sábado, 11 de julho de 2020

Até que ponto a transição da disposição de motor longitudinal para transversal tornou-se um problema para o Gol?

Um dos maiores sucessos da Volkswagen no Brasil e em alguns mercados de exportação regional, e que chegou até em países como Rússia, China e Irã numa geração anterior, o Gol sempre teve aquele viés claramente emergente que só depois se tornaria uma prática corriqueira na indústria automotiva. O lançamento do Gol G5 em 2008, incorporando pela primeira vez a disposição de motor transversal que já havia se consolidado na concorrência e até em outros compactos da Volkswagen, repetia uma estratégia que já vinha dando certo desde a década de '80 ao reaproveitar e simplificar a plataforma de algum modelo anterior com presença internacional mais consolidada que no caso do G5 foi a PQ-24 do Polo. A ergonomia muito parecida com a de gerações anteriores, que ainda recorriam à disposição de motor longitudinal bem como mantinha as consequentes limitações que esse layout acarreta para o aproveitamento do espaço interno, mantinha aquela sensação de estar num modelo com o qual a parte mais conservadora do público já estava acostumada, mas consumidores com um perfil mais receptivo a compactos com motor transversal que não se apegavam ao nome consolidado do Gol no mercado já haviam passado a dar uma chance à concorrência.

Entre os apreciadores do Gol que priorizam o desempenho, o fato do G5 ter sido oferecido somente com motores EA-111 em versões de 1.0L e 1.6L desagradava alguns, mesmo que a princípio não seja tecnicamente inviável adaptar um EA-827 "AP" de 1.8L ou 2.0L por conta própria para tentar recriar algumas versões esportivas que marcaram época em outros períodos históricos. E mesmo a alegação da disposição de motor transversal favorecer a eficiência do conjunto de transmissão não convence a todos, tendo em vista que na época do motor longitudinal os semi-eixos dianteiros eram simétricos e assim não ocorria o torque-steer, que é quando um lado "puxa" mais numa aceleração mais intensa e costuma afetar mais exatamente veículos com o motor posicionado transversalmente. De fato, para o público generalista essa característica se mostra irrelevante na maior parte das situações, e também é relativamente fácil de compensar mediante o uso de um contrapeso no semi-eixo mais curto, logo não seria de se esperar que uma rejeição muito expressiva ao Gol G5 pudesse se originar somente devido à alteração na disposição do motor, mesmo sendo a mudança mais drástica já ocorrida na história do Gol desde o início do ciclo evolutivo ainda na década de '80.

Certamente o fato de ter sido assumida uma estratégia conservadora e claramente destinada a países emergentes, que por si só a princípio soa pouco convidativa ao desenvolvimento de versões especiais que pudessem atrair um público mais exigente no tocante ao desempenho e experimentasse melhor as características dinâmicas dessa configuração, contribuiu para que o Gol deixasse de ser tão apreciado por uma classe média inebriada desde a reabertura do mercado automobilístico brasileiro na década de '90. A demora em oferecer um câmbio automático propriamente dito, enquanto o automatizado I-Motion que foi opcional em versões com o motor de 1.6L tornou-se alvo de críticas, também facilitou a ascensão de concorrentes em meio à maior aceitação do câmbio automático pelo público generalista no Brasil. Enfim, tendo em vista o foco mais direcionado a um perfil menos abrangente dentre tantos que se apegavam ao Gol pura e simplesmente pela tradição do modelo ou da marca Volkswagen, não é possível ter plena certeza de que a transição de motor longitudinal para transversal tenha realmente se tornado um problema para o G5.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, comente apenas em Português ou em Espanhol.

Please, comment only in Portuguese or Spanish.
In doubt, check your comments with the Google Translate.

Since July 13th, 2011, comments in other languages won't be published.