarem disponíveis em lojas especializadas em autopeças, como a Crestana, de São Paulo.

Unknown disse...

Alguem tem experiência em instalação de motores refrigerados a ar em embarcações???

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

É uma configuração bastante comum em embarcações de pesca artesanal.

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