quinta-feira, 7 de maio de 2020

Freios ABS em motos abaixo de 300cc: uma medida que seria coerente

O mercado brasileiro de motocicletas sofreu mudanças drásticas nos últimos anos, embora algumas circunstâncias como a liderança da Honda e a grande concentração em faixas de cilindrada menores permanecem constantes. E mesmo com o fim de versões de 125cc na linha Honda CG, que agora só é oferecida em versões de 160cc desde o modelo básico Start que tornou-se o único equipado com freio a tambor nas duas rodas, a demanda por motocicletas mais simples e utilitárias não recebe a atenção que seria necessária no tocante à segurança, o que é particularmente preocupante devido à penetração desse tipo de moto em aplicações profissionais que apresentam elevados índices de acidentes que até poderiam ser evitados de uma forma menos onerosa do que poderia parecer. A insistência em recorrer ao freio a tambor na roda dianteira é uma dificuldade para introduzir o ABS em motos com cilindrada abaixo de 300cc para as quais atualmente só é exigido o chamado CBS, que aciona ambos os freios ao mesmo tempo ainda que o piloto opte por acionar somente o manete do freio dianteiro ou o pedal do freio traseiro, tendo em vista que ao contrário de sistemas de freio automotivos um tambor usado em motos tem o funcionamento totalmente mecânico ao invés de incorporar o acionamento hidráulico que se tornou padrão nos freios a disco.

Outras versões da Honda CG já recorrem ao freio dianteiro a disco, mesmo que o traseiro ainda seja a tambor, o que já poderia ser um bom pretexto para considerar ao menos o uso de ABS monocanal na roda dianteira a exemplo do que já é obrigatório para as motos a partir de 125cc em outros países com predomínio de uma faixa modesta de cilindrada como ocorre na Tailândia e na Indonésia. Mesmo que num primeiro momento ainda possa haver questionamentos em torno do impacto no preço das motos básicas hoje oferecidas no Brasil, é importante recordar como a economia de escala proporciona uma amortização mais rápida de eventuais investimentos na nacionalização duma determinada tecnologia, bem como a melhor segurança proporcionada em situações de emergência nas quais um freio comum sem o sistema antitravamento não teria a mesma eficiência e ocasionaria um acidente. Além de ficar afastado do trabalho, um motociclista convalescendo de ferimentos graves ao necessitar de internação hospitalar mesmo que por poucos dias pressupõe um custo maior do que o investimento inicial num freio mais eficiente, o que já seria um pretexto razoável para o governo tornar obrigatório nas motos o freio ABS ao menos na roda dianteira considerando a economia nas áreas da saúde e da previdência social à medida que as motocicletas consolidam-se não só como instrumento de trabalho de motoboys para tornarem-se uma opção de mobilidade urbana também para profissionais de outros setores que já não conseguem se deslocar com a mesma agilidade num carro ou no transporte coletivo.

Na própria linha da Honda, também chama atenção a XRE 190 que mesmo com a viabilidade técnica proporcionada pelos freios a disco para incorporar o ABS em ambas as rodas incorpora o dispositivo apenas na dianteira, como a princípio soaria mais apropriado em modelos com freio traseiro a tambor acionado mecanicamente por varão impedindo aplicar o mesmo recurso também na roda traseira. Por ser um sistema bastante compacto e leve como pode ser observado na Honda XRE 190, e portanto ser facilmente adaptável mesmo em modelos que à primeira vista parecessem muito difíceis de aplicar o ABS monocanal não só no tocante ao incremento no custo inicial, torna-se praticamente impossível arranjar uma desculpa efetivamente válida para desacreditar as vantagens que o dispositivo oferece ao condutor e ao passageiro e/ou cargas a serem transportadas. No caso específico das motocicletas de uso misto on/off-road como a Honda XRE 190 até persistem algumas condições específicas que são até mais desfavoráveis ao CBS que a um ABS monocanal, como acionar isoladamente o freio traseiro nas curvas em trechos não-pavimentados para valer-se de uma derrapagem controlada visando reduzir o espaço necessário para as manobras, enquanto em outras circunstâncias o esforço mais severo que o freio dianteiro costuma sofrer justificaria priorizar a instalação do ABS na frente caso não houvesse a possibilidade de contar com esse dispositivo também atrás.

Tomando por referência a incorporação da injeção eletrônica até num modelo extremamente rústico como a Honda Pop 110i que ainda traz partida somente a pedal e usa somente uma luz de advertência de baixo volume de combustível em substituição à torneira que era usada nas motos equipadas com carburador ao invés de receber um marcador de combustível propriamente dito, pode ser considerado um precedente favorável a uma futura massificação do ABS mesmo nas motos mais básicas à medida que o tambor mecânico acionado por cabo perca espaço no freio dianteiro para o disco hidráulico. Há de se considerar motivos tão diversos quanto uma antecipação a normas mais rigorosas de controle de emissões que exigiriam restrições muito excessivas no tocante ao desempenho para que o carburador permanecesse aplicável numa moto de cilindrada tão pequena, mas é impossível ignorar que a maior presença da injeção eletrônica justificou-se tanto pela economia de escala quanto por uma expansão da oferta de assistência técnica qualificada para lidar com esse sistema, e portanto pode-se esperar um cenário também favorável para que a melhoria nos sistemas de freio alcance as motos utilitárias mais despretensiosas. Enfim, por mais que num primeiro momento pareça exagero, seria coerente o ABS ser incorporado em motos abaixo de 300cc também.

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