segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Veraneio azul do vizinho

Se existe um veículo nacional que ainda marca presença em qualquer situação, eu não tenho dúvidas que se trata da Chevrolet Veraneio, precursora do modismo dos SUVs de luxo mas que ainda preserva muito do aspecto utilitário. Um vizinho meu teve uma, azul com teto preto, combinação de cores que até poderia parecer mais improvável que caísse nos gostos de um colorado que do gremista que vos escreve, embora o que realmente me chamou a atenção foi quando o vizinho então recém chegado ao condomínio mencionou o motor Perkins Diesel que equipava a caminhonete ao invés de um Stovebolt Six sedento por gasolina. Quem me conhece sabe da minha predileção por motores Diesel, e alguém que compartilhava do apreço principalmente pela utilidade em detrimento da obsessão por desempenho que se tornou a tônica dos cowboys de posto fazia o assunto render cada vez que nos encontrávamos.

Conversas sobre regulagens de bicos injetores e limpezas do respiro do cárter tornaram-se frequentes ao longo de tantas vezes que nos víamos pelo bairro, a ponto de ter me acostumado a perceber quando era a hora de revisar o respiro do cárter por um cheiro característico de óleo lubrificante. Eu sempre ficava com a pulga atrás da orelha com relação ao eventual risco de uma pressão excessiva no cárter causada pela evaporação de uma parte do óleo pudesse induzir a um "disparo", que é a aceleração descontrolada de um motor e acontece com mais frequência nos Diesel que nos a gasolina, além do mais que esse meu vizinho tinha por hábito viajar para a cidade onde ele nasceu e morava antes de se mudar em definitivo para Porto Alegre com o intuito de ficar mais perto do trabalho. Naturalmente, além do encantamento pela Veraneio, também acabava havendo uma preocupação com o vizinho e a família dele, que também se tornou bastante próxima a mim ao longo dos 7 anos desde que chegaram ao condomínio.

Algumas lembranças vivem para sempre, mas não se pode dizer o mesmo de quem delas participa, e foi o que aconteceu nesse caso. Aquele vizinho gente boa, de quem eu nunca vi absolutamente ninguém ter um comentário desabonador a fazer (e que provavelmente, se o fizessem na minha presença, ficariam com alguns dentes a menos), morreu recentemente quando faltava pouco mais de 1 mês para completar 51 anos, vitimado por um câncer de rim. Gone, but not forgotten...

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