Um tema que desperta opiniões um tanto conflitantes, a importação de carros usados já faz parte da realidade de alguns países vizinhos como o Paraguai e pode ser considerada um sucesso. No entanto, qualquer proposta nesse sentido que seja apresentada no Brasil ainda enfrenta muita resistência, tanto por aqueles que alegam um risco de transformar a frota circulante no país em algo mais próximo de um depósito de lixo quanto por sindicalistas que alegam defender o emprego dos operários brasileiros quando na verdade estão somente com medo de perder uma boquinha. Em meio a esse cenário, e às críticas que se revelam bastante infundadas, quem mais sai prejudicado é o consumidor brasileiro que deixa de contar com algumas opções que poderiam atender mais efetivamente às condições de uso em comparação ao que os fabricantes e importadores oferecem regularmente.
A alegação de que uma eventual liberação da importação de automóveis usados poderia transformar o Brasil num grande ferro-velho começa a cair por terra quando observamos a defasagem técnica entre alguns modelos de fabricação nacional e os similares estrangeiros, e um dos casos mais emblemáticos foi a Kombi. Por mais que tenha contribuído e muito com a economia do país, não se pode fazer vista grossa para o descaso da Volkswagen com relação ao público brasileiro, evidenciado pela versão que recebeu apenas uma pequena reestilização durante a década de '70 ter seguido em produção já durante a 2ª metade da década de 90, quando a 3ª geração que nunca chegou a ser oferecida no Brasil já tinha saído de linha na Europa. A comparação fica ainda pior quando lembramos que esse mesmo modelo ainda estava à frente da Kombi em termos evolutivos quando deixou de ser produzida na África do Sul em 2003. Logo, o que poderia parecer "lixo" para alguns ainda serviria muito bem para muitos operadores brasileiros que não tiveram acesso a essas versões quando novas.
O preço é sem sombra de dúvidas um grande atrativo para muitos compradores de carros importados usados no Paraguai, com destaque para modelos japoneses como o Toyota Corolla RunX, mas não é o único. A qualidade construtiva dos carros japoneses de um modo geral os torna muito valorizados nos principais mercados mundiais, e a manutenção criteriosa à qual os veículos são submetidos no Japão traz uma maior tranquilidade em países que permitem a importação de usados com menos de 30 anos. É possível encontrar modelos pouco rodados e em estado de conservação muito acima da média de similares brasileiros numa mesma faixa etária, para não dizer até alguns mais novos que ainda ficam devendo em comparação a um "sucatão" japonês. Segurança e emissões podem suscitar ainda alguns questionamentos, mas cabe destacar que a adoção maciça de equipamentos como airbag e freios ABS já estava mais consolidada no exterior antes que se tornassem obrigatórios no Brasil somente em 2014, além de uma defasagem nas normas de emissões brasileiras em comparação aos países desenvolvidos, e portanto o que pode parecer "lixo" à primeira vista permanece mais competitivo que um carro brasileiro comparável em tamanho e classe ou só em preço mesmo...
Também seria conveniente salientar que uma liberdade para importar carros usados faria sentido no âmbito da livre circulação de produtos entre os países do Mercosul, o que poderia até facilitar o acesso a alguns modelos já disponíveis no Uruguai como os Chevrolet N300 Max e Sail chineses equipados com motores S-TEC muito mais modernos que os SPE/4 que equipam os modelos brasileiros de proposta mais parecida. Mesmo que acabasse sendo necessário emplacar o veículo num país vizinho antes de importar por mera formalidade para que chegasse ao Brasil como usado e eventualmente não ter de recolher outro imposto de importação por se tratar de um produto oriundo de fora do Mercosul, ainda faria sentido ao considerarmos as propostas de integração econômica que haviam norteado o bloco desde a ratificação do Tratado de Assunção. Enfim, uma liberação da importação de carros usados seria desejável como um notável avanço na liberdade de escolha.
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